Feminismo interseccional explicado por meio de pizzas

Texto de Suzana Bobadilla e Akilah Hughes. Publicado originalmente com o título: Intersectional feminism, brought to you by pizza no site Feministing em 13/04/2015. Tradução de Bia Cardoso para as Blogueiras Feministas.

No Blogueiras Feministas 

A escritora e comediante Akilah Hughes criou uma brilhante explicação do que é interseccionalidade usando pizzas como metáfora. Isso mesmo! Pizza!

Usando uma criativa relação entre hambúrgueres, pizzas e pizzas de queijo, Akilah desmembra a teoria de Kimberlé Crenshaw em um simples e digestivo vídeo (esse trocadilho foi totalmente intencional).

Embora, obviamente, todas nós gostaríamos de viver em um mundo onde pudéssemos falar sobre interseccionalidade sem ter que recorrer a metáforas alimentares, o trabalho de Akilah nos oferece a chance de rir, relaxar e acreditar que talvez na próxima vez em que o feminismo tornar-se assunto nacional, a inclusividade não seja uma reflexão para se fazer depois.

Então, hoje, quando você ler sobre a candidatura de Hillary Clinton a presidência para 2016 e sobre seu feminismo, pergunte-se: será que podemos ter mais que queijo, por favor?

Transcrição do vídeo:

“Akilah Hughes: Olá Youtube, aqui é @AkilahObviously! Hoje quero falar sobre um assunto que tem sido negligenciado no Youtube e na cultura pop, especificamente quando falamos sobre o discurso de Patricia Arquette no Oscar ou sobre os textos de Nellie Andreeva no Deadline, que pensa que a diversidade está ultrapassando os limites em Hollywood e que não existem mais personagens para pessoas brancas.

Hoje vamos falar sobre interseccionalidade e feminismo. Não há melhor maneira de falar sobre este grande assunto do que falar sobre pizza! É um pouco gorduroso.

Digamos que você nasceu como uma Pizza de Queijo, mas o mundo é feito para Hambúrgueres. Você pode ir a qualquer lugar e conseguir um hambúrguer, são o principal item de fast food em praticamente qualquer lugar do mundo. Então, você está tentando dizer: “Ei! Pizzas são tão boas como Hambúrgueres. Pizzas causam a mesma satisfação que Hambúrgueres. Pizzas merecem os mesmos direitos que os Hambúrgueres”. E isso é muito bom e correto.

Porém, depois há pizzas como eu, Pizzas Especiais, que possuem coberturas e características diferentes das Pizzas de Queijo e que têm seus próprios problemas para enfrentar, porque elas são pizzas e ainda têm diferentes coberturas. Perguntamos: “e quanto a nós?”.

Pizzas de queijo são, de longe, as pizzas favoritas da sociedade. Se você for a qualquer lugar haverá uma Pizza de Queijo. Em qualquer representação da sociedade, seja na arte, mídia, educação, finanças, história, as Pizzas de Queijo são as únicas Pizzas mencionadas. Você sabe, Pizzas de Queijo são tão famosas que há lanches que celebram esse sabor como Cheetos, Pringles e até mesmo bolachas salgadas! Pizzas de Queijo sempre tem grande visibilidade.

Entretanto, este não é o caso das Pizzas Especiais, entende? Nossas características são muitas vezes vistas pelo olho destreinado como um peso extra ou parte de um problema maior, e assim somos deixadas de lado, esmigalhadas, porque a crosta não nos dá suporte. É muito mais difícil ser uma Pizza Especial num mundo de Hambúrgueres.

Então, quando as Pizzas Especiais descobriram que as Pizzas de Queijo queriam unir forças e lutar pelos direitos de todas as Pizzas, elas foram empolgadas! Até que elas descobriram que todas as discussões sobre as Pizzas seriam exclusivamente sobre as Pizzas de Queijo. Na verdade, as Pizzas de Queijo diziam: “Nós lutaremos para conseguir seus direitos, mas apenas depois de atingirmos os nossos”. E agora há toneladas de vídeos e artigos que falam sobre como as Pizza de Queijo estão cansadas de ouvirem os Hambúrgueres dizerem que elas deveriam raspar sua crosta, e como as Pizzas de Queijo estão sendo insultadas pelos ingredientes que escolheram colocar em sua massa. Pizzas especiais adorariam ter o privilégio de se preocupar com coisas tão servis.

