Juarez Tadeu de Paula Xavier

Ele quer ampliar o debate da diversidade na universidade, aproximá-la da comunidade e pensar Bauru como um polo avançado de produção independente de audiovisual

Por Ana Paula Pessoto, do JC Net

Ele pesquisa e atua contra o racismo e em prol da diversidade na universidade, inclusive com a participação e coordenação de eventos que debatem e discutem os temas no Brasil e exterior. Em Bauru, já foi alvo de racismo e trabalha contra a segregação. O personagem desta edição é Juarez Tadeu de Paula Xavier, professor doutor do Departamento de Comunicação Social da Unesp de Bauru.

Filho de uma infância pobre e sofrida em São Paulo, mas muito digna, como ele faz questão de dizer, Juarez chegou em Bauru com a esposa Patrícia e a filha Bolají em 2011, onde tem se envolvido cada vez mais com os debates culturais e políticos.

Projetos profissionais para 2016? “Há três pensados com muito carinho: ampliar o debate da diversidade na universidade com ações estratégicas nesse sentido, contribuir com a aproximação da universidade com a cidade de Bauru e alinhar sobre a oportunidade de pensar Bauru como um polo avançado de produção independente de audiovisual. Eu e o professor Francisco Machado, da área de audiovisual da Unesp, temos conversado muito sobre isso”, enumera. Leia mais.

JC – Você tem vivido e se “misturado” à cultura de Bauru.
Juarez Tadeu de Paula Xavier –
Cheguei em Bauru em 2011. É como dizem: entre os romanos, viva como os romanos (risos). Estamos construindo relações em Bauru. Quando aqui cheguei, criei o Grupo de Estudos e Pesquisa em Economia Criativa (Neo Criativa), que se propõe a fazer estudos de grupos marginalizados, além de propor políticas públicas. Procuramos organizações quem não têm recursos próprios nas mais diversas áreas. Com isso, também estamos fazendo amizades. Estamos integrados com escolas de samba, mais especificamente com a Coroa Imperial, dirigida por mulheres negras. Também nos aproximamos do Bloco Bauru Sem Tomate é MiXto, por causa do debate político. E, recentemente, conhecemos o pessoal da família Baté, de Tibiriçá. Nesses grupos estão as pessoas mais cultas, mais gentis, mais urbanas, mais receptivas que temos conhecido em Bauru. Temos prazer em participar desses projetos culturais da comunidade.

JC – Como foi viver em São Paulo?
Juarez –
Nasci na Zona Norte de São Paulo. Meu pai era caminhoneiro, ficou um tempo preso e foi assassinado em 1970. Com a sua morte, a minha mãe começou a trabalhar como empregada doméstica para sustentar a família. Fui morar com minhas tias, todas empregadas domésticas, e comecei a trabalhar aos 10 anos de idade. Trabalhei em uma banca de jornal, onde ganhei o meu primeiro livro. Fiquei sem estudar dos 10 aos 17 anos. A gente morava perto do rio e enchentes eram permanentes. Minhas tias e madrinha foram muito aplicadas na nossa educação. Fui criado por mulheres guerreiras e muito decididas. Foi uma infância muito dura, muito pobre, mas muito digna.

JC – Foi quase uma década longe da escola. Qual foi o seu caminho até a universidade?
Juarez –
Já adolescente, entrei em uma fábrica e conheci um grande amigo que me incentivou a voltar a estudar. Fiz supletivo e entrei em um cursinho. Prestei vestibular para história na USP e jornalismo na PUC. Como na época eu estava articulado a movimentos políticos-estudantis, eu optei pelo jornalismo. Sou da turma de 1982, uma turma muito boa. Em 1983, fui eleito presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e fizemos a primeira ocupação da  reitoria, pelo congelamento das mensalidades.

JC – Sempre ligado à militância?
Juarez –
Sim. Ainda no DCE, montamos o comitê das diretas que ficou conhecido como “Os filhos da PUC querem Diretas Já”. Participei de todas aquelas manifestações. Paulo Freire, Franco Montoro, Aloizio Mercadante e Luiza Erundina foram apenas alguns dos nomes com os quais eu convivi na universidade. Foi um período muito importante na minha formação. O que mais marcou foi o debate político, cultural e intelectual com pessoas do mundo inteiro.

JC – O que o levou de volta à universidade?
Juarez –
Fiquei 10 anos fora, depois de formado. Voltei para a universidade principalmente porque senti a necessidade de uma reciclagem teórica e intelectual sobre o movimento negro e todo o debate político que o envolve. Fiz meu mestrado e doutorado no Programa de Mestrado e Doutorado na América Latina (Prolam/USP). Passei 10 anos estudando e pesquisando na universidade. Em 1995, começamos a discutir a questão das cotas.

JC – O senhor foi alvo de racismo em 2015, na Unesp de Bauru.
Juarez –
Isso. Sobre o assunto, há três questões importantes. A Unesp é uma universidade de classe internacional e, como tal, precisa aprender a lidar com as diversidades. Há muitos anos existe um processo de discussão pelo mundo afora sobre a inclusão de grupos acêntricos. E precisamos fazer essa discussão por aqui, o que vem sendo feito. Não é algo novo, mas tem que ser enfrentado.

JC – Quais são os efeitos do racismo na sociedade?
Juarez –
Ele provoca índices de morbidade: o jovem negro é o que morre mais, a mulher negra é a mais pobre, a que sofre mais violência… A violência contra essas populações é naturalizada na sociedade, desde as filas de ônibus, escolas, até a segregação. Estamos visitando comunidades em Bauru que parecem estar muito segregadas espacialmente, fisicamente… Por tudo isso é importante a denúncia constante, para desnaturalizar o que as pessoas acreditam ser natural.

Juarez Tadeu de Paula Xavier
56 anos
Signo de Leão
Nasceu em São Paulo
Casado com a pedagoga Patrícia Alves
Pai de Bolají
Leitura: Atualmente dedica-se às obras de autores como Karl Marx e Milton Santos
Cinema: Seu filme preferido é “Malcolm X”
Corintiano, tem o futebol e a capoeira como hobbies
Nota 10: Para Kabengele Munanga por ser um importante intelectual no Brasil atual e pelo debate e contribuições sobre a questão da diversidade na universidade.
Nota 0: Para a cobertura da imprensa em relação aos graves problemas brasileiros, devido à ausência do contraditório
E-mail: [email protected]

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