No Carnaval de 2026, o legado de Geledés-Instituto da Mulher Negra tomará a avenida do Sambódromo do Anhembi, em São Paulo (SP). Com o enredo “GÈLÈDÉS- Agbara Obinrin”, a escola de samba Mocidade Unida da Mooca (MUM) homenageará Geledés e a potência das mulheres negras brasileiras.
Para Lilian Santos, vice-presidenta de Geledés, a homenagem é muito significativa. “O carnaval é uma das expressões culturais mais poderosas do nosso país, um espaço de arte, resistência e memória. Ver a história de Geledés, construída há mais de 35 anos com tanto esforço, coragem e compromisso com os direitos das mulheres negras e da população negra em geral, ser contada na avenida é um reconhecimento coletivo que transcende o Instituto”, afirma.
E continua: “é um gesto político e simbólico que reafirma a relevância da luta antirracista, do protagonismo feminino negro e da valorização das nossas histórias. É também um presente para todas que vieram antes e abriram caminho, e para as gerações futuras que continuarão a luta”.
Segundo a enredista Thayssa Menezes conta que o enredo está sendo construído a partir dos ensinamentos de várias intelectuais negras, como Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Laudelina de Campos Melo, Beatriz Nascimento e Conceição Evaristo. “Queremos muito reverenciar todas essas mulheres, sejam elas muito conhecidas ou não, queremos que cada mulher preta se veja nesse desfile. E que seja de uma maneira muito digna”, afirma.
Lilian conta que o convite para a homenagem chegou em abril deste ano, e que posteriormente foram realizados diálogos com a diretoria da organização para tratar do enredo e da proposta conceitual.
O ano de 2026 será o primeiro em que a Mocidade Unida da Mooca desfila no Grupo Especial. Em 2025, a escola foi vice-campeã do Grupo de Acesso 1 com o enredo “Krenak – O presente ancestral”.
Segundo Rafael Falanga, presidente da MUM, a escolha de Geledés como enredo para a estreia no Grupo Especial foi um “chamado” e dá continuidade à priorização de pautas sociais pela agremiação. “Escolhemos para nossa estreia, algo maior do que nós mesmos, algo ancestral, necessário e político. O culto Gèlèdé é uma celebração do sagrado feminino negro, de pensar a sociedade do ponto de vista do protagonismo das mulheres negras. É uma homenagem, mas também é um manifesto”, explica.
“A Ópera negra de Abdias do Nascimento”, “Aruanda – O Eterno Retorno” e o “O Santo Negro da Liberdade” são enredos que fazem parte da histótia da escola e ressaltam o protagonismo negro.
Fundada em 1987, a MUM está situada na Mooca, um bairro antigo e tradicional localizado na zona leste de São Paulo. “Meu pai Roberto Falanga foi o fundador da MUM e a minha mãe Maria do Carmo foi pioneira como mulher diretora de bateria em São Paulo”, diz Rafael, e acrescenta “nossa história é marcada pela luta, pela coletividade e pelo sonho que atravessa gerações”.
GÈLÈDÉS- Agbara Obinrin
Com criação do carnavalesco Renan Ribeiro e da enredista Thayssa Menezes, o enredo “GÈLÈDÉS- Agbara Obinrin” pretende ser uma ode à força invisível que transforma o mundo: o poder do feminino negro. E fará isso, a partir de uma homenagem ao legado de Geledés.
“Das sociedades secretas africanas aos terreiros, dos becos da resistência às salas de aula e espaços de poder: essas mulheres estão por toda parte — criando, nutrindo, ensinando e abrindo caminhos. São revolução cotidiana”, explicou a escola de samba em seu perfil.
Thayssa Menezes destaca que o desfile trará referências africanas e afro-brasileiras em que as mulheres detém o poder. É o caso do candomblé, em que a mulher ocupa “uma figura de governança, de poder, de prestígio”.
Segundo Rafael Falanga, o objetivo é que o enredo se desdobre em ações concretas, como a maior presença de mulheres em cargos de liderança no Carnaval. “Levar Geledés para o desfile da MuM é reconhecer que o poder feminino negro não apenas resiste — ele funda, educa, cura e transforma. É mostrar uma matriz civilizatória africana que foi sistematicamente apagada, mas que sobreviveu em cantos, rezas, saberes e lutas”, diz