Historicamente, quando Pizzas Especiais sobem na hierarquia da cultura pop e usam essa plataforma para promover os direitos das Pizzas, as Pizzas de Queijo irão deslegitimá-las para logo em seguida, virar e dizer: “Olhe para esta Pizza de Queijo, ela tem a idéia certa”, [foto de Emma Watson fazendo seu discurso na ONU], mesmo quando ela diz exatamente a mesma coisa que a Pizza Especial estava dizendo o tempo todo [imagem da apresentação feminista de Beyoncé no MTV Music Awards].

As características únicas das Pizzas Especiais geralmente são celebradas quando ocorrem artificialmente em Pizzas de Queijo. Na verdade, quando essas características ocorrem naturalmente nas Pizzas de Queijo, elas tendem a se sentir envergonhadas. “Olhe como suas linguiças são grandes, por que sua pimenta é tão encaracolada?” [imagem de uma Pizza de Queijo com linguiça chamada de Kendall Jenner].

E as Pizzas Especiais estão, infelizmente, um pouco desanimadas. Elas ficam expostas em temperatura ambiente esperando por nós para lutar pelos seus direitos, enquanto elas vêm lutando pelos direitos das Pizzas de Queijo de forma enérgica por muito tempo. Então, como vamos resolver este problema? Você sabe, eu acho que chamamos isso de Intersecionalidade!

Quando falamos de direitos das Pizzas, precisamos falar de todas as Pizzas, não apenas das Pizzas de Queijo que são consideradas socialmente aceitáveis, dignas de confiança e merecedoras de terem um lugar na cultura popular. Precisamos falar de Pizzas que são sexualmente atraídas por outras Pizzas, Pizzas que não são sexualmente atraídas por nada, Pizzas que se identificam como Hambúrgueres e Pizzas que têm diferentes coberturas. Porque tão bom quanto elevar as Pizzas de Queijo socialmente, é um mundo que poderia ter muito mais sabor.

Obrigada por assistir e eu espero voltar em breve com outro vídeo.”

Autoras

Suzanna Bobadilla é escritora, ativista e estrategista digital. Twitter: @suzbobadilla.

Akilah Hughes é escritora e comediante. Site: It’s Akilah Obviously! Youtube: Smoothiefreak. Twitter:@AkilahObviously.

+ sobre o tema

Eu implorei pra ele parar

Por Maria Vitoria Francisca Enviado para o Portal Geledés  "Eu disse que...

Lenna Bahule: ‘Só descobri que eu era negra no Brasil’

Cantora moçambicana que se apresenta nesta sexta (18), no...

A Força das Mães Negras

Levantando-se contra a escravidão, o machismo e o preconceito,...

Lea T. revela que 1º orgasmo da vida só foi possível após mudança de sexo

A modelo Lea T. revelou que só conseguiu ter...

para lembrar

Ela é negra do Brasil

Nilma Lino Gomes assume a Unilab como a primeira...

Para o futuro chegar mais rápido

Meninas: são elas a força capaz de acelerar os...

Senado aprova cota para mulheres no Legislativo

A participação feminina na política ganhou um reforço. O...

Entrevista com Ellen Oléria: “Sou mulher, negra, lésbica e da periferia”

Cantora relembra 2015, antecipa projetos por vir e não...
spot_imgspot_img

Quando o Estado ignora as vítimas e protege agressores

Que mulheres e meninas precisam do nosso apoio constante é algo que sempre reforço em minhas falas. E o assunto do momento, ou o...

Malala: ‘Nunca pensei que mulheres perderiam seus direitos tão facilmente’

Uma bala não foi capaz de silenciá-la, e agora Malala Yousafzai está emprestando sua voz às mulheres do Afeganistão. Em apenas alguns anos desde que o Talebã retomou o controle do país,...

Produção percorre rotas oginais do tráfico de escravizados na África séculos depois

A diretora baiana Urânia Munzanzu apresenta o documentário "Mulheres Negras em Rotas de Liberdade", como uma celebração à ancestralidade, à liberdade e às lutas...
-+=