Gisele, eu tenho um cérebro!

Algum tempo atrás eu escrevi um artigo intitulado “E o machismo continua…” já alertava para as práticas, digamos, antigas do pessoal da publicidade.

Então o assunto era o tal #lingerieday {{se você não sabe o que é, leia o post acima destacado}}. Já havia por lá propaganda com a Gisele Bündchen fazendo papel de Amélia.

Pois eis que a nossa dileta representante das modelos que pensam, politicamente corretas {{e no caso dela, até militante do parto natural}} resolveu mais uma vez que dinheiro pode ocupar o lugar do cérebro. E fez a seguinte propaganda:

As mulheres que me desculpem, mas vou ter de explicar, pode haver homens lendo isso.

YouTube video

A propaganda coloca a mulher como objeto do marido. Não há argumentação, mas apenas besteiras feitas pela mulher que podem ser corrigidas diante do marido, macho alfa provedor, usando pura e simplesmente uma lingerie.

É como dizer que a mulher da foto do começo do post {{tudo bem, pode olhar, eu espero}} está fazendo do jeito certo. Ainda que seja um manequim e não uma mulher.

Mas isso não é o mais perturbador. Não é o mais assustador. Não é, porque, sabemos todos, há mulheres inteligentes o suficiente para usarem o cérebro e se indignarem contra esse tipo de propaganda. É o caso do belíssimo texto de Hildegard Angel, intitulado Mulheres Feias {{não acredite em mim – leia isso!}} ou ainda de Clara Roman, intitulado Gisele Amélia Bündchen {{não acredite em mim}}.

boneca inflavel 2O que me deixa indignado é saber que a propaganda tem razão quando mostra que os homens são todos burros. Eu mesmo já havia dito isso {{não acredite em mim}} e fui até alvo de reclamações masculinas.

É de indignar qualquer homem com ativo uso da massa encefálica intra-cranial {{célebro, como diria minha irmã mais nova}} que seja dito em uma campanha publicitária que o charme das mulheres brasileiras é conquistar homens completamente imbecis.

Muito obrigado, Gisele, mas eu faço uso do meu cérebro. Não gostaria de ser retratado feito um completo imbecil incapaz de qualquer uso do raciocínio lógico simplesmente porque vi uma mulher semi-nua. Ou nua.

O que o comercial faz não é apenas fazer da mulher um objeto. O comercial faz do meu sexo sinônimo de incapacidade mental {{como aliás, é praxe do machismo. Perdem-se os cérebros, homens e mulheres. Talvez por isso gere tanta agressão, homem quando não pensa faz o que sabe, bate}}.

E os homens confirmam a tese. Confirmam ao não abrirem a boca para reclamar da coisificação da mulher, ou dê o nome que quiser. E confirmam ao aceitarem passivamente o fardo de que pensamos com a cabeça de baixo.

Eu não, Gisele, eu gosto de mulher.

Fonte: Imprenca

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