“O fato de ser artista e ativista me dá uma possibilidade de, através desse lugar tão inspirador que são as produções artísticas, falar sobre respeito e relembrar coisas que às vezes a gente esquece no trajeto”, diz o ator, diretor e escritor Lázaro Ramos em entrevista a Ecoa. Ele próprio faz o exercício de rememorar assuntos que julga importantes para o momento atual do país, como a luta antirracista ou a defesa dos direitos humanos — questões que permeiam o trabalho e a vida do artista.
Para inspirar as pessoas a participar dessas lutas, ele aposta na boa informação somada à emoção. “Muitas vezes as pessoas estão conscientes, mas não estão sensibilizadas”, afirma.
Junto a Ailton Krenak, Marina Silva, Bruno Gagliasso e Christiane Torloni, Lázaro é um dos indicados pelo público ao Prêmio Ecoa na categoria Vozes que Ecoam, que celebra personalidades conhecidas por defender causas e propor essas novas formas de pensar em um mundo mais justo e sustentável.
A categoria é totalmente definida pela participação do público, desde a escolha dos finalistas. Para votar, clique aqui ou vá ao fim desta entrevista. A votação vai até 21 de novembro.
Ecoa – Qual causa você considera mais relevante e urgente para a construção de um futuro melhor?
Lázaro Ramos – Mora em mim a utopia de que vamos conseguir trabalhar pelo bem comum de todos e contra todas as injustiças. Claro que existem alguns temas que são mais evidentes na minha vida, como a luta antirracista, a luta por uma educação de qualidade, por paternidade ativa e presente? São temas que estão mais no meu dia a dia. Utopicamente, eu não consigo achar que vai dar para ter uma prioridade, a gente tem muito a caminhar.
Mas acho que todas estas questões são conectadas pela educação, especialmente a educação pública de qualidade. Valorizar a educação, a figura do professor, do educador, que é um profissional que passa pela vida de todos nós, e muitas vezes a gente não investe adequadamente neles. Não tem como tapar os olhos para outras questões também, como valorização da ética da educação, da cultura, não dá para esquecer do meio ambiente, deixar de pensar nos cuidados com a infância, com nossas crianças, nos exemplos que a gente está dando para eles, o investimento que estamos fazendo neles.
Enfim, a utopia mora aqui, e ela me diz que a gente precisa estar atento a tudo. Talvez direitos humanos seja uma expressão que conecta tudo.
Como inspirar as pessoas a tomar parte nessa luta?
É muito difícil falar de uma fórmula para inspirar as pessoas de uma maneira geral. Acho que cada um tem sua estratégia. A minha tentativa é falar sempre numa mistura de coração e informação sólida. Em um momento de tanta fake news e tanto ódio, acho que é uma arma poderosíssima falar com muito conteúdo relevante e trazendo atenção para os fatos, além de colocar emoção junto porque muitas vezes as pessoas estão conscientes, mas não estão sensibilizadas.
Qual a importância de usar sua voz, enquanto pessoa pública, para divulgar causas sociais e ambientais?
Para mim, é algo que eu me digo todos os dias: ter o microfone nas mãos e a atenção das pessoas é uma benesse, mas também é uma responsabilidade. E isso fica muito mais leve se a gente faz bom uso desse microfone — não por ser pessoa pública, mas por ser mais um morador desse país, por ser mais um cidadão brasileiro do mundo. Esse é um pensamento que parece simplista, mas às vezes a gente esquece, e vai se alimentando de outras coisas que não o bem-estar coletivo.
Que mudança você gostaria de provocar com a sua atuação?
A minha atuação tem um princípio que é um dos mais belos e poderosos, na minha opinião, que é trabalhar com a arte junto. O fato de ser artista e ativista me dá uma possibilidade de, através desse lugar tão inspirador que são as produções artísticas, falar sobre respeito e relembrar coisas que às vezes a gente esquece no trajeto: a importância da educação, do respeito, da ética, do cuidado, a importância da justiça social e dos direitos humanos. É uma contribuição que faz parte de um grande coletivo que tem esse desejo de falar para o mundo como a gente ainda precisa caminhar e como o que está estabelecido não é o final de tudo. Estamos numa eterna caminhada, e a gente precisa se olhar e olhar para o lugar em que vivemos o tempo todo para tentar fazer o certo.
O que ou quem te inspira a seguir tendo esperança neste futuro melhor?
Eu tenho muitas inspirações, por exemplo, Ailton Krenak. Na pandemia, a gente viu uma tecnologia de organização de distribuição de alimentos, entendendo a logística das comunidades muitas vezes mais do que o próprio Estado — essas pessoas me inspiram muito. O resgate dos meus ancestrais vivos, como Conceição Evaristo, Sueli Carneiro e Muniz Sodré, que são vozes poderosas há um tempo e que vêm pensando nas causas em que eu agora com 42 anos estou presente também. E ao mesmo tempo fico muito de olho na nova geração que traz pessoas que sacodem o tempo todo a minha mente e que fazem com que eu tenha mais coragem e vitalidade para trabalhar — pessoas como Emicida, passando por Luedji Luna, por exemplo.
Vote também na categoria Fizeram História que reúne 14 pessoas que descobriram coisas, lutaram por causas, desafiaram padrões e deixaram contribuições relevantes para a construção de um mundo melhor, mais justo, diverso e sustentável. Conheça a história de cada uma delas aqui em Ecoa e vote abaixo na sua favorita.