Falar sobre Ebola, uma doença social

Franz Galvão Piragibe*, Pragmatismo Político

Ebola deve ser uma das doenças mais perigosas dos últimos tempos, mais que a H1N1. Uma epidemia sem precedentes que já se alastrou no Brasil, agravando os sintomas de uma doença cotidiana que muitas vezes passa desapercebido. Embora muitos não tenha notado, já podemos estar contagiados por esse vírus, e ao menor descuido, apresentar sintomas que se propagam em nosso meio, e mata em sua versão mais simplória, mais do que todas as guerras já vista. O RACISMO é realmente uma das doenças mais perigosa no mundo. E sim, se agrava com o Ebola.

Circulam hoje na internet várias manifestações de ódio, que refletem de forma velada nas instituições. Com relação no Brasil de SUSPEITA do vírus, presenciamos comentários do tipo; “estou com medo de ficar perto de negros!” ,“não tenho medo do Ebola parece que só pega em negro”, “não que eu seja racista, mas eu acho que esse NEGRO que esta com ebola, lá no Rio de Janeiro, deveria ser sacrificado. Vale ressaltar que quando a atitude é para benefício da maioria, não é considerada uma atitude antiética”, e por fim o que causou mais espanto ao meu ver “(…) os lixos da humanidade, ficam tudo neste continente, onde só sabem pegarem doenças, porque são animais imundos e sujos, sem Higiene, nem Saúde, muito menos estudos, negros negrosos, nem quero que esses lixos, tragam doenças aos brancos, Raça imunda.”. Outras mil manifestações de ódio continuam pipocando, e as pessoas mediante o histérico terror do ebola, não se dão conta, ou manifestam bem conscientes, de como esse discurso recai na sociedade.

O que já temos como manifestações institucionais? Cancelamento de projetos sociais, acadêmicos e políticos, não só nos países Serra Leoa, Guiné-Conacri, Nigéria e Libéria, que foram os mais afetados, mas para todo o continente Africano, tratando novamente o espaço/lugar, como um só país. Obviamente, como a verdadeira doença aqui é o Racismo, nada se fala de fazer uma quarentena nos países com casos de Ebola como EUA, porque nesses casos se permite pensar até em isolar do roteiro da cidade.

Porém terão aqueles que vão se afirmar “é normal, não tem nada a ver com racismo”. Não recordo esse repúdio étnico quando o surto era Espanhol (pneumônica) quando era a Gripe Russa. A gripe de New Jersey ou a gripe Mexicana que foi a de 2009 (H1N1). Tampouco vejo alguma reflexão seria das doenças dos colonizadores que matou aos montes os colonizados e temos registro por toda história. As doenças contraída diariamente por uma exacerbada exploração laboral em vários campos, as doenças sociais e psicológicas do mundo urbano que infestam o mudo todo. Essas doenças não matam? Por que elas não vieram dos negros, porque elas não vieram dos índios elas são menos perigosas? Eu penso que sim, se somarmos todas essas doenças citadas acima, nenhuma matou mais do que o Racismo.

Não seria louco de descartar a possibilidade d’essa epidemia da ebola chegar no Brasil, e o que nós deixa frágeis, é realmente nosso racismo. O que vamos fazer? Bares de negros e de brancos? Os pais não vão deixar os filhos ter nenhum relacionamento inter-racial? Seremos separados nas escolas e faculdades até que as chances de epidemia passe? O que faremos? E quando um branco morrer aqui? (porque já morreram vários pelo mundo) vão por a culpa no negro? Grupos vão sair matando negros, e deixando uma plaquinha “cuidado contagiado com Ebola!” e todos irão acreditar, como foi no caso dos justiceiros?

A verdade, que já é bem difícil ser negro e andar na rua com a policia que temos, cada dia é uma vitória. É difícil ser negro e coexistir sem ser subalterno nos espaços culturalmente da alta elite, como faculdades, bairros nobres, dentro de carros importados ou em empregos que não tenhamos que carregar tijolo ou limpar banheiros. Como se já não bastasse, isso tudo agora, vamos correr um serio risco de morrer por espirrar em um ônibus, ou qualquer outro lugar fechado.

Não vou comentar as varias hipóteses desse vírus ter sido produzido em laboratórios e solto em países Africanos como teste como os já conhecidos costumes das indústrias farmacêuticas, afim de criar doenças e curas para ficarem mais ricos. Existem fóruns mais competentes em tratar o assunto que espero ler mais em breve. Porém se pensarmos nessa hipótese, e você que esta lendo esse texto tiver com suspeita de Ebola, sugiro que vá em Brasília e abrace todos os políticos, beije os presidentes, deputados e senadores. E se isso não tiver ao seu alcance abrace um grande capitalista do seu Estado ou celebridades Americanas ou Europeias. Com essa estratégia a cura pode aparecer rapidinho.”

*Franz Galvão Piragibe é Militante de movimento negro em BH, Pesquisador de Ações Afirmativas, Educador Social, Professor de português e colaborador em Pragmatismo Político

 

 

Fonte:  Pragmatismo Político

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