Funkeiro vira profissão dos sonhos na periferia e garante cachê de R$ 25 mil por show de dez minutos

“O Rio inventou o funk, São Paulo profissionalizou o estilo”. É com essa frase que o produtor Juninho Love explica o bom momento do gênero no estado. Produtor executivo da GR6, uma das maiores empresas do ramo no Brasil, ele garante que o estilo deixou de ser marginalizado entre as classes sociais mais favorecidas e virou um refúgio para pais que almejam futuro melhor para os filhos.

Do Olhar Direto 

— Já perdi a conta de pais que chegam aqui na GR6 dizendo que gostariam muito que dessemos uma oportunidade para os filhos deles. Hoje, cantar funk é mais ou menos igual a ser jogador de futebol. É um atalho para sair da pobreza.

MC KS, de 19 anos, é um exemplo de funkeiro que teve um empurrão da família para garantir o sonho de ser um MC famoso. O adolescente de Guaianazes, extremo leste de São Paulo, contou com o apoio do pai desde que começou. E não foi pouco que ele investiu. Ao todo, foram mais de R$ 300 mil aplicados em vídeos, shows e produção.

— A ajuda familiar fez a diferença. Já fiz show por R$ 6, que era o valor das passagens de ida e volta do ônibus. Quando meu pai deu aquele empurrão financeiro, as coisas começaram a andar.

Juninho acredita que a tendência do funkeiro começar a carreira ainda na infância vai aumentar. Ele explica que as produtoras hoje já funcionam como escolinha de futebol ou categoria de base de um clube. A analogia não é exagerada.

funk
Livinho e Pedrinho: sucesso em públicos diferentes

A GR6, por exemplo, opera em um casarão na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo. A empresa mantém quadra poliesportiva, piscina, estúdio de gravação, aulas de música e consulta com psicológos para preparar os MCs mirins e adolescntes para a carreira. Mais ou menos como funciona a KL Produtora, outra empresa cujo cast é formado principalmente por jovens, como MC Pikachu e Brinquedo.

Juninho, que antes de se envolver com funk foi músico de pagode e backing vocal do cantor Belo, conta que até mesmo a maneira como as empresas de funk profissionais funcionam hoje se assemelha a um clube de futebol.

— É bem parecido. Temos nossa equipe de base, a equipe principal e os craques da vez. No caso da GR6, o Pedrinho é o Neymar e o Livinho, é o Messi. Hoje o Livinho ganha até R$ 25 mil por show. E dá para ele fazer uns 30 por mês. Aos 19 anos, ele já tem dois apartamentos e dois carros. É um bom começo.

Para garantir esse patamar no funk, não é simples. É preciso respeitar uma logística e um estilo de vida corrido. Durante as madrugadas nos fins de semana, os MCs realizam até dez apresentações numa noite. Nem todo mundo ainda ostenta cachê no nível de Livinho, mas MC Hariel, de 17 anos, não está nem um pouco infeliz em garantir cerca de R$ 3 mil por cada apresentaçã de 10 minutos. Isso tudo sem ter espaço nos veículos tradicionais de mídia.

— No funk não tem crise. No baile, tem adolescente com tênis de R$ 1 mil nos pés, seja na periferia, seja nas baladas do centro. E pode ser de semana ou sábado, sempre vai ter duas mil pessoas no baile. Nem quem tá começando pode reclamar.

Na periferia, o tíquete médio de um show de funk custa R$ 15. Na Vila Olímpia e em outros bairros da elite, esse valor pode ser até dez vezes maior. As festas são marcadas pela diversidade, já que um baile reúne até 50 MCs em uma só noite.

Juninho Love garante que a GR6, por exemplo, produz cerca 200 eventos desse tipo pelo Brasil durante um ano. Isso coloca a empresa num papel de destaque no show business nacional e desperta o interesse de artistas de outros gêneros, como o pagodeiro Belo, que tem participado de alguns festivais de funk como atração principal.

— Para o aniversário do fundador da GR6, organizamos 57 eventos em duas semanas, muitos deles com o cantor Belo. E todos tiveram alta procura por ingressos e casa lotada. Esse cenário tem ajudado também a gerar muitos empregos. Só a nossa empresa garante 230 vagas diretas ou indiretas.

Messi e Neymar

MC Pedrinho, o Neymar da GR6, passa por um momento de reconstrução de imagem. O funkeiro de 13 anos foi alvo de uma investigação do Ministério Público que o proibiu de cantar o chamado “funk ousadia”, que é repleto de palavrões e termos considerados inadequados para menores de 18 anos.

Com essa decisão, a GR6 criou uma nova imagem para o cantor, que hoje opta por letras de superação e conscientização.

— O que a Justiça determinou, nós acatamos. Agora ele só faz show em matinê também. Não vamos bater de frente com essa decisão, pois o Pedrinho tem potencial para se destacar de outra maneira.

Já Livinho, o Messi do escritório, aposta no funk ousadia de uma forma debochada e incomum no funk. Ele se destaca principalmente pela voz, que é inspirada em cantores de música negra americana. Com essa mistura inusitada, Livinho se transformou em ídolo no gênero e sex symbol para as fãs.

Mesmo que algumas letras muitas vezes esbarrem no machismo, isso não impede que o público que vá aos shows dele e de outros MCs que cantam ousadia seja majoritariamente feminino. Hariel explica que o estilo ostentação, popularizado principalmente por Guimê, foi superado por esse tipo de letra. E ele garante: as mulheres se indentificam e não se sentem desrespeitadas com a abordagem sexista.

— Quem manda no baile funk hoje é a mulher. A gente toca o que elas querem ouvir. Nenhuma fã de funk fica incomodada com esse tipo de música. Até porque elas têm controle sobre o que fazem com o corpo. Muitas vão ao baile, cantam as letras sensuais e voltam para casa sem ficar com ninguém. É tudo muito livre.

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