O Geledés – Instituto da Mulher Negra manifesta seu repúdio à decisão do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP) de anular o concurso para a vaga de professor de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, no qual a pesquisadora e professora Érica Cristina Bispo havia sido aprovada em novembro de 2024. A professora concorreu e venceu o concurso na área, regido pelo edital FFLCH/FLC nº 024/2024 e realizado entre os dias 17 e 21 de junho de 2024, com previsão de posse do vencedor ainda neste ano.
A decisão do Conselho da USP, acatada em 18 de março, se baseou exclusivamente em uma suposta proximidade da candidata, única preta a fazer o concurso, com duas integrantes da banca examinadora, aferida por meio de fotografias de eventos acadêmicos e postagens em redes sociais, desconsiderando o parecer do Ministério Público de São Paulo, que não encontrou indícios de favorecimento ou atuação dolosa de qualquer agente público. O documento foi entregue aos membros da banca, à direção da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e à reitoria da universidade. O Conselho Universitário informou por meio de sua assessoria que não irá comentar o caso.
Ao ignorar o parecer do Ministério Público e o desempenho acadêmico consistente da professora Érica Bispo, a USP reforça barreiras do racismo estrutural que historicamente limita o acesso e a ascensão de mulheres negras na academia brasileira.
Sendo assim, Geledés reforça a necessidade de que instituições de ensino superior no país adotem critérios objetivos e justos de avaliação, garantindo igualdade de oportunidades e respeito ao mérito acadêmico de todos os brasileiros e brasileiras. Reiteramos nosso compromisso com a valorização da produção intelectual de mulheres negras e afrodescendentes.