Rapaz reclamou de blitz em Sarandi e, um dia depois, foi preso no trabalho.
Comissão de Direitos Humanos condenou a ação: ‘Abusiva e humilhante’.
Um homem de 33 anos foi preso, na manhã desta sexta-feira (22), depois reclamar no Facebook de uma abordagem feita pela Polícia Militar (PM) durante uma blitz em Sarandi, no norte do Paraná. O comentário foi feito na noite de quinta-feira (21), mesmo dia da operação, na página de um site de notícias da cidade.
Clodoaldo Lima criticou a forma com que os policiais abordaram as pessoas na blitz. “Com puro abuso de autoridade, falta de bom senso por parte dos policiais e principalmente pelo comandante da operação […], que fizeram essa blitz com o único intuito de ferrar trabalhadores, sem o mínimo de bom senso, ao invés de ir atrás de bandidos”, postou ele.
Algumas horas depois do comentário, um policial militar comentou no mesmo post, citando a prisão do rapaz, feita no local de trabalho dele.
“Uma equipe de policiais foi até a empresa onde […] trabalha no Parque Industrial e o deteve, em seguida, algemado o encaminhou até a Delegacia de Policia de Sarandi. […] tem 33 anos, é casado e pai de dois filhos. Os policiais continuarão investigando outras pessoas, a fim de localizar e identificar, que fizeram comentários na página sobre a atuação da PM”, dizia a mensagem.
Para o comandante da 4ª Companhia de Polícia Militar de Sarandi, capitão Luciano Mazeto, o homem fez comentários que prejudicaram o policial, já que citou o nome dele e o imputou o crime de abuso de autoridade.
“Vai muito da interpretação, mas o rapaz pode ser enquadrado no crime de difamação, por ele ter citado o nome do policial. Ele o imputou a prática do crime de abuso de autoridade. Isso também pode ser considerado calúnia”, explicou o comandante.
Segundo Mazeto, a prisão era necessária. “É um crime contra a honra do policial. Ele se sentiu ofendido e prejudicado. Nós, então, identificamos o suspeito, fomos até onde ele estava e, como é procedimento normal, encaminhamos para a delegacia”, afirmou o capitão.
Lima prestou depoimento na delegacia e, pouco depois, foi liberado, ainda nesta sexta-feira. “Para mim, a blitz se faz necessária, mas, talvez, eu não escrevi certo. O que acho é que, às vezes, naquele horário [a blitz foi feita no fim da tarde], pode acontecer de pegar muita gente que está trabalhando. Devido à situação de hoje no país, não é todo trabalhador que tem 800, 900 reais para manter o carro em dia. Foi só o que quis dizer. Eu respeito muito o trabalho de todo mundo, inclusive o dos policiais. Eu sou um cidadão de bem, não ofendi ninguém. Só cometi o erro de emitir minha opinião”, defendeu-se, na saída da delegacia.
O presidente da Comissão de Diretos Humanos da OAB Maringá, Fulvio Stadler Kaipers, considera a prática abusiva e humilhante. Para ele, não cabia prisão ao homem, na ocasião. “Não cabe prisão neste caso. Os crimes de calúnia e de injúria têm pena mínima, em regime aberto. Mesmo que o comentário tenha sido injurioso, há um procedimento, que passa pelo Poder Judiciário. Os policiais fizeram isso para humilhar um cidadão de bem, apenas”, ponderou.
Segundo Kaipers, Lima pode representar contra o policial pelo crime de abuso de autoridade. “O rapaz pode procurar um advogado e ir atrás de seus direitos, já que foi humilhado. Toda vez que um policial age de forma violento, deve ser coibido. Estamos expondo nosso cidadão de bem”, explicou.
Fonte: G1