Ilê Omolu Oxum se transforma em terreiro cultural, com biblioteca, galeria de arte, museu e ateliê de moda

27/09/25
Enviado para o Portal Geledés
Com a inauguração da Biblioteca Comunitária Ekedi Neide de Oxaguiã, que abre ao público a partir do dia 27 de setembro de 2025, às 10h, o Ilê Omolu Oxum amplia sua atuação e se expande como patrimônio de memória e resistência afro-brasileira.

O Ilê Omolu Oxum, em São João do Meriti, inaugura a Biblioteca Comunitária Ekedi Neide de Oxaguiã, com um acervo diversificado, que une tradição oral e documentação histórica, a partir de publicações e documentos do próprio terreiro e da valiosa coleção pessoal de Mãe Meninazinha de Oxum, 88 anos, um tesouro documental que abrange desde textos sagrados até registros históricos da comunidade.

A Biblioteca é composta ainda por publicações doadas por importantes instituições culturais brasileiras: a Pinakotheke, o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Museu do Folclore e o Museu Nacional de Belas Artes, representando um importante passo na democratização do acesso ao conhecimento sobre as tradições religiosas de matriz africana e a cultura afro-brasileira, além de criar pontes entre a tradição oral e o conhecimento acadêmico.

Mãe Nilce de Iansã, coordenadora do projeto, destaca que “a Biblioteca Comunitária Ekedi Neide de Oxaguiã é “um marco histórico na preservação e difusão da cultura afro-brasileira e dos saberes tradicionais do Candomblé, e não é apenas um repositório de livros, mas um centro vivo de conhecimento ancestral”. “Aqui, a comunidade terá acesso não apenas a textos escritos, mas à sabedoria que se transmite através de gerações, por meio de rodas de leitura, oficinas e outras atividades educativas que estamos programando.”

O nome da biblioteca homenageia Ekedi Neide de Oxaguiã, bisneta de Iyá Davina de Omolu e figura respeitada na tradição do Candomblé, reconhecendo o papel fundamental das mulheres na preservação e transmissão dos saberes religiosos afro-brasileiros. A escolha do nome simboliza a continuidade entre passado e presente, honrando aquelas que dedicaram suas vidas à manutenção das tradições.

A iniciativa representa um marco na luta pela valorização da cultura afro-brasileira e pelo reconhecimento dos terreiros como espaços legítimos de produção e preservação de conhecimento. O projeto dialoga com políticas públicas de promoção da igualdade racial e de valorização da diversidade cultural brasileira.

O Ilê Omolu Oxum, fundado em 6 de julho de 1968 por Mãe Meninazinha de Oxum, uma das mais respeitadas ialorixás do país, se consolidou como um espaço inclusivo, de resistência, com forte atuação no campo dos Direitos Humanos, Assistência Social e Cultura, e projetos direcionados à população em situação de vulnerabilidade social, sobretudo mulheres que são vítimas de racismo, sexismo e misoginia.

MUSEU MEMORIAL IYÁ DAVINA e GALERIA DE ARTE MÃE MENINAZINHA DE OXUM 

Além da Biblioteca Comunitária Ekedi Neide de Oxaguiã, o Ilê Omolu Oxum abriga a recém-inaugurada Galeria de Arte Mãe Meninazinha de Oxum, que apresenta a exposição “Odara – Entre cores e memórias”, com quinze pinturas em acrílica sobre tela, inéditas ao público, criadas por Meninazinha de Oxum entre 2004 e 2011. A curadoria é de Marco Antonio Teobaldo de Oxóssi, que, entre 2011 e 2023, foi curador do Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), e é também curador do Museu Memorial Iyá Davina, no Ilê Omolu Oxum.

