Lazzo Matumbi celebra 40 anos de carreira com lançamento de disco e videoclipe

Os 40 anos de trajetória musical, artística, política e ativista do cantor e compositor Lazzo Matumbi serão celebrados com o lançamento, no final do mês de maio, do nono disco da sua carreira e um videoclipe, com direção de Urânia Munzanzu, da música “14 de Maio” – composta em parceria com o saudoso Jorge Portugal e que se tornou um dos hinos das comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra. O evento será realizado com uma live do artista com a participação do guitarrista e multi-instrumentista virtuose Felipe Guedes (co-produtor musical do disco), através do canal do cantor no youtube. 

O álbum, intitulado “ÀJÒ” (lê-se AJÔ), vem sendo produzido desde 2016. Àjò é uma palavra de origem yorubá cuja tradução para algumas etnias africanas significa “jornada”. No Brasil Àjò adquiriu um significado que é diferente da Nigéria, que para a comunidade negra e para a luta antirracista se traduziu como união. No repertório do disco, canções autorais inéditas e releituras de canções próprias, como uma nova roupagem para “Djamila” (Lazzo Matumbi/Ray César) – que em 1981 foi batizada com o título de “Salve a Jamaica”. E também a música“14 de maio” que reflete as mazelas da abolição no Brasil. O disco conta ainda com as participações das cantoras Larissa Luz, Luedji Luna, do maestro Bira Marques e do rapper BNegão. A produção do projeto é da Giro Planejamento Cultural em parceria com a produtora Júlia Maia. 

Lazzo Matumbi 40 Anos (Foto de Caio Lírio)

“Esse é um disco de resgate dos meus 40 anos de caminhada, onde trago as experiências vividas,  reflexões  e acolhimentos adquirido  ao longo da minha trajetória. Através da minha Ancestralidade chego aos dias de hoje, agasalhado pela música  com o mesmo carinho, respeito e tranquilidade para preparar  um material livre das  exigências mercadológicas. Com a satisfação  da alma, deixando fluir  o que de melhor eu possa oferecer para  chegar aos corações de quem sempre adubou com carinho e aplausos de emoção a minha história musical e cada peça esculpida na passarela dos sonhos. Trago nesse disco, desde a primeira música  gravada, no início da minha carreira, até as mais novas  inspirações construídas no leito do meu silêncio, a sós ou em parcerias com novos e antigos amigos; na intenção de retratar  um pouco do sonhador  preocupado  na construção de um mundo melhor e mais justo  para todos na busca incansável do respeito às diferenças, do amor e da paz, através das canções”, compreende Lazzo. 

De corpo e alma, o cantor e compositor Lazzo Matumbi vem se tecendo, ao longo de suas experiências e processos criativos, a partir de uma profusão de gêneros de matriz africana, como o samba, o reggae, ijexá, o soul e diversas outras sonoridades incorporadas à sua verve ancestral negra. A versatilidade do artista transita por muitos ritmos e estilos, que encontram na sua voz interpretações repletas de nuances, de improvisações e de muita emoção. São inúmeras camadas e facetas, ora romântica, ora questionadora, ora festiva… Mas sem perder de vista a sua essência e a sua visão  de mundo. 

Em diálogo constante com a cena musical contemporânea, Lazzo vem sendo reverenciado por diversos artistas e grupos que o reconhecem como referência em suas carreiras, tendo feito recentemente participações nos discos de Pitty (Matriz, 2019), Larissa Luz (Trovão, 2019) e Baiana System (single “Calundu”, 2014). Sem falar que em 2018, o Prêmio da Música Brasileira, o mais importante do país, convidou Lazzo para uma homenagem a Luiz Melodia, ao lado de Iza e Liniker. 

O projeto é um dos contemplados pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundo da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.

