Justiça arquiva investigação contra PMs suspeitos de ocultarem o corpo de Amarildo na Rocinha

Policiais do Bope eram apontados como responsáveis por retirar o corpo do pedreiro da comunidade em uma viatura do batalhão. Passados seis anos, ainda não se descobriu onde está Amarildo

Por Arthur Guimarães, Leslie Leitão, Lilia Teles e Marco Antônio Martins, TV Globo e G1

Arquivo/Agência Brasil

A Justiça do Rio de Janeiro arquivou, em abril deste ano, o processo contra 13 policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) apontados como suspeitos de ocultarem o corpo do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, em julho de 2013.

Na época do desaparecimento do morador da Rocinha, os PMs foram acusados de terem retirado o corpo de Amarildo da Rocinha em uma viatura do Bope.

O ajudante de pedreiro, morador da Rocinha, desapareceu em 2013, depois de ser levado para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora da comunidade.

Amarildo era suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas.

Em um primeiro processo, a Justiça concluiu que Amarildo Dias de Souza foi torturado e morto por policiais militares. Neste caso, 12 foram condenados. Mas o corpo de Amarildo nunca apareceu.

O Grupo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público estadual do Rio de Janeiro (MP-RJ) investigou os 13 PMs do Bope que estavam na comunidade no dia do desaparecimento.

A promotora Carmem Eliza Bastos de Carvalho diz que a investigação contra eles não avançou.

Imagens exibidas pelo Jornal Nacional, em junho de 2015, o Ministério Público apresentou uma versão que apontava a possibilidade da existência de um corpo na caçamba de uma das camionetes do Bope.

Segundo a promotora, os peritos do MP-RJ usaram tecnologia para analisar as imagens. Na época, os peritos concluíram que entre quatro policiais do Bope havia um volume que parecia ser de um corpo.

“Olhando, ninguém presta atenção. Mas com a tecnologia, foi aprimorando, aprimorando. Tem um volume aqui. Isto é um volume, e esse volume é compatível com um cadáver. É um cadáver? Não sabemos. Tem que se investigar. Não existe esse volume em nenhuma outra viatura do Bope que ali estava. Então, não podemos dizer que é um instrumento que o Bope carrega, não tem em outras viaturas”, disse, na ocasião, a promotora.

Quatro anos depois, o MP-RJ diz não ter nenhuma prova de que o suposto volume seria o corpo de Amarildo e, em uma outra análise das mesmas imagens feitas por peritos da Polícia Militar do RJ, nenhum volume foi encontrado na viatura e nem indícios de um corpo.

Com isso, a promotora enviou, em abril deste ano, para a Justiça, um pedido de arquivamento do caso.

Outras provas que poderiam ser usadas, também foram descartadas. O documento em que o MP pede o arquivamento do caso, obtido pelo Jornal Nacional relata, por exemplo, que foi “verificada presença de sangue na caçamba”. Ainda segundo o documento, exames de DNA foram feitos com parentes de Amarildo, entretanto, e o tipo sanguíneo não foi “compatível”.

“Não há outros elementos que comprovem a ação penal, que não haverá prova suficiente para autorizar um decreto condenatório”, conclui a promotora.

“O que se tem agora, que a possibilidade do Bope ter ocultado esse cadáver está completamente descartada. Eu acredito que o Ministério Público vai verificar as outras possibilidades que possam ter dado causa à ocultação do cadáver do Amarildo”, explica o advogado Patrick Berriel.

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