FAVELAS: Manifestações livres sobre qualquer assunto

Por Leno F. Silva

O que os filmes “Elefante branco” e “5 X Pacificação” têm em comum. Ambos retratam a situação dos moradores de favelas de grandes cidades. Enquanto o primeiro é uma obra de ficção argentina, filmada em Buenos Aires, o segundo é um documentário brasileiro que mostra diversos pontos de vista do cotidiano de algumas comunidades do Rio de Janeiro depois da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora.

Muda a língua, a atmosfera, a geografia, mas o resto é exatamente igual: concentração de pobreza e miséria, condições precárias de moradia, descaso do poder público, truculência policial, disputa pelo comando do tráfico e jovens viciados no consumo das drogas ilícitas que perdem a vida muito cedo pelo confronto com gangues rivais na defesa dos seus territórios.

Se no documentário carioca o objetivo foi mostrar os prós e os contras das intervenções policiais articuladas pelo
Estado, as quais despertam, ainda, muita controvérsia, o trabalho ficcional dos nossos vizinhos portenhos destaca a forte atuação da igreja na tentativa de apaziguar os distintos tonéis de pólvora existentes em todos os lados e articular a construção de moradias melhores para o povo favelado.

Como produtos de comunicação, ambos merecem ser assistidos e debatidos, até porque os dois retratam um total
descaso das nossas sociedades em resolver esses problemas sociais que existem há décadas. Contudo, sabemos que o público dos cinemas pouco impacta na imagem e na busca de soluções efetivas para a transformação dessas realidades.

Principalmente no Brasil, se comparado, por exemplo, ao alcance da televisão, inexiste vontade política das emissoras majoritárias em criar programas e espaços jornalísticos construtivos imparciais, os quais abordem essa temática de maneira transversal, provocando e ouvindo os inúmeros agentes diretamente envolvidos com os problemas e com a busca de resoluções.

Vale ressaltar que na nossa nação as favelas estão espalhadas pelo país inteiro e são o retrato mais cruel do modelo
desenvolvimento excludente, concentrador de renda e de geração de injustiça social. Sair desse círculo vicioso é um grande de desafio para todos nós e uma responsabilidade do Estado e dos governos, como o vigente que tem o slogan “País rico é país sem miséria”. Por aqui, fico. Até a próxima.

Serviço:

Elefante branco, Espanha/Argentina, dirigido por Pablo Trapero, com Ricardo Darin, Jérémie Renier e Martina Gusman.

5 X Pacificação, Brasil, dirigido por Cadu Barcellos, Luciano Vidigal, Rodrigo Felha, Wagner Novais.

Ambos os filmes nos melhores cinemas.

+ sobre o tema

para lembrar

APAN participa de audiência pública para debater futuro das políticas afirmativas no audiovisual

No próximo dia 3 de setembro, quarta-feira, a Associação...

Condenação da Volks por trabalho escravo é histórica, diz procurador

A condenação da multinacional do setor automobilístico Volkswagen por...

Desigualdade de renda e taxa de desocupação caem no Brasil, diz relatório

A desigualdade de renda sofreu uma queda no Brasil...

Relator da ONU critica Brasil por devolver doméstica escravizada ao patrão

O relator especial da ONU para formas contemporâneas de...

ECA Digital

O que parecia impossível aconteceu. Nesta semana, a polarização visceral cedeu e os deputados federais deram uma pausa na defesa de seus próprios interesses...

ActionAid pauta racismo ambiental, educação e gênero na Rio Climate Action Week

A ActionAid, organização global que atua para a promoção da justiça social, racial, de gênero e climática em mais de 70 países, participará da Rio...

De cada 10 residências no país, 3 não têm esgoto ligado à rede geral

Dos cerca de 77 milhões de domicílios que o Brasil tinha em 2024, 29,5% não tinham ligação com rede geral de esgoto. Isso representa...