Uma funcionária de 41 anos denunciou à polícia que foi vítima de preconceito após ter raspado a cabeça durante um ritual religioso do candomblé e ter sido demitida do trabalho, em Cuiabá, no dia 17 deste mês. A mulher afirma que foi discriminada pela supervisora.
A empresa terceirizada de serviços gerais, responsável pela demissão, informou ao G1 que aguarda notificação da Justiça e que, até que isso aconteça, não vai se posicionar sobre o assunto.
A Polícia Civil disse, em nota, que a ocorrência foi registrada como crime de preconceito de raça e de cor, etnia, religião e de constrangimento ilegal. O caso é investigado pela 3ª Delegacia de Polícia.
A vítima trabalhava na empresa desde junho de 2019 no cargo inicial de auxiliar de serviços gerais e foi promovida ao cargo para líder do setor. Ela disse à polícia que no dia 7 deste mês fez a iniciação no Candomblé, que tem como ritual raspar a cabeça.
No dia seguinte, foi trabalhar usando seis tocas para “evitar comentários”. A funcionária afirmou que, durante o expediente, precisou ir ao banheiro, sendo acompanhada, sem que tenha visto, pela supervisora. Conforme relatos da mulher à polícia, a inspetora a viu sem toca e a questionou sobre estar careca e se estava com câncer. A vítima, por sua vez, negou e explicou sobre o ritual religioso.
Conforme o boletim de ocorrência registrado pela trabalhadora, dez dias depois, ela foi chamada ao escritório e a chefe dela pediu que ela tirasse a toca. Com ar de reprovação, a supervisora teria afirmado que pessoas dessa religião não cabiam no quadro da empresa e que, “além de ser negra, era macumbeira”.
A vítima afirmou à polícia que foi orientada pela empresa a procurar Deus para se salvar, e que a chefe dela repetia que: “pessoa da sua cor e macumbeira não pode participar do quadro de funcionário da empresa”.
A responsável pela organização ainda teria afirmado que não adiantaria a funcionária procurar a Justiça, pois não daria “em nada, já que empresa possui vários processos e nunca perdeu”.
De acordo com a polícia, o abalo emocional sofrido pela funcionária “é enorme diante da falta de respeito e intolerância religiosa e o racismo das representantes da empresa”.