Teobaldo observa que “este recorte temporal da produção artística da ialorixá representa um período de intensa maturidade espiritual e criativa, quando ela canalizou para as telas suas memórias e sua profunda conexão com o sagrado”. Ele explica que “Odara” é uma palavra iorubá que significa “bom”, “belo”, “excelente”, e “evoca a concepção estética fundamental das culturas africanas, onde beleza e bondade são indissociáveis”. “Nas telas de Mãe Meninazinha de Oxum, o odara se manifesta como expressão visual da harmonia cósmica, do axé que permeia todas as coisas e das tradições transmitidas através das gerações”, diz.

O curador salienta que as memórias do subtítulo da exposição não se referem “apenas às memórias pessoais da artista, mas também às memórias coletivas, ancestrais, que atravessam séculos e oceanos para se materializar nas telas contemporâneas”.“São memórias que resistiram à travessia atlântica, à escravidão, à perseguição religiosa, ao racismo e que agora encontram novo vigor expressivo através da arte pictórica de uma das mais respeitadas ialorixás do Brasil”, afirma.

A Galeria de Arte e a Biblioteca integram o ambicioso Plano Político e Pedagógico Museu Memorial Iyá Davina, projeto contemplado pelo edital Somos Museus, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (SECEC-RJ), que abarca as atividades de inventário participativo, conservação de patrimônio cultural, criação de galeria de arte e estruturação da reserva técnica. Esta iniciativa representa o reconhecimento oficial da importância dos terreiros como espaços de preservação cultural e educação comunitária. O apoio da SECEC-RJ através do edital Somos Museus demonstra o compromisso do Estado com a democratização cultural e o reconhecimento da importância dos espaços comunitários na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.O edital Somos Museusé um programa da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, que visa a fortalecer e democratizar o acesso aos museus e espaços culturais fluminenses.

Mãe Nilce de Iansã, coordenadora do projeto, diz que a exposição “Odara – Entre cores e memórias”surge “como o primeiro de muitos diálogos que esta galeria proporcionará entre o sagrado e o estético, entre a tradição e a contemporaneidade”. “Sob a curadoria sensível e experiente de Marco Antonio Teobaldo de Oxóssi, a exposição estabelece pontes entre o individual e o coletivo, entre o íntimo e o universal, revelando como a arte pode ser veículo de preservação da memória e de afirmação identitária”.

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Para acessar o catálogo da exposição clique no link Odara – Catálogo – ago2025.pdf[1].pdf

O Museu Memorial Iyá Davina, criado em 1998 por iniciativa de Mãe Meninazinha de Oxum,possui um acervo com mais de 150 itens inventariados, entreobjetos sagrados e de uso rotineiro, fotografias e documentos guardados pela matriarca,relacionados à casa de axé e sua linha ancestral. Museu Memorial Iyá Davina se configura também como uma importante coleção etnográfica para pesquisa e preservação da memória dos povos de matriz africana. É reconhecido como o primeiro museu memorial do gênero no Estado do Rio de Janeiro, e recebea atenção das comunidades tradicionais afro-brasileiras das mais variadas partes do país, além de estudantes, pesquisadores e turistas. A instituição museológica é registrada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e se apresenta como uma das únicas opções de museus no município de São João de Meriti.

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Para acessar o catálogo: Museu Memorial IyáDavina – Ilê Omolu Oxum

