Extrema direita usa gramática religiosa em projeto de radicalização, diz Ronilso Pacheco

Teólogo discute nacionalismo cristão e afirma que relação da esquerda com evangélicos não pode ser extrativista

A Igreja foi uma peça fundamental do colonialismo europeu e da escravização de africanos, mas a espiritualidade cristã pode se comprometer com um projeto de emancipação.

Esse é o horizonte de “Teologia Negra: o Sopro Antirracista do Espírito” (Zahar), de Ronilso Pacheco, livro publicado em 2019 e relançado neste mês.

Para Pacheco, a teologia não deve continuar a ser vista como uma área de estudo puramente especulativa, sem contato com a realidade social. Em vez disso, ele defende que se considere que a teologia nasceu no deserto, referência à jornada de libertação narrada no Êxodo.

A religiosidade, nessa perspectiva, vem da experiência concreta da opressão e do sofrimento —e a teologia negra, além de ressaltar as raízes africanas de acontecimentos e personagens bíblicos, disputa a própria ideia de uma espiritualidade universal, desvinculada da história dos povos.

Pacheco, convidado deste episódio, é mestre em teologia pela Universidade Columbia, diretor do Iser (Instituto de Estudos da Religião), pastor auxiliar da Comunidade Batista e colunista do UOL. Na entrevista, ele afirma que a representação de Jesus como homem branco contribuiu para legitimar a escravidão e reverbera até hoje, por exemplo, na intolerância contra religiões de matriz africana.

O pesquisador discute os riscos do nacionalismo cristão, movimento de extrema direita que, em sua avaliação, usa uma gramática religiosa para subjugar a sociedade a um cristianismo conservador, e aborda as perspectivas de organização política nesse contexto.

É claro que o partido tem que ter projeto e estratégia, mas não dá para fazer com que isso seja uma relação extrativista da religião, da perspectiva do ser evangélico, mas as contribuições possíveis do ser evangélico para fortalecer a democracia. Acho que é preciso entender que a gente vivencia um processo de radicalização que tem pelo menos 15 anos e explode no contexto de Bolsonaro, o primeiro candidato que expressa publicamente ter um projeto de supremacia cristã no país e, por isso, agrega tanto na eleição de 2018, grande parte da liderança cristã conservadora. A gente vem passando por um processo de radicalização cada vez mais intenso

Ronilso Pacheco, pesquisador e autor de ‘Teologia Negra’

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