Geledés discute na COP 30 adaptação climática a partir do Sul Global com foco em raça, gênero e territórios

20/11/25
Por Kátia Mello [email protected]
Evento reuniu organizações para influenciar as negociações da Meta Global de Adaptação, oferecendo caminhos para o enfrentamento ao racismo ambiental

O painel “Adaptação Transformadora a partir do Sul Global: Raça, Gênero e Territórios no GGA”, realizado durante a COP 30, em 14 de novembro de 2025, em Belém (PA), reuniu especialistas, pesquisadoras e lideranças sociais para discutir caminhos de adaptação climática que integrem justiça racial, de gênero, territorial e intergeracional. Parte da programação oficial das negociações da Meta Global de Adaptação (Global Goal on Adaptation – GGA), o evento foi promovido por Geledés – Instituto da Mulher Negra, Conectas Direitos Humanos e Instituto de Estudos da Religião (ISER), em coorganização com a Carleton University (EUA).

O encontro partiu do diagnóstico de que os impactos climáticos recaem de forma desproporcional sobre grupos marginalizados — especialmente mulheres negras e povos indígenas. Em contraposição a modelos tradicionais, frequentemente conduzidos de cima para baixo, o painel destacou experiências concretas de adaptação lideradas por comunidades, autoridades locais e movimentos sociais no Sul Global, que têm demonstrado maior capacidade de produzir respostas justas, eficazes e sensíveis às realidades territoriais.

A proposta central foi influenciar estrategicamente as negociações do GGA, apresentando soluções verificáveis e escaláveis oriundas de territórios vulneráveis, tanto rurais quanto urbanos. As exposições reforçaram que enfrentar vulnerabilidades interseccionais não é apenas uma questão de justiça, mas condição indispensável para promover transformações sistêmicas duradouras e reduzir riscos de desastres com efetividade.

O debate abordou um conjunto de temas estruturantes da agenda global de adaptação. Entre eles, a adaptação climática incluindo perdas e danos, que reconhece os impactos já irreversíveis da crise e a necessidade de respostas que protejam vidas, territórios e modos de subsistência; a redução de risco de desastres, com ênfase em estratégias preventivas capazes de minimizar impactos antes que eventos extremos ocorram; e a avaliação de riscos e mecanismos de seguro, fundamentais para orientar políticas públicas, investimentos e instrumentos financeiros voltados à proteção de populações vulneráveis. 

A abordagem também incluiu questões de gênero, ressaltando como as desigualdades estruturais amplificam impactos climáticos; a transformação de sistemas, entendida como a mudança profunda e integrada em políticas, instituições e práticas que sustentam modelos de desenvolvimento; além de desafios e soluções relacionados ao ambiente urbano e construído, onde a crise climática se manifesta de forma intensa por meio de enchentes, ilhas de calor, vulnerabilidade habitacional e infraestrutura precária.

“A Adaptação Transformacional, sob a ótica do Sul Global, exige priorização orçamentária e um olhar antirracista que corrija as desigualdades estruturais. A culpa das mortes não é do clima, mas sim da falta de gestão do risco e da prevenção para as populações negras, indígenas e periféricas, que serão as primeiras a sucumbir à crise. Nossa defesa é por políticas públicas que valorizem as soluções comunitárias e garantam a vida digna”, afirma Thaynah Gutierrez, assessora de Clima e Racismo Ambiental em Geledés.

Além de Thaynah Gutierrez, o painel contou com contribuições de Mariana de Paula (Instituto Decodifica), Larissa Amorim (Casa Fluminense), Elisabeth Gilmore (Carleton University) e de uma representante do Fundo de Adaptação indicada por Gilmore. A moderação ficou por conta de Thales Machado (Conectas Direitos Humanos), que ressaltou a importância de aproximar o debate de alto nível das realidades das populações mais impactadas, garantindo que o GGA avance como instrumento inclusivo, executável e efetivamente transformador. 

“Discutir adaptação climática transformacional a partir do Sul é um posicionamento imperativo de justiça na disputa conceitual. É centralizar a defesa dos direitos humanos com o intuito de construir respostas que enfrentem desigualdades produzidas por séculos de exploração e de apontar para um futuro que priorize as pessoas mais afetadas pela emergência climática, não apenas no enfrentamento às políticas de morte, mas também como formuladoras de soluções. A Meta Global de Adaptação pode e deve ser um dos instrumentos do regime climático que nos obriga a colocar os direitos humanos no centro da ação climática”, destacou Machado.

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