Em entrevista à CRESCER, nosso colunista Lázaro Ramos revela detalhes da criação de Viagens da Caixa Mágica, seu primeiro álbum infantil
A paixonado pelo universo infantil, o escritor, ator e diretor Lázaro Ramos não esconde o entusiasmo ao falar sobre o lançamento de seu primeiro álbum musical para os pequenos, que mistura ritmos e sons ao abordar temas como autoestima, afetividade e identidade. O projeto Viagens da Caixa Mágica conta com nove faixas e terá lançamento duplo: no dia 15 de junho, em vinil, no YouTube e no Spotify, e no dia 16, em evento no Shopping Frei Caneca (SP), que tem a parceria da CRESCER. Além de Lázaro, participarão do bate-papo o músico Jarbas Bittencourt e a atriz e cantora Heloísa Jorge, que contribuíram no desenvolvimento das canções.
O projeto inclui clipes interativos com as letras das músicas e um show criado pelo trio. “Não sei se nossas agendas vão permitir muitas apresentações, mas é um projeto feito com amor, que as famílias vão poder aproveitar em vinil e nas plataformas digitais e, se surgir oportunidade, pessoalmente também”, conta Lázaro. Confira a entrevista com o artista:
De onde veio a inspiração para o álbum?
As músicas são inspiradas nos livros e peças de teatro infantis que já escrevi. O primeiro foi A Menina Edith e a Velha Sentada, que fala sobre autoestima e o uso responsável de tecnologia. Depois, veio Caderno de Rimas do João, baseado nas conversas que tive com meu filho quando ele começou a perguntar sobre as coisas do mundo – para tornar as explicações mais divertidas, resolvi responder em rima. Já em 2018, lancei Caderno Sem Rimas da Maria, inspirado nas palavras que minha filha inventa e no meu relacionamento com ela, que é bem diferente do João, tem outros desejos, uma personalidade mais forte e já chegou lutando pelo seu espaço.
Como surgiu a ideia de transformar os livros em músicas?
Depois de participar de alguns lançamentos de livros, percebi que era meio burocrático ficar sentado em uma mesa distribuindo assinaturas e tirando fotos rápidas, e decidi que queria fazer algo diferente, envolvendo música e teatro. Então, convidei meu amigo Jarbas Bittencourt, diretor musical do Bando de Teatro Olodum, para fazer uma música para abrir o bate-papo do lançamento do Caderno Sem Rimas da Maria. Começamos a trabalhar com o texto, fomos nos empolgando e, em pouquíssimo tempo, compusemos nove músicas baseadas nos livros. Após a primeira apresentação, mães e pais começaram a pedir as músicas quando participávamos de eventos em livrarias e espaços culturais e decidimos gravar as canções. Estávamos levando na brincadeira, então foi algo muito leve. Encontramos músicos espetaculares, chamamos a Heloísa Jorge, a Jéssica Ellen e a Lellê para participarem, e o material rendeu um álbum muito legal, que ganhou vida, apesar do nosso desejo de fazer algo despretensioso.
Como foi a seleção das nove músicas que compõem o álbum?
É um trabalho que está sendo realizado há um ano e meio com carinho para levar um álbum que seja divertido e ofereça algo novo ao universo infantil. Viagens da Caixa Mágica reúne temáticas e arranjos bem variados. Uma das músicas, por exemplo, é uma homenagem ao [Gilberto] Gil, que surgiu de um dia de Carnaval em que mostrei para o meu filho quem era o cantor que ele tanto gostava, quando saímos com os Filhos de Gandhi, na Bahia. O João ficou olhando para o Gil, encantado, durante o circuito inteiro. Acabei escrevendo um poema do Caderno de Rimas do João e depois fizemos a música. Tem também Atrapalhante, que conta sobre dois irmãos que implicam um com o outro, mas se amam; Denguidacho, que é sobre gostar do cabelo crespo; A Dança do João, que apresenta diversos ritmos e convida as crianças a inventar passos; e Dois Irmãos, uma canção serena que o Jarbas compôs vendo a relação entre mim, Taís e nossos filhos. Tem opção para todos os momentos.
Para você, por que é importante falar com as crianças sobre temas complexos como identidade, afeto e amor próprio?
Os meus projetos querem conversar com as questões que preocupam os pais em relação aos filhos, mas de uma forma antenada, divertida, sem subestimar as crianças. Em algumas músicas, por exemplo, usamos na composição sons de panela, copo e instrumento infantil para trazer o universo das crianças sem perder a qualidade musical. Quero trazer um ponto de vista do mundo e acho que, no momento que vivemos, é mais importante do que nunca criar essas narrativas que transmitam valores, falando sobre afetividade da família, da autoestima, das brincadeiras e que defendam o direito das crianças de aproveitar a infância. Os projetos se interligam nesse desejo de fazer uma infância saudável e criar um ponto de diálogo entre filhos e pais. É uma linguagem que, para mim, vem naturalmente, pelo fato de ser pai e trabalhar com isso há muito tempo. Atualmente, não consigo não escrever ou pensar no universo infantil. Gosto muito, já está na minha rotina.