Encontrar uma definição para o termo periferia que possa abarcar as milhares de periferias do mundo contemporâneo não é uma tarefa simples. Foi tentando encontrar respostas para este desafio que representantes de 15 países se reuniram em uma dos maiores conglomerados de favelas do mundo: o complexo de favelas da Maré.
Por Donminique Azevedo do Portal Correio Nagô.
A ideia de construção de uma visão convergente – aberta a adesões e contribuições – norteou o encontro, realizado, em meados deste mês, que contou com gente dos EUA, México, Costa Rica, Colômbia, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, África do Sul, Portugal, Escócia, Inglaterra, França, Egito, Moçambique, Índia, China e Austrália.
A Maré conta com 16 comunidades, cada uma com suas especificidades. Cercada pelas linhas Vermelha, Amarela e pela Avenida Brasil, o conjunto passa por um aumento significativo da poluição. Por outro lado, há uma relação de proximidade das pessoas com a rua, ocupação dos espaços públicos, é visível uma identidade territorial. O empreendedorismo é outra marca da Maré.
Piscina instalada na rua em uma das localidades da Maré. Com as altas temperaturas no Rio, moradores buscam alternativas para driblar o calor. Chuveirão na rua é outra solução.
E foi percorrendo essas localidades e, por meio de um intenso debate, que cerca de 100 participantes do I Seminário Internacional Rio-Periferias: “O que é periferia, afinal, e qual seu lugar na cidade?” consolidaram um documento balizador sobre as periferias urbanas no mundo contemporâneo, mais conhecido como Carta da Maré – Um Manifesto das Periferias.
A Carta da Maré tem âmbito internacional e traz informações sobre o que é favela, o que ela precisa e o que ela tem.
“Os proponentes e as proponentes dessa carta recusam a visão reducionista, estereotipada e desqualificadora dos territórios periféricos. Com efeito, a pluralidade das formas e das dinâmicas sociais, econômicas e culturais se coloca como um desafio na compreensão do que são as periferias e, por conseguinte, na definição de parâmetros abrangentes que orientem leituras mais precisas”, diz trecho presente no documento.
A definição de periferias não deve ser construída em torno do que elas não possuiriam em relação ao modelo dominante na dinâmica socioterritorial ou da distância física em relação a um centro hegemônico. Elas devem ser reconhecidas pelo conjunto de práticas cotidianas que materializam uma organização genuína do tecido social com suas potências inventivas, formas diferenciadas de ocupação do espaço e arranjos comunicativos contra-hegemônicos e próprios de cada território” – Carta da Maré – Um Manifesto das Periferias .
“Participar de um seminário com âmbito internacional foi importante, principalmente, por poder interagir, discutir e refletir sobre o que são as periferias nos seus aspectos mais diversos, e registrar uma carta numa perspectivas além das fronteiras territoriais, sem deixar de ser específico, no que se refere às condições humanas e na violação dos seus direitos como cidadão do mundo”, conta um dos diretores do Instituto Mídia Étnica, uma das organizações sociais que participaram da iniciativa.
Dentre as instituições envolvidas no evento estão o Instituto João e Maria Aleixo (que agora vai passar a se chamar Instituto Maria e João Aleixo, por reivindicação das mulheres); o Observatório de Favelas, a organização Redes da Maré, a Fundação Tide Setubal, Fundação Itaú Social e a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
Na oportunidade, foi proposta a construção da Internacional das Periferias.
I Seminário Internacional Rio-Periferias: “O que é periferia, afinal, e qual seu lugar na cidade?”
A próxima atividade ocorrerá em agosto deste ano, no Rio de Janeiro ou em São Paulo, com data e local ainda por confirmar.
LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA: