Situação de injúria se voltou contra funcionárias e uma das donas foi detida
Por Rafaella Dotta, do Brasil deFato
Belo Horizonte tem mais um caso de injúria racial que não é tratado como tal. No bar Ursal, bairro Santa Tereza em Belo Horizonte, duas funcionárias relatam terem sido alvo de xingamentos por uma moradora durante três dias, sob ofensas como “puta” e “vagabunda” sempre acompanhadas da palavra “negra”. A situação culminou em uma reviravolta, em que as ofensas não foram criminalizadas pela Polícia Militar, mas as reações sim.
Entenda o caso
Renata Aline Guimarães e Thamires Fernandes, funcionárias do bar Ursal e mulheres negras, contam que uma senhora branca de aproximadamente 80 anos as ofendeu durante três dias. “Eu vou fechar esse bar, suas neguinhas imundas”, teria dito repetidas vezes. No que as funcionárias decidiram não revidar dada a idade da mulher.
Porém, na tarde de segunda-feira (4), a mesma senhora tentou entrar no bar, quando Ranara Feres, uma das donas do estabelecimento, a impediu pedindo que ela não entrasse pois tinha ofendido suas funcionárias. Iniciou-se aí um conflito verbal, com outras pessoas envolvidas. Segundo Renata, a sua chefe não foi violenta fisicamente.
Na confusão, um homem do bairro ameaçou as funcionárias de estupro corretivo. “Vou pegar vocês e ensinar a ser mulher”, teria dito repetidas vezes, e “Se vocês querem ser homem, vou bater que nem homem”. No bar Ursal trabalham apenas mulheres lésbicas, fato conhecido no bairro, o que provavelmente levou aos xingamentos lesbofóbicos.
“A polícia falou que ia levar todo mundo [pra delegacia]. A gente disse: pode levar a gente mesmo. Aquele homem falou que ia nos bater e nos ofendeu porque somos negras, a gente vai fazer um boletim de injúria racial e ameaça. O policial então falou ‘vocês não vão no carro. Dê um jeito’”, conta Renata.
Prisão e Boletim incorreto
Ranara foi detida por lesão corporal, mediante depoimento do homem acusado de lesbofobia pelas funcionárias e que elas relatam que não estava no local no momento da discussão. No boletim de ocorrência não constou nem injúria racial, nem ameaça de estupro, nem homofobia, mesmo sendo realizado na Delegacia Especializada da Mulher.
Hoje (6), as vítimas voltaram à Delegacia Especializada da Mulher, junto com uma advogada, para realizar outro Boletim de Ocorrência, desta vez somente com as informações sobre o preconceito racial e lesbofóbico que sofreram.
Outros casos
O Brasil de Fato MG já relatou algumas situações de racismo e injúria racial que também mostraram uma atitude conivente da lei e do poder policial. Nesta matéria, falamos de casos de pessoas negras que são perseguidos dentro de lojas ou impedidos de entrar pela cor da sua pele. E nesta, discutimos a diferença entre injúria racial e racismo, e porque os racistas não são presos.
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