Feminismo, empoderamento e solução: a singularidade de Karol Conka

Sucesso indiscutível entre a crítica e os internautas, a curitibana Karol Conka “não tem asas mas sabe voar”, como ela mesmo canta em sua poesia que leva em shows pelo Brasil e pelo mundo. Em sua passagem por Teresina na última sexta-feira (20), Karol recebeu o Playlist para um bate-papo super descontraído e falou sobre composições, moda, ativismo e empoderamento.

Por Rayldo – Fotos: Roberta Aline e Lenna Vianna, no Cidade Verde

Contrariando ou “tombando” algumas opiniões, a negrita, como é chamada pelos fãs, não é tão desconhecida assim, e os números comprovam isso. A artista já soma quase 280 mil curtidores em sua página no Facebook, 144 mil seguidores no Instagram, 43 mil seguidores no Twitter e outras milhares de visualizações em seus vídeos no Youtube.

“Eu gosto de focar na solução”

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No seu rap, Karol mostra o que tem na veia e que sabe fazer. A artista nos conta que empoderamento e autoestima estão na mira principal da sua poesia. “Eu falo de tudo. De mim, do que incomoda o próximo e que também me incomoda. Eu gosto de focar na solução, então minhas músicas sempre tem alguma coisa de empoderamento, autoestima, ou força”, explicou a rapper.

Quando questionada se ela achava isso importante para o contexto atual, rapidamente Karol se apressou em responder que para ela, questões como estas sempre foram importantes. “Eu acho que isso sempre foi importante. Só que agora com a internet está mais visível. A gente vê o quanto tem gente pregando ódio e vê o quanto tem gente querendo fazer a diferença. Eu acho que mais do que nunca a gente tem que falar. Agora é hora de falar mesmo.”

“Me sinto ícone sim!”

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“É no meu tempo, as minhas regras vão te causar um efeito. É quando eu quero, se conforma, é desse jeito. Se quer falar comigo então fala direito”, o verso extraído da música de trabalho mais recente lançada por Karol, “Tombei”, prova como o discurso feminista tem espaço total em seu trabalho. “A cantora, que já contou em várias entrevistas admirar artistas como Beyoncé, Rihanna (que está no repertório do seu show), e outras grandes estrelas do pop mundial admite que se espelha nelas nesse aspecto, e hoje, consegue se reconhecer como um ícone feminista no país com sua história e suas experiências.

“Hoje eu recebo muitos depoimentos, mensagens e histórias de superação através da minha música, hoje eu me sinto ícone sim. Minha história é total de superação. Teve muita coisa que eu nem contei ainda e teve muita coisa que as pessoas passaram e elas não contam – é importante servir de exemplo pra que as pessoas não caiam e não se sintam fracas ou diminuídas, é importante servir de exemplo por causa disso, um leva o outro”, reforçou Karol.

“Não tenho nenhuma restrição”

A rapper não é ícone só no feminismo, Karol tem virado referência de estilo também na moda. Com roupas criativas, coloridas e muita personalidade nas escolhas, a negrita caiu no gosto do público e acaba sendo imitada nas ruas e em muitos outros espaços por meninas e meninos que se identificam com seu estilo ousado e sem nenhuma restrição.

“Eu me sinto uma boneca, acho legal, divertido. As pessoas me desenham, desenham roupas para mim e hoje que eu tenho stylist eu fico lá preparada e eles me mostram muitas coisas que combinam com minha personalidade. Eu gosto de ver as meninas montadas de Karol Conká. Eu acho que não tenho nenhuma restrição em roupa”, garante.

“Preconceito é insuportável”

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Ativista assumida, Karol também fala que críticas o preconceito pela cor da pele, religião, filosofia, ou qualquer outro, sempre estão presentes na sua poesia. Para ela, ocupar esse espaço na música, supre uma lacuna deixada pelas escolas, que deveriam trabalhar melhor essa questão.  “Preconceito é insuportável” garante Karol e acrescenta que foge da vitimização, mas acredita que há muito a ser reparado na história.

“Eu sempre expus na minha poesia e deixei isso claro nas minhas atitudes. Tem muita coisa que tem que ser ensinada que acontece no meu dia-a-dia e as escolas não estão fazendo isso. Através da música, através da arte, a gente consegue conscientizar mais sobre o que é o preconceito, que machuca e que precisa ser reparado na história. Não é vitimismo, existem muitas coisas a serem reparadas do passado e ainda hoje a gente sofre. Lugar de negro é em todos os lugares”

“Não posso viver nessa bolha”

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Mesmo imersa em uma “bolha”, como a própria rapper define sua atual agenda que envolve viagens, ensaios, hotel, fãs, e outras atividades, Karol garante que não deixa de pesquisar e conhecer o trabalho que está sendo desenvolvido e porque não, divulgado por artistas como ela na cena rap nacional. Na conversa, Karol mostrou interesse em conhecer o trabalho do rapper piauiense Preto Kedé, citado durante a entrevista e garantiu que fugir dessa “bolha” é o que mantém sua conexão com a arte.

“Eu pesquiso muito dentro da minha possibilidade de tempo e gosto de saber tudo o que está rolando. Tenho que ter conexão com o mundo e não posso viver nessa bolha que virou minha vida com viagem, hotel, fãs e casa”, pontuou a artista.

Levando a plateia à loucura, Karol cantou seus sucessos do disco BatukFreak lançado em 2013, além de sucessos como Lista Vip, Toda Doida e Tombei, que não estão no disco mas marcam sua nova fase na carreira. Amanhã, a Banda UÓ lança sua parceria com a rapper que já garantiu, está trabalhando em um novo CD e novas parcerias, com direito à música nova lançada ainda em dezembro.

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