Favelas pedem doação em dinheiro, e não cesta básica, para apoiar comércio

A distribuição de cestas básicas é necessária para reduzir os efeitos da crise do coronavírus em comunidades pobres. Mas a distribuição de alimentos acabou levando ao comércio das periferias e favelas um indesejado efeito secundário: afetou as vendas locais, já derrubadas pela crise.

A equação é simples: ao receber o auxílio, o morador beneficiado deixa de se abastecer localmente, e aí o comércio fica parado. Pensando nisso, a Cufa (Central Única das Favelas), criou o projeto Cestas Digitais, uma forma ajudar moradores e comerciantes ao mesmo tempo. A ideia é pedir doação de dinheiro, em vez de cestas físicas. As doações são auditadas para garantir que não haja desvios.

Dinheiro para ser gasto no comércio da favela

Desde o começo da pandemia, a entidade estima ter recebido e doado 700 toneladas de alimentos. “Quem recebe obviamente deixa de comprar. As Cestas Digitais são uma transferência de renda, de dinheiro, para que as pessoas contempladas se abasteçam na própria favela”, afirma Celso Athayde, criador da Cufa.

“Injetar dinheiro no comércio local dá uma sobrevida ao ecossistema como um todo. O desenvolvimento econômico da favela precisa ser preservado. Os milhares de comerciantes na base da pirâmide das comunidades não podem falir, caso contrário, podemos até ter convulsão social.”

Cada Cesta Digital equivale a R$ 120, mas o valor pode vir a aumentar, dependendo de novas parcerias firmadas e do número de pessoas atendidas. O pagamento é feito por aplicativo em celular. Antes, lideranças da Cufa identificam e cadastram famílias nas comunidades de acordo com o seu atual grau de vulnerabilidade, priorizando as mulheres líderes de famílias atendidas no programa “Mães da Favela”, da própria Cufa.

Reconhecimento facial para garantir beneficiados

Desenvolvido pela empresa Acesso Digital, um sistema de reconhecimento facial faz com que só os cadastrados recebam o benefício, uma forma de também evitar possíveis fraudes, segundo a Cufa.

Fechando o ciclo, colaboradores da Cufa identificam nas favelas os estabelecimentos que passarão a receber as cestas digitais.

“Uma vez recebido o crédito, o morador se abastece no estabelecimento que preferir com o que mais precisar no momento, não necessariamente alimentos”, diz Athayde.

Caso o morador não tenha celular, ou este esteja sem crédito, há a opção de tickets de vale refeição ou vale alimentação, de empresas parceiras da Cufa na empreitada. Instituto Unibanco e Instituto Claro são outros coparticipantes responsáveis pelos cerca de R$ 10 milhões já captados para o projeto até o momento.

Para doar cestas digitais, empresas ou pessoas físicas podem depositar qualquer valor na conta do projeto Mães da Favela. O processo é auditado pela empresa ProAudit, especializada em auditorias, e passa por dois conselhos internos, um consultivo e um fiscal, da própria Cufa.

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