Lazzo Matumbi 40 Anos (Foto de Caio Lírio)

LAZZO MATUMBI – história, vida, ativismo, inspirações e projetos  

O cantor e compositor Lázaro Jerônimo Ferreira (24 de março de 1957) – o Lazzo Matumbi – foi um dos vocalistas pioneiros de blocos afro no Brasil, começando no Ilê Aiyê, entre 1978 e 1980, onde percebeu

a real dimensão do que era cantar para um grande público negro e assim poder observar no semblante do seu povo preto a necessidade de união e de conexão com o renascimento africano – num contexto de diálogo com outros movimentos musicais e políticos mundiais, como o reggae jamaicano, o Afrobeat de Fela Kuti, o soul, o blues, entre outros. E compreender de maneira mais intensa a importância das questões étnico-raciais, da necessidade de autoafirmação e dos valores da cultura afro-brasileira. 

Após a sua passagem pelo bloco afro Ilê Aiyê, o artista montou no histórico Teatro Vila Velha, em 1981, o show “Luz no Escuro”, produzido pelo jornalista e radialista Nelson Rocha. Dessa época recebe do radialista paranaense Baby Santiago (1947– 2001) o convite para gravar seu primeiro disco, um compacto das músicas “Salve a Jamaica” (Lazzo Matumbi/Ray César) que posteriormente virou “Djamila”; e “Guarajuba” (Elson Ramos/Zacarias). Nesse momento já fazia o seu movimento de se colocar como artista autoral. A Bahia vivia uma fase de boa aceitação da música reggae e, por essa razão, “Salve a Jamaica” pipocou no estado. 

O artista fez parte de um grupo de samba chamado Sampagode e montou uma banda chamada “Estúdio 5”, com releituras do reggae, com a qual fez diversos carnavais em trios independentes. Logo  após cria o bloco de reggae Coração Rastafári – que desenvolvia ações solidárias, onde os foliões trocavam a fantasia por alimentos não-perecíveis, que eram doados a instituições e projetos sociais. Por um longo tempo foi considerado um cantor de reggae, porém sua veia artística sempre foi experimental, de cruzamento de sonoridades. Entre as suas referências, cita Marvin Gaye, Ray Charles, James Brown, Wilson Simonal, Maestro Erlon Chaves, Xangô da Mangueira, Bob Marley, Jimmy Cliff, entre outros. 

Em 1983, grava o LP “Viver, Sentir e Amar” e, em 1985, “O Filho da Terra”, ambos pela gravadora Pointer, a convite de Moacir Machado, produtor musical que trabalhou por mais de 30 anos para a Odeon. Do mesmo selo faziam parte Célia, Rosa Marya Colin, Silvinha, Eduardo Araújo, Filó, entre outros artistas expoentes do cenário nacional. 

Entre as muitas conquistas e curiosidades dessa trajetória, recorda do sucesso da música “Coisas que não entendo”, que virou videoclipe no programa Fantástico (Rede Globo) – o que foi uma verdadeira quebra de tabu na época: não era comum se ver clipes de artistas negros no Fantástico. E lembra, entre risos, de quando o título da música “Do jeito que Seu Nêgo Gosta”, estourada na Bahia, virou nome de restaurante na Lapa, em Salvador. O que levou muita gente a pensar que o próprio Lazzo seria o proprietário. 

Em 1988, lançou o LP “Atrás do Pôr do Sol”, pelo selo Nosso Som (Wesley Rangel/WR Estúdios). 

Nesse mesmo ano, Alegria da Cidade, a primeira composição do artista em parceria com Jorge Portugal vira sucesso nacional na voz de Margareth Menezes. 

Em 1986 participou do disco “Mensageiro da Alegria”, do cantor e compositor Gerônimo, lançado pela gravadora Polygram. 

Em 1988 participou do LP “Afro e Afoxés da Bahia”, produzido por Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro, em homenagem aos blocos afros da Bahia, no qual Lazzo cantou “Malê Debalê”. 

Em 1991, Lazzo encontra Jimmy Cliff no estúdio Pró-Áudio, onde o artista jamaicano gravava um disco chamado Black-Out, para o qual convidou a cantora Margareth Menezes a participar da regravação da música “Me Abraça e Me Beija” (Lazzo Matumbi). 

