Liberdade, par perfeito da arte – Por: Cidinha da Silva

 

 

Outro artista do Rap nacional está numa programação global, Slim Rimografia, no BBB14. Parcela do público que o havia elevado ao céu revolucionário quer agora sepultá-lo no umbral dos vendidos ao capital.

Talvez só o rapper Thaíde, quando participou da minissérie Antonia, não tenha sido tão policiado. