Jurema Werneck: Voz branca deve ser cada vez mais ativa no antirracismo

Jurema Werneck (Foto: Arte/UOL)

Brancos podem colaborar com a luta antirracista falando a partir do seu próprio lugar, defendeu hoje Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional no Brasil, em participação no programa UOL Entrevista.

“Não é falar por nós, usar de seus privilégios. Mas falar como branco, entre brancos é fundamental”, afirmou ela ao colunista do UOL, Leonardo Sakamoto, e à repórter Paula Rodrigues.

A diretora afirmou que o racismo permeia as relações cotidianas e faz com que a voz de negros seja menos escutada em algumas camadas. Werneck disse ainda que há estudos que apontam que a voz do branco antirracista tem um efeito importante nessas esferas.

Há um lugar de fala para o branco no antirracismo, que não pode ser o meu, o de uma pessoa negra. Mas há lugar para todo mundo, porque não existe antirracismo só por uma parte da sociedade. Tem um lugar para o branco no antirracismo. É preciso que esta voz branca seja cada vez mais ativa.

Werneck é médica e doutora em comunicação e cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na entrevista, disse que brancos escutam outros brancos se expressando de maneira racista dentro de seus próprios grupos, de uma maneira que ela, como mulher negra, pode não ouvir. “O branco antirracista deve falar que não é esta pessoa, e que as outras não devem ser [racistas], denunciar”, defendeu.

Luta antirracista no campo profissional

Outra frente de ação concreta para os brancos, argumentou, é a participação em movimentos e levantar debates públicos sobre o tema.

“Muitos são jornalistas, por exemplo, há um debate sobre quem são as fontes destes jornalistas. Outros são da área da saúde, e todos sabem como a discriminação acontece diariamente no sistema de saúde, então é hora de interromper ali. Outros são políticos, empresários? Então há muito que as pessoas podem fazer. Além de recusar a carteirinha de clube dos racistas, é preciso agir ativamente para tirar o racismo do seu lugar.”

Espaço ao negro na posição de especialista

O racismo nas manchetes tem levantado discussões também sobre quem analisa a luta antirracismo. No começo do mês, por exemplo, o canal GloboNews foi criticado nas redes sociais por escalar seis comentaristas brancos, entre homens e mulheres, para debater as manifestações em reação à morte de George Floyd nos Estados Unidos. No dia seguinte, a bancada foi formada apenas por profissionais negros.

“Os especialistas são gente de estudo e que têm algo a dizer, então é bom que estejam sendo convidados a falar, a mostrar o que têm a contribuir. Mas é preciso que não seja só agora”, pontua Werneck. “Se há canais que só descobriram agora que negros têm voz, é preciso que [o espaço] seja permanente, que não acabe quando as ruas esvaziarem, precisamos garantir isso”, afirma.

Na visão da diretora da Anistia Internacional no Brasil, as manifestações são apenas um dos mecanismos do enfrentamento ao racismo.

“É preciso atualizar estes mecanismos todos os dias, porque o racismo tem a capacidade de se refazer. Precisamos continuar permanentemente engajados: todo o mundo já sabe que o racismo existe e produz violências sem tamanho, portanto ninguém tem desculpa para se eximir desta luta. Ninguém”, diz Werneck.

Participaram desta cobertura Arthur Sandes, Gabriela Sá Pessoa (redação) e Diego Henrique de Carvalho (produção).

Foto em destaque: Reprodução/ UOL

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