Jé Oliveira se torna o primeiro diretor negro a vencer maior prêmio do teatro de SP

Com o prêmio, o dramaturgo celebra Léa Garcia, Rute de Souza e Mano Brown. “Apendi a ler o país com ele”

Por Igor Carvalho, do Brasil de Fato

“Não é possível que em mais de 60 anos, nunca tenha tido uma obra dirigida por um homem preto, digna de ter sido contemplada com esse prêmio” – (Foto: Divulgação/Instagram)

Jé Oliveira entrou para a história do teatro brasileiro, na noite da última segunda-feira (18), ao se tornar o primeiro negro premiado como melhor diretor na 63ª edição do prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), pela direção da peça “Gota D’Água Preta”, uma adaptação do livro homônimo de Chico Buarque, de 1975, que já havia sido montada nos palcos do Brasil em outras oportunidades.

“Não é possível que em mais de 60 anos, nunca tenha tido uma obra dirigida por um homem preto digna de ter sido contemplada com esse prêmio. Isso só se justifica pelo racismo, não é possível. Para mim, é como se esse prêmio fosse para todas as pessoas que vieram antes de mim e não puderam ser lembradas dessa forma”, celebra o diretor, em entrevista ao Brasil de Fato.

Jé Oliveira, criado na favela do Zaíra, em Mauá, na Grande São Paulo, fundou o Coletivo Negro em 2008, ao lado de Aysha Nascimento, Flávio Rodrigues, Jefferson Matias, Thais Dias e Raphael Garcia. Sua peça anterior à “Gota D’Água Preta” foi “Farinha com Açúcar”, escrita, dirigida e protagonizada por ele. O espetáculo nasceu após o dramaturgo entrevistar doze homens negros, propondo uma discussão sobre a construção da masculinidade dos sujeitos periféricos. A trilha sonora é composta por músicas dos Racionais MCs.

“Eu só consegui realizar essa concepção do Gota D’água, porque um dia eu fiz o ‘Farinha com Açúcar’ e aprendi um pouco com o Mano Brown sobre leitura de país”, completa Jé, que também homenageou outras duas atrizes com o prêmio.

“Além da equipe que realizou a obra comigo, sem eles a peça não teria a qualidade que tem, eu lembrei muito da senhora Léa Garcia e da dona Ruth de Souza, que são duas mulheres negras importantíssimas, pouco lembradas e que não tiveram essas glórias, que a gente precisava ter fornecido para elas.”

Por fim, Jé Oliveira celebra os caminhos percorridos pelo espetáculo que dirigiu. “Essa peça teve acesso a lugares da ‘branquitude’ muito significativos, como o Theatro Municipal, e conseguimos enegrecer esses espaços. Essa peça tensionou todos os lugares que ela passou.”

Edição: Rodrigo Chagas

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