Exposição do Museu da Pessoa traz legado das Vidas Negras com recorte curatorial de Bel Santos Mayer

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Qual é o seu Legado? 30 anos de Museu da Pessoa no Brasil está em cartaz no Sesc Bom Retiro

O Museu da Pessoa apresenta, no Sesc Bom Retiro, a exposição Qual é o seu Legado? 30 anos de Museu da Pessoa no Brasil, em cartaz até dia 2 de abril. A curadoria geral é de Karen Worcman, diretora e fundadora do museu, além de Bel Santos Mayer, Cristino Wapichana e Diógenes Moura, que atuam como curadores convidados, com três focos temáticos: Vidas Negras, Vidas Indígenas, e Retratos do Brasil, com mais de 250 histórias representadas, entre fotos, trechos de depoimentos e recortes audiovisuais. 

A exposição é a primeira das atividades comemorativas dos 30 anos da instituição, um dos primeiros museus virtuais do mundo voltado a histórias de vida de pessoas comuns. Em seus 30 anos, o Museu da Pessoa – um acervo virtual e colaborativo – já registrou mais de 18 mil histórias que podem ser acessadas no endereço www.museudapessoa.org

Além deste acervo, registrado em áudio e vídeo, a instituição conta com 60 mil fotografias digitalizadas destes personagens, mostrando também o contexto de histórias possíveis do Brasil nos séculos 20 e 21. Para a exposição, a pergunta norteadora Qual é seu legado? traz o reconhecimento do valor humano histórico e social de cada pessoa.

Qual é o seu Legado (Foto: JR. Costa)

O colo, a casa e o quilombo na curadoria de Bel Santos Mayer

O recorte Vidas Negras, com curadoria da educadora social Bel Santos Mayer, traz as histórias de pessoas negras, cujo legados, transmitidos de geração a geração, são, na maior parte das vezes, não reconhecidos como valor e saber. Segundo a curadora, “vidas negras que carregam memórias dos afetos recebidos, dos espaços desejados e construídos. Depoimentos e imagens de pessoas pretas do acervo do Museu da Pessoa que remetem ao colo, à casa e ao quilombo. Vidas negras que desconstroem os imaginários de existências negras miseráveis, ausentes, precárias, perdedoras, abandonadas. Entre luta e festa, dor e amor, lágrimas e sorrisos, vidas reunidas e povoadas por palavras”. 

A curadoria de Bel buscou trazer tanto pessoas conhecidas nacionalmente, como é o caso de Emanoel Araújo, falecido recentemente, artista plástico e fundador do Museu Afro Brasil, e outras conhecidas localmente, como é o caso de Dona Edith, da Cooperifa, cujo sarau de poesias já acontece há mais de 20 anos no Bar do Zé Batidão, no Jardim Guarujá, próximo ao Capão Redondo, em São Paulo. O trabalho da curadora se estabelece a partir da sua pesquisa de campo e acadêmica, formada pelos três conceitos fundamentais de colo, casa e quilombo.

“Dentro do colo, fui procurando quais as histórias de vida traziam esse lugar do aconchego”, conta. Segundo ela, não havia a intenção de mostrar somente o aspecto das lutas estruturais que são importantes como legado, mas “trazer o que a gente, mesmo dentro das lutas grandes, traz no miúdo, no pequeno”, que é “onde estão as memórias”. 

“Nós temos memórias de quais foram os colos recebidos, desse aconchego”, afirma. “Cuidei para mostrar esse lugar de fala dos pais, trazer a presença paterna dentro das famílias negras, com imagens de homens com seus filhos”, diz Bel. 

“Depois do colo, veio a casa, como lugar de proteção e cuidado”. Bel entende a casa como lugar de proteção, e que muitas vezes vai se ampliando, construindo puxadinhos, e onde “sempre cabe mais um”. “Tem sempre o primo, a tia a avó, o vizinho, um que precisa migrar e se junta. E a casa vem sendo construída cheia de memórias, com os altares, os chás, as ervas de benzimento”. Nessas casas, segundo ela, “também tem as imagens das crianças em cima de lajes, nos quintais, com santos na parede”, conta. “E tem também a mesa, onde se come, mas também onde se costura e onde se conversa, e a cozinha, lugar que junta todo mundo”.

