Le Monde: “Desprezo social se instalou no coração dos brasileiros”

Em uma matéria do jornal Le Monde desta terça-feira (26), o historiador Laurent Vidal analisa a atual crise brasileira. O especialista relembra fatos do passado do país para explicar o contexto atual e afirma que a solução vai além da saída da presidente do poder.

Do DCM

Ao jornal francês, Laurent Vidal, que leciona na Universidade de La Rochelle, explica que a crise que o Brasil enfrenta desde a reeleição de Dilma Rousseff, em outubro de 2014, revela a sociedade brasileira de hoje, que longe de ser o “país do futuro”, está ligada ao presente e capturada por seus demônios do passado. Um dos primeiros demônios, segundo o professor, é a questão da discriminação, que vem sendo ressaltada desde a vitória de Dilma.

Para ele, um dos estopins foi a mídia nacional, que logo após os resultados, divulgou mapas do Brasil onde era possível ver claramente uma divisão da nação: de um lado, na metade superior, os estados do norte e nordeste, pintados de vermelho, que teriam uma maioria de votos para a presidente e, do outro, pintados de azul, os estados que de onde viriam a maior parte dos votos do rival Aécio Neves.

“Esse retorno dessas duas faces do Brasil esconde principalmente uma forma de desprezo social, que se instalou no coração dos brasileiros. O excluído hoje não é apenas aquele que sofre das carências materiais, mas também aquele que não é reconhecido como sujeito digno de se pronunciar sobre uma escolha política e social”, analisa o professor nas páginas do Le Monde.

Vidal também chama atenção para o fato de que “a luta contra a corrupção, reivindicada pelos adversários da presidente, é um elemento clássico da história do país”. Ele lembra que, em 1808, o primeiro jornal brasileiro já falava dos danos que ela provocava na corte portuguesa exilada no Brasil, conclui.

“O impeachment não resolverá a crise profunda que atravessa o país, pois não é o futuro que divide os brasileiros, e sim o súbito ressurgimento de um passado doloroso. Enquanto esse passado não for exorcizado, vai ser difícil imaginar um projeto de futuro capaz de integrar a diversidade desse país e de restaurar a confiança e o respeito entre os brasileiros”, finaliza o historiador ao Le Monde.

+ sobre o tema

Blogueiros pedem acesso à lista e dados dos 8.667 clientes brasileiros do HSBC

Dar acesso à lista e dados dos 8.667 clientes...

MG lidera novamente a ‘lista suja’ do trabalho análogo à escravidão

Minas Gerais lidera o ranking de empregadores inseridos na...

PCC volta às manchetes

Por Luciano Martins Costa   Os jornais de...

Pobre, negro e coxinha?

Sim, claro que tudo é possível e cada um...

para lembrar

Os Kennedy, seres mágicos e canonizados do Olimpo?

Fonte: O Tempo - Desde criança sou voeirista da saga...

ONU convoca brasileiros para combater o racismo

Os superlativos números da violência contra jovens negros no...

Luiz Silva Cuti: A empáfia do poeta Gullar

Desdobramento texto de Ferreira Gullar  - Preconceito Cultural. "Cruz e...

Professor da USP tenta impedir ato de apoio a funcionário agredido no Carrefour

Fonte: Jornal Ìrohin Vaias e discussões marcaram manifestação...

Golpes financeiros digitais deixam consequências psicológicas nas vítimas

Cair na conversa de um estelionatário e perder uma quantia em dinheiro pode gerar consequências graves, não só para o bolso, mas para o...

Brasil e os seus traumas: na dúvida, o esquecimento do golpe de 64

Há alguns dias corre a notícia de que o governo federal orientou os seus ministérios a não promover grandes atos ao redor da memória do...

Fim da saída temporária apenas favorece facções

Relatado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o Senado Federal aprovou projeto de lei que põe fim à saída temporária de presos em datas comemorativas. O líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA),...
-+=