Economista destaca que ato é um “alerta” para o ajuste econômico implantado
A 22ª edição do Grito dos Excluídos é realizada neste 7 de setembro em diversas cidades do país, com lema inspirado em uma declaração do Papa Francisco durante viagem à Bolívia no ano passado: “Este sistema é insuportável: Exclui, degrada, mata”. O economista Plínio de Arruda Sampaio Jr., professor livre-docente do Instituto de Economia da Unicamp, diz que o ato é um “alerta”.
“O ajuste econômico que vem sendo implementado é uma socialização dos prejuízos dos grandes capitalistas que despeja todo o ônus da crise nas costas dos trabalhadorese dos desvalidos”, ressaltou Sampaio Junior ao JB.
“Se não for barrado pela resistência popular, o aprofundamento do liberalismo agravará os problemas estruturais responsáveis pelas mazelas do subdesenvolvimento – a desigualdade social extrema e a dependência externa.”
A fala do papa Francisco foi feita durante o Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, mais populosa cidade da Bolívia, em setembro do ano passado. “Os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra”, disse Bergoglio na ocasião.
A organização do evento reforça em seu website oficial que o lema deste ano perpassa as várias crises, inclusive a humanitária. “O lema este ano é bem desafiador. Vamos botar o povo na rua e denunciar as mazelas desta sociedade excludente em que vivemos.”
Além da crítica ao sistema, movimentos também saem às ruas em protesto contra Michel Temer, com bandeiras com os dizeres “Fora Temer, Nenhum Direito a Menos” e “Diretas Já”. No Rio de Janeiro, o ato teve concentração a partir das 9h, na Rua Uruguaiana, no Centro da cidade. Por volta das 13h, o protesto chegava ao Boulevard Olímpico, com participação de cerca de cinco mil pessoas.
Em São Paulo, a concentração teve início às 9h, na Praça Oswaldo Cruz, esquina com a Avenida Paulista. O coordenador estadual da Central de Movimentos Populares (CMP) em São Paulo, Raimundo Bonfim, chamou a atenção para a unidade construída entre diferentes entidades que lutam por moradia, saúde e educação pública de qualidade e garantia de direitos trabalhistas e sociais.
“Será um grito diferente de todos os anos. Durante 21 anos construímos um grito em uma democracia, mas, agora, é um momento de resistência e de denúncia contra um governo ilegítimo que promoveu um golpe no Brasil”, destacou Bonfim ao portal da CUT-SP.
Em Pernambuco, o Grito é organizado pelo Fórum Dom Hélder Câmara, que reúne movimentos sociais e pastorais católicas. “Nós consideramos que não há impeachment, há golpe. E vamos combatê-lo nas ruas. É um governo que só espera um momento para acabar com a classe trabalhadora. Não vemos perspectiva de melhora com o governo Temer. Ao contrário, vamos perder direitos sociais”, disse Sandra Gomes, representante do Fórum, à Agência Brasil.
Em Porto Alegre, a marcha partiu da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que desde segunda-feira (5) está ocupada por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Membros da CUT e de movimentos negros, feministas e de pessoas LGBT, além de representantes dos bancários, que estão em greve nacional, também acompanharam a caminhada.
“A pauta da marcha deste ano está dialogando com a conjuntura que está aí. Já estamos prevendo as medidas desse novo governo, que certamente vai enfrentar a classe trabalhadora, seja pela [reforma da] Previdência, seja pela redução de direitos, seja pelo impedimento de grandes programas que dialogam com as nossas necessidades”, disse Cedenir de Oliveira, representante da direção nacional do MST, à ABr.
“O avanço da barbárie capitalista coloca na ordem do dia a necessidade romper com um modelo econômico e político que ameaça os próprios fundamentos da sociedade brasileira como processo civilizatório. É a hora de honrar o compromisso de ‘viver na pátria livre ou morrer pelo Brasil’, frisa Sampaio Junior.