Ex-aluno do Porto Seguro pede apoio da Alemanha após racismo

Em carta enviada à agência responsável por escolas alemãs no exterior, advogado brasileiro solicita que órgão exija providências do colégio. Alunos trocaram mensagens racistas e de conteúdo nazista em grupo.

Um ex-aluno do Colégio Visconde de Porto Seguro em Valinhos, no interior de São Paulo, enviou nesta quinta-feira (03/11) uma carta à agência do Ministério do Exterior da Alemanha responsável por escolas alemãs em outros países denunciando o caso de racismo que ocorreu na instituição e pedindo que o órgão exija da escola uma estratégia para lidar com a situação e de prevenção.

O caso ocorreu no domingo, após o resultado das eleições, quando um aluno negro, de 15 anos, foi adicionado a um grupo no WhatsApp chamado “Fundação Anti Petismo”. No grupo com mais de 30 participantes, os estudantes trocam mensagens racistas, homofóbicas e de conteúdo nazista, além de compartilhar imagens e frases de Adolf Hitler e Benito Mussolini.

No grupo, os alunos defenderam a morte de nordestinos, a “reescravização do Nordeste” e organizaram uma manifestação golpista contra o resultado das eleições, programada para ocorrer no colégio no dia seguinte. Ao ver uma publicação com a imagem de Hitler e os dizeres “Se ele fez com judeus, eu faço com petistas”, o estudante negro alertou que aquilo era crime e foi bloqueado. Ele sofreu posteriormente ataques racistas no Instagram.

Na carta enviada à agência alemã, o advogado brasileiro Frederico Reichel pede que medidas sejam tomadas rapidamente. “As reações da escola até agora não deram a devida importância e podem ser resumidas como um distanciamento geral sem conteúdo. Isso é inaceitável por parte de uma escola que recebe diretamente subsídios e professores da Alemanha”, afirma Reichel, que foi aluno do Colégio Visconde de Porto Seguro de 1990 a 1998.

O advogado ressalta que uma escola de alunos de classe alta não poderia privilegiar ainda mais seus estudantes só para preservar a sua reputação institucional. “Por isso, peço encarecidamente que a agência exija do colégio uma estratégia clara para lidar e prevenir tais incidentes”, finaliza a carta.

Além da carta, ex-alunos do colégio fizeram ao menos um abaixo-assinado e uma carta aberta pedindo a apuração dos fatos e que a direção do colégio não se omita diante das graves denúncias. “Instituições que se eximem do combate ao racismo, à misoginia e ao discurso de ódio minam as bases de qualquer processo de ensino e aprendizagem. Essa omissão permite que um espaço de cuidado e acolhimento transforme-se em um território de medo e intimidações”, destaca um dos textos.

A carta aberta pede a responsabilização dos alunos envolvidos no episódio, o apoio da escola a vítimas de racismo no ambiente escolar, a criação de um grêmio antirracista e a adoção de cursos para a prevenção do racismo.

Posição da escola

Depois do episódio no WhatsApp, alunos do colégio também protagonizaram um protesto no interior da instituição contra o resultado das eleições. Durante o ato, eles xingaram o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seus eleitores.

A mãe do aluno que foi vítima de racismo denunciou o caso às autoridades. A Polícia Civil abriu um inquérito para apurar as denúncias.

Em nota, o Colégio Visconde de Porto Seguro afirmou que, no presente momento, pequenos grupos “estão se excedendo, infelizmente, em suas manifestações e atitudes, de forma polarizada e muitas vezes conturbada”.  A escola disse estar ciente sobre as “mensagens desrespeitosas” que foram publicadas e que contribuirá com a averiguação do caso.

O colégio afirmou repudiar “qualquer tipo de atitude ou manifestação ofensiva ou discriminatória” e estar comprometido “em construir uma sociedade livre de preconceitos”. O texto pede ainda que os pais monitorem as redes sociais dos filhos, os orientem sobre o respeito e lhes expliquem que “certas ações são passíveis de sanções legais”.

+ sobre o tema

Governo prevê mais de R$ 665 milhões em ações para jovens negros

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou, nesta...

A Sombra do Sonho de Clarice

O longa-metragem convidado para ser exibido no Lanterna Mágica...

Documento final da CSW leva parecer de organizações negras do Brasil

Em parceria estabelecida entre Geledés - Instituto da Mulher...

Refletindo sobre a Cidadania em um Estado de Direitos Abusivos

Em um momento em que nos vemos confrontados com...

para lembrar

Coalizão Negra registra queixa-crime contra Pazuello por racismo

Na quarta-feira (2), advogadas da Coalizão Negra por Direitos protocolaram...

A liberdade que meus filhos negros não terão

O episódio do instrutor de surfe Matheus Ribeiro, acusado de...

Remove, derruba ou segura a estátua?

A questão identitária gera embates no espaço público a...
spot_imgspot_img

Mãe denuncia que filha foi pisoteada e vítima de racismo em escola: “macaca”

Uma mãe de 43 anos de idade registrou um boletim de ocorrência no último dia 11 de março para denunciar ataques racistas feitos contra sua filha em uma...

Lideranças brancas têm responsabilidade na busca pela equidade racial

O Censo 2022 revelou um dado de extrema relevância histórica e simbólica: o total de brasileiros que se autodeclaram pretos cresceu 42,3% na comparação com a edição de...

Quem tem medo de literatura negra brasileira?

Palavrões, palavras de baixo calão e descrição de cenas sexuais. Qual adolescente brasileiro já teve contato com esse tipo de coisa? (Contém ironia) Pois bem,...
-+=