Impressionado com a interpretação de Lazzo, Jimmy Cliff o convida para uma turnê nacional e outra internacional, entre 1991 a 1993, pela Europa, EUA e Ásia, nas quais o artista abriu uma maratona de mais de 50 shows, além de integrar a banda como backing vocal. Aproveitando a oportunidade de estar na Jamaica, Lazzo se aprofunda nos estudos do reggae e grava parte do disco “Arte de Viver”,  concluído e lançado no Brasil em 1995. 

Ainda em 1995 interpretou a personagem Tomaz de Ogum na ópera Lídia de Oxum – escrita por Ildásio Tavares e Lindembergue Cardoso – com direção de Paulo Dourado. 

Em 1997 participou do disco “Tropicália – 30 Anos”, produzido por Roberto Sant’Ana.

1999 faz participação no disco Pérolas Finas – produzido por Edil Pacheco – onde canta “Rose”, composição de Ederaldo Gentil. 

Em 2000, atuou na ópera “Rei Brasil, 500 Anos, uma Odisséia Tropical”, com texto de José Carlos Capinan e direção de Paulo Dourado. 

Em 2000 grava o disco “Nada é de Graça”, produzido pelo próprio Lazzo e André Sant’Ana. E a convite de Roberto Sant’Ana , lança o álbum pela Warner. 

Em 2002 participa do disco “Do Lundu ao Axé – 100 Anos de Música Baiana” – produzido por Paulinho Boca.

Em 2008 grava o disco Lazzo Matumbi Ao Vivo – no Teatro do Irdeb. 

No réveillon de 2010/2011 participou do Fesman no Senegal, dividindo palco com grandes nomes como Akon e Youssou N’Du. 

Em 2013 grava o disco homônimo Lazzo Matumbi, produzido por Jorge Solovera.

Em 2016, ao lado de Carlinhos Brown, Ellen Oléria e Larissa Luz, participa do show Pérolas Mistas. 

Em 2017 faz a abertura da temporada do projeto Domingo no TCA, com o show “Voltando às Origens”, onde rememora o começo da sua carreira e seu forte envolvimento com o samba. 

Em 2018 fez no TCA o show Lazzo canta Melodia, em homenagem ao amigo Luiz Melodia. Logo depois foi convidado pela viúva do cantor, Jane Reis, para comandar o show “Música Romance”, com patrocínio do programa Natura Musical. Em dois shows, um no Rio de Janeiro e o outro em São Paulo, onde Lazzo dividiu o palco com Chico César, Mart’nália e Priscila Tossan.

Em 2019, homenageia o samba da Bahia no show “Batuques do Coração”, com apresentações na Sala do Coro do TCA e posteriormente no Café-Teatro RUBI. No repertório, composições de Batatinha, Ederaldo Gentil, Walter Lima, Edil Pacheco, Nelson Rufino e diversos outros mestres do samba

Ainda em 2019, Lazzo fez show no projeto TOCA! com as participações de Luedji Luna e Russo Passapusso. E também fez show no SESC Pompéia, com casa cheia e uma grande repercussão. Em novembro do mesmo ano, participou do Festival Radioca com um show muito comentado pela crítica nacional, que no line up também trazia João Donato, Céu, entre outros artistas. E para completar o ciclo vitorioso de 2019, Lazzo gravou nos discos de Pitty (Matriz, 2019), Larissa Luz (Trovão, 2019) e fez participações em diversos shows das duas artistas, em Salvador e em São Paulo. 

Em 2020, participou do projeto Concha Negra (do Governo do Estado da Bahia), no qual realizou o baile dançante “O Nosso Jeito de Ser”, com abertura do Ministereo Público e as participações de Michaela Harrison, Aiace e do grupo de rap Opanijé. 

Nesse mesmo ano de 2020, participa do projeto Devassa Encontros Tropicais, no qual a cantora Iza e o maestro Letieres Leite convidaram Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Larissa Luz, BNegão, Mateus Aleluia, entre outros artistas. 

 

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