Flávia Oliveira: Bolsonaro vestiu seu discurso ao usar uma japona retrô do exército

Brasileiros escolheram presidente que ancorou a campanha no discurso de lei e ordem

por Flávia Oliveira no O Globo

Foto Marta Azevedo

O séquito coberto pelo branco da paz não atenuou — em verdade, acentuou — o figurino verde-oliva com que o presidente eleito foi votar. O candidato da militância verde e amarela escondeu a camisa social azul, traje civil, sob uma japona retrô do Exército, certamente a indicar a guinada do país na direção da militarização, da hierarquia, da força, da ordem. Jair Bolsonaro vestiu seu discurso e foi às urnas.

Com a vitória confirmada, citou Duque de Caxias como inspiração para pacificar o país. Patrono do Exército, Luís Alves de Lima e Silva sufocou revoltas no Maranhão, no Piauí, em São Paulo e em Minas Gerais. Dirigiu as tropas imperiais contra a Revolução Farroupilha. Chefiou as forças brasileiras na Guerra do Paraguai, que dizimou boa parte da população masculina adulta do país vizinho. É conhecido como O Pacificador.

No pronunciamento improvisado logo após o resultado das urnas, repetiu as críticas à grande imprensa e voltou a ameaçar adversários de esquerda. Zeloso da aliança conservadora que construiu, referiu-se primeiro à Bíblia, depois à Constituição. O livro sagrado dividia espaço com a Carta Magna na bancada.

Ao mercado financeiro, Bolsonaro dirigiu o trecho mais detalhado do primeiro discurso escrito. Prometeu transformar déficit fiscal em superávit, reduzir a dívida pública e os juros. Sinalizou com diminuição da burocracia, ajuste forte na máquina federal e mais recursos para estados e municípios. Reafirmou a mudança na política externa, na direção de acordos bilaterais com grandes economias. Deixou de citar reforma da Previdência e privatização, duas outras agendas de interesse dos investidores. Paulo Guedes, economista anunciado como superministro da área, esteve na casa, mas não apareceu nas imagens da vitória.

Os brasileiros escolheram o presidente que ancorou a campanha no discurso de lei e ordem, retomada da economia, moralidade, combate à corrupção, rigor com os adversários. Nas primeiras palavras, Bolsonaro seguiu à risca a narrativa linha-dura com que pavimentou o caminho para subir a rampa do Palácio do Planalto, em janeiro.

+ sobre o tema

Compromisso com a segurança

A negligência com a segurança pública levou à morte de cerca...

Meta passa a permitir que usuários classifiquem gays e trans como ‘doentes mentais’

Publicações que associem "doenças mentais" a identidade de gênero...

Brasil flagra mais de 1,6 mil escravizados em 2024, do Rock in Rio à BYD

O Brasil encontrou, pelo menos, 1.684 trabalhadores em condições...

Estudo mostra que Bolsa Família reduziu mortes por tuberculose

O programa federal de transferência de renda Bolsa Família...

para lembrar

Mais que vuvuzelas

por: Ney Lopes Por cerca de um mês, por...

Governo limita auxílio reclusão e salário-maternidade

O presidente Michel Temer enviou ontem um projeto de...

ActionAid traça perfil das desigualdades de gênero e de raça no Brasil em novo relatório

Um novo estudo publicado pela ActionAid propõe um raio-x...

Sem depois

Passados os 50 anos do golpe militar a coluna...

‘Papai, o que vai acontecer com a gente quando Trump começar seu governo?’

Era ainda cedo e praticamente escuro. Eu e meus dois filhos corremos para conseguir entrar no ônibus que passava. Nenhum de nós queria esperar...

Tapa na cara

Começar o ano ouvindo um prefeito reeleito democraticamente fazer apologia da "liberdade de expressão em defesa da ditadura militar" (como ocorreu na capital do RS)...

Trump não convidar Lula é o novo penduricalho da extrema direita brasileira

O dia da posse de Donald Trump se aproxima, será em 20 de janeiro, e o universo bolsonarista tenta transformar o fato de Lula...
-+=