A Editora Nós lança no dia 17 de outubro, no espaço Ação Educativa, “Reza de Mãe”, livro de estréia de Allan da Rosa no gênero conto. O escritor, que já é referência no que se convencionou chamar de periafricania, o contexto do movimento de coletivos e ativistas negros que viceja na periferia paulistana, coloca seu livro em cena às vésperas das comemorações do Mês da Consciência Negra.
Os contos enfeixados no livro assomam diante de nós uma impressionante versatilidade, que abarca desde poemas narrativos como o conto que dá título ao livro, a fábulas anímicas como “O Barco”. Os estilhaços cotidianos vazam dos lábios dos personagens, que muitas vezes têm o boletim de ocorrência na pele e no CEP, sejam frutos da opressão policial em “O Iludido”, do tratamento dado às esposas, mães e amásias na visita dominical ao presídio, como em “Três Cocorinhas”, ou ainda do atavismo da história de vingança contra os barões escravocratas e suas madames de vestido de cambraia e casimira branca em“Costas Lanhadas”.
Mesmo diante do ambiente cruel da periferia, são personagens líricos, que têm nomes como Amora, Pérola, Lavanda ou Tebas de Jenê, e que podem aparecer em mais de uma narrativa, formando uma instigante teia de relações familiares que se estabelece a partir do conto “Pode Ligar o Chuveiro?”.
A elaboração poética de Allan é desvestida de qualquer artificialismo, sem frouxuras ou escorrências, centrada naqueles que têm ‘esmalte de cimento’, seja do Jardim Maxixe ou do Saboão da Terra, o microcosmo do autor.
Acima de tudo, percebe-se a laboriosa ourivesaria do autor em cada linha ou verso, que resulta em um converseio com o leitor através da manipulação lúdica dos jogos de palavras e da criação de novos vocábulos, como alguns que foram utilizados aqui.
Em síntese, uma estreia ambiciosa, digna dos escritores de duradouro alcance.
SOBRE O AUTOR
Allan da Rosa é escritor e angoleiro. Integra desde o princípio o movimento de Literatura Periférica de SP e foi editor do clássico selo “Edições Toró”. Historiador, mestre e doutorando na Faculdade de Educação da USP, ali, na ocupação do Núcleo de Consciência Negra, fez cursinho e foi professor e alfabetizador.
Pesquisa e atua em ancestralidade, imaginário e cotidiano negro. Há anos organiza cursos autônomos de estética e política afrobrasileira em várias quebradas paulistanas. Já palestrou, recitou, oficinou e debateu em rodas, feiras, universidades, bibliotecas e centros comunitários de muitos estados do Brasil e por Cuba, Moçambique, EUA, Colômbia, Bolívia e Argentina, entre outras paragens.
É autor de Da Cabula (Prêmio Nacional de Dramaturgia Negra, 2014), Zagaia (juvenil), dos livros-CD A Calimba e a Flauta (Poesia Erótica, com Priscila Preta) e Mukondo Lírico (Prêmio Funarte de Arte Negra, em 2014), além do ensaio “Pedagoginga, Autonomia e Mocambagem ” e outras obras.