Impune, diplomata brasileiro agressor de mulheres faz mais uma vítima

Em 18 de novembro de 2016, Bianca e Viana brigaram em um motel de Brasília. Eles conversavam sobre a possibilidade de reatar a relação – marcada por abusos e ocorrências policiais. Ela relata ter se recusado a voltar, então ele a agrediu com chutes e uma cabeçada na boca. Funcionários do motel constam como testemunhas no processo, que corre na Justiça.

Do Diariodo Centro do Mundo 

Não foi a primeira – nem a última – vez que Bianca registrou uma ocorrência contra o diplomata. Em outra ocasião, ele a agarrou pelos seios, deixando-os roxos, e causou diversos hematomas nos braços, pernas e pescoço da vítima, como mostra o laudo do Instituto Médico Legal incluído em mais uma ação pela qual o homem responde judicialmente. O crime ocorreu dentro do apartamento funcional ocupado pelo servidor, na Asa Norte.

“Na ocasião, o denunciado desferiu um tapa no rosto da vítima; puxou os cabelos dela. Por fim, rasgou a roupa da vítima e apertou seus seios com muita força, causando-lhe as lesões descritas no laudo”, informa o processo.

Durante o interrogatório judicial, Renato Viana negou as acusações, mas afirmou ter precisado conter Bianca para se defender das agressões físicas, supostamente iniciadas por ela. O juiz, porém, contestou a versão do réu:

“Mesmo que o acusado tivesse agido em defesa própria para se defender de uma eventual tentativa de agressão desferida durante a contenda, sua reação seria desproporcional e ultrapassaria a conduta permitida pela lei, já que não teria utilizado os meios necessários para repelir a injusta agressão”, escreveu o magistrado.

Em janeiro de 2017, com a relação já encerrada, ele bateu em Bianca novamente, dessa vez na casa dela. “Ele quebrou tudo, arrancou o implante que eu havia feito. Chamei a polícia, e ninguém veio. Tive que ir à delegacia e exigir uma perícia, um novo exame no IML”, relata. Viana chegou a ser condenado a 3 meses de prisão, em um dos processos, mas teve a sentença suspensa por possuir “bons antecedentes”.

O passado do servidor público, porém, não é ilibado. Ele já respondeu a três processos administrativos disciplinares na Corregedoria do Serviço Exterior do MRE, após registros de ataques a duas mulheres em outros países e a mais duas no Brasil. Em território estrangeiro, Renato Viana desfrutou da imunidade diplomática: as autoridades locais não puderam investigá-lo, precisando recorrer ao Itamaraty.

Em 2002, um processo disciplinar investigou agressão do homem a uma terceira-secretária do Ministério das Relações Exteriores. A ação terminou arquivada com uma observação: o diplomata deveria controlar suas emoções e impulsos. No ano seguinte, Renato Viana se envolveu em agressão a uma namorada brasileira, de quem levou uma facada durante briga em seu apartamento.

Outra sindicância, esta de 2006, apurou violência contra uma cidadã paraguaia. Junta médica avaliou Viana e concluiu que, do ponto de vista neurológico, ele estava apto para exercer suas funções. A punição foi apenas uma advertência.

Em 2015, a Embaixada do Brasil em Caracas encaminhou ao MRE denúncia de uma venezuelana que alegava ter “sofrido ameaças, maltrato psicológico e tentativa de sequestro por parte de Renato de Ávila Viana”, como consta na sindicância à qual o Metrópoles teve acesso. A vítima enviou uma cópia da medida cautelar expedida contra o diplomata pela Divisão de Investigações e Proteção à Mulher da Venezuela.

A mesma investigação apurou comportamento agressivo do brasileiro em um evento no Instituto Cultural Brasil-Venezuela, quando ele agrediu verbalmente colegas e prestadores de serviços, durante uma festa após um jogo do Brasil na Copa do Mundo de 2014. O processo concluiu que não havia provas suficientes para puni-lo sobre a agressão à venezuelana. O servidor do Itamaraty ficou afastado das funções por 10 dias, pelo comportamento inadequado no evento diplomático.

(…)

Atualmente, há uma nova averiguação aberta a respeito do comportamento de Viana, iniciada após reclamações de Bianca ao órgão público. A síndica do condomínio onde ele ocupa um imóvel funcional do MRE também enviou e-mail à pasta e informou que vizinhos queixaram-se diversas vezes das brigas entre o morador e sua então namorada, as quais causavam barulho após as 22h. “Todo mundo me ouvia gritar, pedir socorro. Perdi as contas de quantas vezes apanhei”, lembra Bianca.

A jovem é filha de uma professora moradora de Valparaíso (GO). Conheceu Renato Viana por meio de um aplicativo de relacionamento. Ela tinha 20 anos; ele, 39. “Encantei-me por aquele homem culto, que fala sete idiomas e conhece o mundo. No começo era tudo maravilhoso, mas logo virou pesadelo”, relata

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