Por fim, depois do colo e da casa, vem o quilombo. “O quilombo é o lugar dos sonhos, o lugar de uma nova história que a gente vai escrevendo”. Um dos personagens que ela traz para a exposição é a Geni Guimarães, uma mulher de quase 80 anos, vinda de uma família de agricultores. Todos os irmãos trabalhavam na lavoura e ela foi a única a estudar para ser professora. Toda a família se empenhou para realizar o sonho dela. “A família inteira a protegeu para que ela realizasse o sonho de aprender a escrever e levar isso para outras pessoas”, conta Bel. “O quilombo traz essas pautas, mas são pautas carregadas de muito afeto”, afirma. 

“O quilombo traz o entendimento de que não falamos na primeira pessoa do singular. E também falamos do quilombo como um lugar político, trazendo o pensamento de Beatriz Nascimento e Lélia Gonzales”, conta Bel. “Ele não foi somente a fuga da escravidão, mas uma construção do modelo que queremos viver. A gente refunda um modelo de sociedade com as memórias”, finaliza a curadora.  

Qual é o seu Legado (Foto: JR. Costa)

Sobre as(os) curadoras(es)

Bel Santos Mayer é educadora social, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – IBEAC, co-gestora da Rede LiteraSampa, docente da pós-graduação Literatura para Crianças e Jovens do Instituto Vera Cruz. Mestra em Turismo (USP). Licenciada em Ciências/Matemática (USJT) e Bacharel em Turismo (UAM), com especialização em Pedagogia Social(UniSal). Curadora da 11ª Edição do Prêmio São Paulo de Literatura, do Conselho Curador do 63° e 64° Prêmio Jabuti e do Conselho Curatorial do Theatro Municipal de São Paulo. Prêmios recebidos: Retratos da Leitura no Brasil-2018; 67° Prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes na categoria “Difusão de Literatura Brasileira”.

Cristino Wapichana é escritor, músico, compositor, cineasta e contador de histórias. Patrono da Cadeira 146 da Academia de Letras dos Professores (APL) da Cidade de São Paulo. É autor do livro A Boca da Noite, traduzido para o dinamarquês e sueco, vencedor da Estrela de Prata do Prêmio Peter Pan 2018, do International Board on Books for Young People (IBBY); escolhido pela Seção IBBY Brasil para figurar a Lista de Honra do IBBY 2018:  Prêmio FNLIJ 2017 nas categorias Criança e Melhor Ilustração; Prêmio Jabuti 2017; finalista do Prêmio Jabuti 2019. Selo White Revens – Biblioteca de Munique – 2017. Medalha da Paz – Mahatma Gandhi 2014. Livros selecionados para o clube de leitura da ONU 2021.

Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor. Nascido em Recife, é semifinalista do Prêmio Oceanos 2022 com o romance Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina, (Vento Leste Editora). Em 2022, recebeu o Prêmio APCA pela pesquisa e curadoria da exposição Terra em Transe, realizada no Museu Afro Brasil, entre 2021 e 2022. Entre 1998 e 2013 foi curador de fotografia de Pinacoteca do Estado de São Paulo. É curador de importantes exposições no panorama da fotografia brasileira em instituições como MAM-RJ, Itaú Cultural, Sesc, MIS, Museu de Arte Contemporânea Dragão do Mar, Museu Afro Brasil e Museu da Fotografia de Fortaleza. 

Serviço

Exposição Qual é o seu legado? 30 anos de Museu da Pessoa no Brasil

Período expositivo: Até 02 de abril de 2023

Visitação: terça a sexta, das 9h às 20h; sábado, das 10h às 20h; domingo e feriado, das 10h às 18h 

Sesc Bom Retiro

Alameda Nothmann, 185 – Bom Retiro – São Paulo 

Entrada gratuita. Não é necessário realizar agendamento.  

Agendamento de grupos: [email protected]

*De acordo com novas diretrizes da Prefeitura de São Paulo, em função do aumento de casos de Covid-19, o uso de máscaras volta a ser obrigatório nas dependências do Sesc. 

Estacionamento

O estacionamento do Sesc oferece espaço para pessoas com necessidades especiais, carros de baixa emissão, carros elétricos e bicicletas. A capacidade do estacionamento é limitada. Os valores são cobrados igualmente para carros e motos. 

Entrada: Alameda Cleveland, 529.   

Valores: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2 por hora adicional (Credencial Plena). R$ 12 a primeira hora e R$ 3 por hora adicional (Outros). 

Valores para o público de espetáculos à noite: R$ 7,50 (Credencial Plena). R$ 15 (Outros). 

Assessoria de imprensa Sesc Bom Retiro

Geraldo Ramos Jr 

[email protected] e [email protected] 

11 3332-3738

Assessoria de imprensa Museu da Pessoa

Buriti Comunicação

Paula Corrêa | [email protected] | 11 9 8339-4867

www.buriticomunicacao.com

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