Inválidos e abstenções refletem falta de identificação do eleitor com propostas

Resultados podem se repetir no segundo turno, pelas estimativas dos especialistas

Por: Cláudia Freitas

O aumento não foi significativo em relação as últimas eleições, mas os números de votos brancos, nulos e de abstenções registrados no pleito deste domingo (5/10), que totalizam quase 30%, foram suficientes para sinalizar a ausência de uma identificação dos eleitores com as propostas apresentadas pelos candidatos nas eleições deste ano. Cientistas políticos estimam que as estatísticas devem se repetir no segundo turno, caso as campanhas não radicalizem nos seus programas de governo e sejam mais empolgantes. E a polarização entre o PT de Dilma Rousseff e o PSDB de Aécio Neves devem definir os rumos desses votos agora indefinidos.

O número histórico de abstenções em eleições em primeiro turno – 21,49% – aconteceu em 1998, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) buscava a reeleição tendo como principal adversário o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva. Neste mesmo pleito, as estatísticas de votos brancos e nulos também chegaram ao pico da média nacional, com 8% e 10,6%, respectivamente. Nos anos seguintes, aumentou o número de eleitores nas urnas e de votos válidos. Em 2002, ano que elegeu Lula à Presidência, o número de abstenção desceu para 17,74%, registrando 3% de votos brancos e 7,3% de nulos. Nas eleições presidenciais seguintes, em 2006, desceu ainda mais os índices de abstenção – 16, 75%. No entanto, em 2010 volta a crescer as abstenções para 18,12%, além dos votos brancos, que subiu para 3,13%. Já os votos nulos apresentou uma pequena queda de 0,17%, em relação à eleição anterior.

eleicoes-2014O cientista político Carlos Eduardo Martins, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro LEHC/UFRJ, avalia que os registros de votos inválidos e as ausências dos eleitores nas urnas em 2010 e no primeiro turno deste pleito, aponta para uma migração de eleitores do PT, que desde 2006 estão, gradativamente, deixando de votar nos candidatos do partido e integrando outras faixas, já que não encontram identificação com nenhuma outra legenda.

comparativo-com-as-campanhas-anteriores“Esses dados refletem a perda do encantamento com as candidaturas petistas. Só que os eleitores não encontram em nenhuma outra legenda uma identificação, caminhando, então, para as faixas de abstenção, nulos e brancos”, esclarece o cientista político. Martins considera que o PT deveria fazer uma reflexão mais profunda dessas estatísticas. “Eles [candidatos petistas] deviam radicalizar nas políticas sociais, na tentativa de recuperar esse eleitorado”, diz o especialista.

comparativo-com-as-campanhas-anteriores_1Avaliando os resultados das urnas neste primeiro turno, Martins ressalta como aspecto mais importante o recado deixado pelo eleitor. “A quantidade de votos inválidos e ausências sinaliza que o eleitor não se identifica com nenhuma das alternativas apresentadas pelos candidatos durante as campanhas. A população espera, talvez, por uma politica mais popular do que aquelas apresentadas pelos candidatos. Uma prova disso foram as manifestações de 2013, ficou muito claro o desejo por mudanças”, considera o especialista.

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As primeiras pesquisas divulgadas acerca das eleições de 2014 já alertavam para um possível número elevado de votos inválidos. Foi o que observou o cientista político e sociólogo da UFRJ, Paulo Baia, que atribui o fenômeno a um processo de “desencanto” dos eleitores pelos partidos, candidatos e, principalmente, pelas propostas. Segundo Baia, cerca de 60% dos 142 milhões de brasileiros externaram, em pesquisas realizadas logo no início das campanhas, o desejo de não votar, o que justifica os volumes nas urnas dos votos inválidos e das ausências. “Muitos eleitores só comparecem às urnas pela obrigatoriedade”, afirmou ele.

