“É ao pé da fogueira que vamos ressignificar nossas histórias”. Foi com a fogueira acessa que as mulheres negras quilombolas, pescadoras, marisqueiras trabalhadores rurais e rezadeiras do município de Maraú contaram suas histórias, lutas e sonhos durante a realização do I Mostra de Mulheres Negras de Maraú, que aconteceu nos 19 e 20 de outubro, na ilha de Barra Grande/Maraú.
O evento, que reuniu mais de 80 mulheres negras de oito comunidades de Maraú para contar suas histórias, homenagear a luta, debater as necessidades e as políticas públicas que venham a contribuir para o enfrentamento ao racismo, sexismo, violência contra a mulher e falar sobre empoderamento é uma das ações do Instituto Cultural Steve, através Programa de formação de lideranças negras do Nordeste, Kweto em parceria com o Odara- Instituto da Mulher Negra e a Casa da Alegria/Arembepe.
Cheio de momentos especiais à atividade promoveu o encontro de diferentes gerações de mulheres negras para discutir temas relacionados à sua vida e ao fortalecimento político da sua identidade e das suas comunidades. Para a jovem, Ingrid Lima, o Encontro revelou o longo caminho para garantir o fortalecimento da identidade negra no município. “Eu achava que estava sozinha e hoje pude ver que existem várias pessoas negras. Aprendo com as mais velhas que eu preciso estudar muito. Esse encontro foi um resgate de autoestima para as pessoas negras”, disse a jovem liderança.
Já, dona Durvalina Maria de Jesus Porto, marisqueira da comunidade de Saleiros, reafirmou a necessidade de se trabalhar para manter viva a tradição nas comunidades, revelou seu mais importante sonho enfatizando a importância da escolarização para as mulheres negras. “Aprendi a pegar lambreta quando cheguei logo pra cá. Aprendi e nunca mais esqueci. Hoje vou com meus filhos e marido e fico junto com eles na canoa. Aprendi e depois ensinei. Eu tenho um sonho muito grande, que era de aprender a ler e escrever, mas quando era mais jovem, meu pai me proibiu porque disse que não iria aprender a escrever para não mandar cartas para namorado”,revelou.
Para a coordenadora do Programa de Direitos Humanos do Odara, Benilda Brito, o Encontro foi importante para ajudar na reconstrução de conceitos importantes como: identidade, raça, gênero, território e ancestralidade. Além de enfatizar a importância destas Mulheres na Articulação de Mulheres Negras do Nordeste. “Foi bonito, urgente e necessário ratificar as muitas ‘caras das pretas’, que irão para Brasília, em 2015 realizar Marcha de Mulheres Negras Contra o Racismo e Pelo Bem Viver”, declarou.
O município de Maraú possuiu uma extensão territorial de 815 k² e aproximadamente 22 mil habitantes, em sua maioria de população negra. Em 2008, até a sua sede foi reconhecida como comunidade quilombola.
Fonte: Instituto Odara