Pesquisa de agência da União Europeia mostre que quase um terço do grupo foi vítima de discriminação nos últimos 5 anos
Uma pesquisa realizada em doze países da Europa que teve como tema o preconceito racial sofrido por afrodescendentes de primeira e segunda geração revelou que Finlândia e Irlanda são as nações europeias em que o grupo relata ter sofrido mais casos de violência físical racial nos últimos cinco anos. Portugal registrou as menores taxas.
A pesquisa, encomendada pela Agência dos Direitos Fundamentais, braço da União Europeia, foi feita com 5.803 pessoas e constatou que quase um terço dos afrodescendentes na Europa já sofreram racismo, o que foi classificado como “uma imagem terrível” pelos pesquisadores.
De acordo com a pesquisa, comentários racistas, gestos ou ameaças com base na cor da pele e origem foram relatados por 63% pessoas ouvidas na Finlândia e 52% em Luxemburgo. Além disso, um em cada 20 afrodescendentes entrevistados afirmou que já foi vítima de violência física motivada por racismo, indo de 14% na Finlândia para 2% em Portugal.
De acordo com o pesquisador responsável pelos dados, Michael O’Flaherty, os números representam uma realidade preocupante que desde 2000, quando a União Europeia adotou leis contra a discriminação racial, ainda continua a acontecer “amplamente”.
“Discriminação racial e perseguição são comuns. Quase 20 anos depois da adoção de leis pela UE proibindo o racismo, afrodescendentes ainda encaram preconceito e exclusão amplamente”, afirmou O’Flaherty no prefácio à pesquisa.
Quase metade dos entrevistados disseram que sabiam de um parente ou amigo que sofreu preconceito nos últimos doze meses. Essa porcentagem foi maior na Áustria, com 47%, seguida de Finlândia (43%), Irlanda (39%), Alemanha (33%), Itália (31%) e Luxemburgo (30%)
PORCENTAGEM DE AFRODESCENDENTES QUE DISSERAM JÁ TER SOFRIDO VIOLÊNCIA RACIAL NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS
Os dados foram obtidos apenas com afrodescendentes de primeira ou segunda geração, excluindo aqueles de terceira geração ou mais além, uma vez que a maioria dos países europeus não realizam pesquisas com esse grupo. Ainda assim, a agência responsável pela pesquisa afirmou que os dados coletados representam uma realidade específica, e não compreendem todo o universo de afrodescendentes no continente, o que deve ser corrigido no futuro.
Ainda segundo o relatório, um e cada dez entrevistados afirmou que o preconceito racial foi responsável por impedir que alugassem uma casa ou apartamento, o que variou bastante de acordo com os países (37% na Itália e 3% no Reino Unido). Além disso, afrodescendentes são duas vezes mais suscetíveis a ocupar empregos de baixa qualificação e um em cada dez entrevistados afirmou que foi abordado pela polícia no ano anterior, com metade deles considerando a atitude como racialmente motivada. De acordo com os pesquisadores, um ponto importante foi que entrevistados mais jovens se sentiram mais abertos para responder as perguntas que a população mais velha.
O relatório será divulgado nesta quarta-feira no Parlamento Europeu, apresentado por Cécile Kyenge, uma dos três únicos parlamentares negros da Casa, que tem 751 pessoas.
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