Para dar visibilidade – e tirar do apagamento – nomes, obras e histórias de negros, iniciativas culturais têm trabalhado para o resgate dessas jornadas, dessas pessoas, e se fazendo de eco para suas vozes. As exposições a seguir são alguns desses projetos.
Expo Consciência Negra
A Prefeitura de São Paulo lançou em 30 de agosto o projeto ‘São Paulo Farol de Combate ao Racismo Estrutural’ e, com ele, a Expo da Consciência Negra, com participação de artistas nacionais e internacionais. Segundo a secretária Marta Suplicy, a Expo será tecnológica e disruptiva. “É a visibilidade que se pretende dar à pauta antirracista desenvolvida na cidade”, explicou.
O evento vai promover um resgate da história brasileira, e, para isso, ressalta o protagonismo da população negra, destaca as diversas lutas por emancipação, equidade, e busca sensibilizar a população para os impactos e permanências da herança escravocrata em nossa sociedade. Tudo isso, a partir das linguagens e dos elementos do carnaval brasileiro. Terá também conferências com nomes de referência nacional e internacional e dará a oportunidade de fazer uma imersão cultural e experiências sensoriais.
A mostra será formada por 5 alamedas temáticas: educação, que vai recuperar a biblioteca de Timbuktu, criada no Mali em 800 A.C; saúde, com medicinas ancestrais e as contribuições das populações negras ao desenvolvimento da ciência moderna; cultura, com aspectos da cultura negra ao redor do mundo – ritmos, sabores, atores e atrizes que fizeram história; empreendedorismo e tecnologia, com as primeiras mulheres negras empreendedoras; e a alameda das Mulheres Negras onde haverá uma intersecção entre duas dimensões centrais: raça e gênero, destacando a presença delas em todos os espaços e campos de atuação.
Expo da Consciência Negra
19/11 para autoridades e convidados
20 e 21/11 para o público
Pavilhão 10 do Anhembi – Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana
Ocupação Sueli Carneiro
Filósofa, escritora e ativista antirracismo, Sueli Carneiro é considerada uma das principais autoras e vozes do feminismo negro no Brasil. A mostra vai mostrar toda a sua trajetória pessoal até hoje, aos 71 anos, e como se tornou ativista e uma das intelectuais mais atuantes e referenciais em atividade, além de ser uma das fundadoras do Geledés – Instituto da Mulher Negra, sempre pautada por quem a antecedeu e pautando gerações depois dela. Para sustentar toda essa história, a exposição volta à origem de Sueli, seu encontro com o Candomblé e sua simbologia, o desenvolvimento de seu pensamento intelectual, suas influências e pessoas influenciadas, além de memórias e afetos da infância, juventude e vida adulta, como a paixão pelo futebol.
São mais de 140 peças, entre fotografias da mídia e de seu arquivo, textos de sua autoria, artigos, livros, matérias, objetos pessoais e religiosos. Tem também cinco audiovisuais com depoimento de intelectuais e membros do movimento negro.
Ocupação Sueli Carneiro
Até 31 de outubro
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro Piso Paulista
Enciclopédia negra
A exposição torna pública 103 obras realizadas por artistas contemporâneos para um livro homônimo de autoria dos pesquisadores Flávio Gomes e Lilia M. Schwarcz e do artista Jaime Lauriano, publicado em março de 2021 pela Companhia das Letras. A mostra é um desdobramento da publicação e se conecta com a nova apresentação da coleção do museu, que se apoia em questionamentos contemporâneos e reverbera narrativas mais inclusivas e diversas.
No livro, estão reunidas as biografias de mais de 550 personalidades negras, em 416 verbetes individuais e coletivos. Muitos desses personagens tiveram suas imagens e histórias de vida apagadas ou nunca registradas. Para interromper essa invisibilidade, 36 artistas contemporâneos foram convidados a produzir retratos dos biografados. As obras, especialmente produzidas para o projeto, foram doadas ao museu pelos artistas e integrarão a coleção da Pinacoteca de São Paulo.