Segundo turno

Um fenômeno que caracterizou as eleições de 2006, na disputa entre o ex-presidente Lula e Geraldo Alckmin (PSDB), pode voltar a acontecer no segundo turno das eleições de 2014, de acordo com as previsões de Carlos Eduardo Martins. Ele acredita que o candidato tucano Aécio Neves está sujeito sofre um desgaste nesta segunda etapa eleitoral, em função da polarização que deve ocorrer com a adversária petista Dilma Rousseff, o que pode resultar na perda de apoios conquistados no primeiro turno. “A polarização aconteceu entre Dilma e Marina no primeiro turno, agora virou para o Aécio. O que pode também refletir nas faixas dos votos inválidos e abstenções”, avalia.

Martins relembra que nas eleições presidenciais em 2006, Geraldo Alckmin ficou na segunda colocação no primeiro turmo por uma margem muito pequena do primeiro colocado. Ele obteve 41,6% dos votos válidos contra 48.6% do ex-presidente Lula. Os votos inválidos contabilizaram neste pleito 8,4% e abstenções 16,7%. Já no segundo turno, Alckmin ficou em 39,1% dos votos, enquanto o presidente Lula disparou com 60,8%. Os índices de inválidos seguiu as previsões dos especialistas, com queda de 2%, mas as abstenções aumentaram 2%.

Outro fator analisado pelo cientista político foi o debate eleitoral na TV. As discussões que escapam dos temas principais da política nacional por candidatos coadjuvantes e com pouca expressão nas pesquisas eleitorais nos debates, na visão dos especialista, pode ter contribuído para uma desilusão do eleitor, que como resposta se ausentou das urnas ou invalidou o seu voto.

As estimativas de Paulo Baia são mais pessimistas ainda quanto as margens de votos inválidos e eleitores que devem evitar as urnas no segundo turno. O especialista acredita que essas faixas podem receber aqueles eleitores cujos candidatos foram derrotados no primeiro turno e não se sentem representados pelas duas alternativas. “Apesar de considerar que já atingimos, no primeiro turno, uma média muito elevada de votos inválidos para o padrão nacional, esse número pode ser ainda maior no segundo turno. Se houver qualquer redução, ela não deve ser significativa, não será menor que 25%”, avaliou o especialista, se referindo ao total de votos brancos, nulos e ausências.

Um caminho que Baia aponta para os postulantes conquistarem os eleitores destas faixas é uma dinamização da campanha, que a partir de agora dará mais visibilidade para os adversários. Ele explica que, apesar dos especialistas chamarem o segundo turno de “nova eleição”, os patamares já foram definidos na primeira etapa, assim como as suas tendências, que apenas são “exageradas” nesta segunda fase. “Como agora o tempo é igual para os candidatos nos debates, o que dá maior visibilidade a cada um deles e o torna mais potente, pode ser que dai saia alguns eleitores indecisos, que estavam dispostos a não votar ou anular”, avalia Baia.

Desilusão prevista em pesquisa

Poucos dias antes do primeiro turno, o Instituto Data Popular divulgou uma pesquisa realizada com 15.652 eleitores de 159 municípios. Setenta e três por cento dos entrevistados afirmaram não confiar nos candidatos a cargos eletivos nas eleições deste ano. Segundo o estudo, o brasileiro não confia nem nos postulantes que ele escolhe para votar.

De acordo com os dados, os menos confiáveis na opinião dos eleitores são os deputados estaduais, apontados por cerca de 82% dos entrevistados, seguidos pelos deputados federais, 75%, vindo na sequência os senadores, 65%; governadores, 40% e por último, ou seja, mais confiáveis, os presidenciáveis, 30%.

Os entrevistados responderam a partir de frases estabelecidas na pesquisa. Sessenta e cinco por cento concordaram com a frase; “Os políticos são todos iguais”. Para a maioria dos eleitores, o voto é dado ao candidato que parece ser “o menos pior”.

Fonte: Jornal do Brasil

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