A homofobia de Myrian Rios e o racismo do professor da UFMA: de acusados à vítimas

Publico abaixo a retratação do professor da UFMA, José Cloves Verde Saraiva, acusado de racismo pelos alunos daquela universidade, enviada para este blog como comentário do post Não somos racistas? Carta para o esclarecimento de Ali Kamel, Magnoli e afins: racismo na UFMA.

O que chama atenção é que, ultimamente, o preconceito e a discriminação vêm se escondendo atrás de “erros de interpretação”, haja vista o caso de homofobia de Miriam Rios, e agora, o do professor acusado de racismo na UFMA, dentre muitos outros casos que se tornaram públicos.

As retratações ou pedidos de desculpa não são pelo erro (ou crime) cometido, mas pela interpretação supostamente equivocada dos receptores do discurso.

Como o professor do Maranhão, em sua nota oficial, Myrian Rios também dá a entender que foi “mal interpretada”. Ela afirmou que “jamais tive a intenção de igualar o pedófilo ao homossexualismo [sic]. Se entenderam desta maneira, peço desculpas”.

Nos dois casos recentes, os acusados se transformaram em “vítimas” devido a uma suposta inabilidade cognitiva das verdadeiras vítimas.

Subestimar a capacidade de interpretação das pessoas é mais uma prova do quanto eles são preconceituosos. Lamentável.

RETRATAÇÃO PÚBLICA

José Cloves Verde Saraiva, professor associado III da UFMA, vem mui respeitosamente pedir desculpas públicas a interpretação, certamente, dúbia do aluno nigeriano NUHU AYUBA, que durante as aulas de Cálculo Vetorial, no curso de Engenharia Química da UFMA, sentiu-se ofendido, e vem esclarecer este engano nos três itens seguintes:

1. Ao perguntar o seu nome não houve qualquer sentido jocoso, visto que sua pronúncia no seu idioma induz isto no nosso e que foi esclarecida por ele mesmo como o equivalente deste a NOÉ JOSUÉ.

2. Em conversa particular, referir-me ao Prêmio Nobel Nigeriano W. Soyinka sobre a frase “UM TIGRE NÃO DEFINE TIGRITUDE. UM TIGRE SALTA!” Quando me referi aos LEÕES AFRICANOS, que nas dificuldades de todo estrangeiro para o entendimento subjetivo de acusações preconceituais, esta não induz isso, pois sou também de cor Parda, assim como os meus familiares, e durante toda minha existência jamais proferiria tal insulto, principalmente para aluno.

3. Já referir-me em classe que “ser universitário é muita responsabilidade” e é costume dos alunos novatos (calouros) usarem as dependências da Universidade para outros fins fora do contexto educacional. Reclamei a você e aos outros colegas que não compareciam as aulas, nem fizeram os exercícios e, principalmente você, não compareceu ao PRÉ-TESTE e nem fez a sua 1ª Avaliação, além disso, não fez o PRÉ-TESTE da 2ª Avaliação, nem as suas notas de aula no caderno desta disciplina foram escritas e apresentadas até hoje. É lamentável! Faço o meu dever de professor cobrando o bom entendimento da disciplina, tendo formado excelentes alunos durante todo esse tempo, veja que a maioria dos seus colegas de classe cumpriram seus deveres e a turma passada não teve problemas deste tipo. Embora sabendo que você tem suas dificuldades naturais, como qualquer estrangeiro, deveria pelo menos se explicar, evitando interpretações errôneas sobre o seu atual

comportamento como estudante da UFMA.

Firmo-me nestes termos públicos e receptivo a quaisquer outros esclarecimentos.

Fonte: História pra boi acordar

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