Iyá Davina de Omolu (1880, Salvador–1964, Nova Iguaçu)foi iniciada por Procópio Xavier de Souza – conhecido como Procópio d’Ogum – no Ilê Ogunjá, em Salvador, em 24 de julho de 1910. No mesmo ano, se mudou para o Rio de Janeiro, com seu marido Theóphilo Pereira, ogã do Ilê Ogunjá, morando inicialmente no bairro da Saúde – uma residência que serviria de hospedagem provisória aos conterrâneos que migravam para a cidade, e que ficou conhecida como “Consulado Baiano”.No Rio de Janeiro, ela se ligou ao terreiro do pai-de-santo João Alabá, já famoso e frequentado por figuras importantes da cultura carioca como Tia Ciata. Com a morte de seu líder, em 1924, sua sucessora, Dona Pequena d’Oxaguian e seu esposo Vicente Bankolê, levaram o terreiro para o bairro de Bento Ribeiro, com ajuda de Iyá Davina,ficando lá até 1931. Depois, se mudam para Nova Iguaçu, onde instalama primeira roça de candomblé da Baixada Fluminense, a Casa-Grande de Mesquita (então bairro de Nova Iguaçu), com o nome oficial deSociedade Beneficente da Santa Cruz de Nosso Senhor do Bonfim. Com a morte de Dona Pequena, IyáDavina assume o comando do terreiro,sendo sua última ialorixá. Iyá Davina participou da fundação de inúmeros terreiros no Rio de Janeiro, como: Terreiro Bate Folha de João Lessengue; Ilê Axé Opô Afonjá de Mãe Agripina; Terreiro de São Gerônimo e Santa Bárbara, de Mãe Senhorazinha; Ilê Nidê, de Seu Ninô d’Ogun. Foi, também, madrinha de Oruncó de Pai Zézinho da Boa Viagem. Ao falecer em 1964, sua neta biológica e filha de santo, Meninazinha de Oxum, herdou seus fundamentos e fundou a Sociedade Civil e Religiosa Ilê Omolu Oxum, em 1968, na Marambaia, distrito de Tinguá, Nova Iguaçu.

ATELIÊ OBIRIN ODARA

No Ilê Omolu Oxum também está o Ateliê Obirin Odara, criado em 2013 com o objetivo de preservar as tradições e técnicas de costura ensinadas pela matriarca Iyá Davina de Omolu desde sua chegada ao Rio de Janeiro, vinda de Salvador com a sua família, em 1920. Mãe Nilce de Iansã destaca que “o legado de conhecimento que ela construiu tornou-se alicerce para futuras gerações de artesãos e religiosos”. “Esse precioso conhecimento tem sido preservado e continuamente transmitido por Mãe Meninazinha de Oxum, que dedica sua vida ao trabalho incansável de manter viva a tradição ancestral. Sua atuação representa mais de cinco décadas de resistência cultural, formação espiritual e preservação dos conhecimentos passados de uma geração para a outra, sobre as indumentárias sagradas”. 

No ateliê podem se encontrar, além das vestimentas rituais, roupas femininas e masculinas, ligadas à cultura afro-brasileira, e ainda acessórios, como colares, brincos, e bolsas. O projeto abriga também mulheres costureiras e bordadeiras vítimas de violência, sendo portanto um espaço de acolhimento.

Por ocasião do I Seminário Brasileiro de Museologia de Terreiro, no IPHAN_RJ, em 9 de setembro, foi lançado o catálogo Moda de Terreiro, resultado de pesquisa feita por Mãe Nilce de Iansã em três instituições no país: o Ilê Omolu Oxum,a Tenda Espírita de Umbanda Santa Bárbara, em Teresina; e aComunidade Terreiro Ilê Axé Iyemonja Omi Olodo e Céu Cacique Tupinambá, em Porto Alegre.

“Este catálogo é fruto de uma jornada pelos terreiros do Brasil, onde pudemos testemunhar a riqueza infinita dos saberes que nossos mais velhos preservaram por meio dos fios, das cores, das formas e dos símbolos que compõem nossasindumentárias sagradas. A dimensão comunitária da produção de indumentárias constitui um aspecto fundamental da organização social dos terreiros, fortalecendo solidariedade e vínculos transmissão conhecimentos”, afirma Mãe Nilce de Iansã.

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Para acessar o catálogo, clique em: MODA DE TERREIRO 2025.pdf

Serviço: Inauguração da Biblioteca Comunitária Ekedi Neide de Oxaguiã

27 de setembro de 2025, às 10 horas

Ilê Omolu Oxum – Museu Memorial Iyá Davina

Rua General Olímpio da Fonseca, 380, São Mateus, São João de Meriti (RJ)

www.ileomolueoxum.org

Projeto: Plano Político e Pedagógico Museu Memorial IyáDavinaFinanciamento: Edital Somos Museus – SECEC RJ

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