A mostra está dividida em 6 temáticas Rebeldes; Personagens atlânticos; Protagonistas negras; Artes e ofícios; Projetos de liberdade; e Religiosidades e ancestralidades. Esses núcleos misturam biografias de tempos históricos diversos, nas quais ressaltam aspectos em comum. Há registros de quem liderou movimentos de resistência; negociou condições de emprego e de vida; das mulheres que tiveram de ser separadas de seus filhos; das que, com seu trabalho, conseguiram comprar as alforrias; dos mestres curandeiros, dos professores, advogados, artistas, entre outros.
Exposição Enciclopédia negra
Pinacoteca de São Paulo – Até 8 de novembro
De quarta a segunda-feira, das 11h às 19h
Ingressos com horário marcado e vendas apenas pelo site https://www.pinacoteca.org.br
Praça da Luz 2, São Paulo
Livro: Enciclopédia negra, de Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia M. Schwarcz
R$ 89,90
Museu Afro Brasil – mostras permanentes e temporárias
Inaugurado em 2004, o Museu Afro Brasil construiu, ao longo de sua existência, uma trajetória de contribuições para a valorização do universo cultural brasileiro, destacando a perspectiva afro-brasileira na formação do patrimônio, identidade, memória, história e arte brasileira. Localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do Parque Ibirapuera, o museu conserva um rico acervo com mais de 7 mil obras de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XVIII e os dias de hoje.
Exposições permanentes. Com a missão de promover o reconhecimento, valorização e preservação do patrimônio cultural brasileiro, africano e afro-brasileiro, e sua presença na cultura nacional, o museu mantém uma exposição de longa duração dividida entre 6 temas: África: Diversidade e Permanência; Trabalho e Escravidão; Festas: O Sagrado e o Profano; As Religiões Afro-Brasileiras; História e Memória; e Artes: a Mão Afro-Brasileira. Realizou também, ao longo de sua existência, dezenas de xxposições temporárias, publicações, ações de pesquisa e incentivo à produção artística e cultural.
Exposições Temporárias. Até 5 de dezembro está em cartaz a expo individual de Frida Orupabo, artista e socióloga radicada em Oslo, na Noruega. O evento é correalizado com a Fundação Bienal de São Paulo e é parte da 34ª Bienal de São Paulo Faz escuro mas eu canto. Artista essencialmente digital, no sentido de que a sua prática se alimenta de imagens disponíveis na internet, Orupabo as assimila, elabora e transforma por meio de descontextualizações e colagens feitas a partir de imagens, textos e vídeos, originais e apropriados, que registram e expõem o legado duradouro do colonialismo em cenas e imagens que vão do racismo e do sexismo mais explícitos a exemplos de violência familiar e questões envolvendo gênero e identidade. “Os meus trabalhos não são silenciosos” – diz ela –, “eles falam para quem olhar para eles”.
Av. Pedro Alvares Cabral, s/n; Parque Ibirapuera – próximo ao Portão 10.
Terça a domingo, das 10h às 17h.
R$ 15,00 / R$ 7,50. Grátis às quartas-feiras.
Galeria HOA TOUR
HOA TOUR é uma galeria de arte e uma organização artística liderada por artistas negros em São Paulo. Fundada em 2020 por Igi Lola Ayedun, artista multimídia autodidata, que trabalha com pintura, vídeo, escultura digital 3D, fotografia e som, o espaço é dedicado à arte contemporânea latino-americana e combina muitas narrativas de artistas emergentes através da comunicação, exposição, educação, práticas de estúdio e até experiências de vendas.
Em cartaz está a mostra Imenso é o mundo que ainda guardo em mim, da própria Igi, expo que reúne diversas formas de expressão de suas percepções sobre suas vivências, dores, sonhos lúcidos que integram o exercício da busca pela memória e a mutação dos sentidos por meio do gesto.
Rua Amaral Gurgel, 344, 5º andar, Vila Buarque
Quarta à domingo, das 11h às 18h