Filme sobre racismo é aplaudido em Toronto

Difícil haver, na atual safra, um filme que siga mais à risca o manual para comover o Oscar do que “Green Book”. Tem assunto de relevância social? Sim. O tom é edificante? Também. Os personagens evoluem ao perceber o valor da empatia? Claro.

DO Bem Paraná

Green Book (Divulgação)

Vamos à trama, inspirada num caso real ocorrido no começo dos anos 1960. Tony (Viggo Mortensen) é um brucutu ítalo-americano que ganha a vida como leão de chácara em clubes da máfia, em Nova York. Ele recebe uma proposta inusitada, servir de chofer a um exímio pianista negro, Don (Mahershala Ali), durante uma excursão pelo sul profundo dos Estados Unidos.

Cruzar a linha Mason-Dixon, a divisão figurativa que separa o norte industrializado e a porção meridional atrasada, é atravessar a grande cisão que molda a sociedade americana. O tal livro verde, a que o título do longa alude, é um guia que de fato existiu, listando os estabelecimentos que aceitavam servir negros no sul, onde a segregação racial era institucionalizada.

Tony tem seus próprios preconceitos e modos poucos civilizados. Don é elitizado e não tem contato com a cultura popular afro-americana. Juntos, toparão com casarões de fazendeiros onde negros são forçados a usar latrinas e clubes que só aceitam a entrada de brancos.

Exibido há dois dias no Festival de Toronto, “Green Book” terminou sob aplausos de mais de um minuto, o que o torna um dos favoritos ao prêmio do público e deslancha sua campanha para o Oscar.

O inusitado aqui é quem comanda a direção do filme. Aos 61, Peter Farrelly é mais conhecido pelos besteiróis que dirigiu ao lado do irmão, Bobby: “Debi & Lóide”, “Quem Vai Ficar com Mary?” e outras comédias a que você assistiu lá atrás e que hoje não passariam pelo crivo do humor politicamente correto.

“Green Book”, em contrapartida, é um filme carregado de bom-mocismo, mas que passa longe da sisudez. Seu tom está mais para a dramédia. Ainda assim, é uma guinada para Farrelly, que no palco não deixou de reconhecer o quão insólito é mostrar um filme seu em um festival.

Com a mostra canadense se encaminhando para seu desfecho, o cenário para o Oscar começa a se desenhar. “Green Book” deve se tornar uma das maiores apostas dos estúdios da Universal, junto do biográfico “Primeiro Homem”, sobre a chegada do homem à Lua.

Outro gigante, a Warner, deposita as fichas em “Nasce uma Estrela”, romance com Bradley Cooper e Lady Gaga nos papéis de músicos em estágios diferentes da carreira. Já a Sony trouxe a Toronto o drama “White Boy Rick”, que não causou grande furor.

A Netflix apelou sem muito sucesso para inúmeros gêneros (thriller, épico, drama independente) e está garantida apenas na categoria de filme estrangeiro, com “Roma”, do mexicano Alfonso Cuarón.

Com chances menores no prêmio da Academia, está “A Million Little Pieces”, de Sam Taylor-Johnson, diretora de “Cinquenta Tons de Cinza”.

O filme é mais uma das várias produções que pagam pedágio na clínica de reabilitação. Aqui, o “rehab” ocupa quase toda a trama, protagonizada por Aaron Taylor-Johnson.

É para um desses centros que James, viciado em crack, é enviado. Ali, enfrenta os perrengues da abstinência e trava contato com outros pacientes -mais uma derivação pouco inspirada do surrado gênero de filme de internação do qual “Um Estranho no Ninho” é um precursor brilhante.

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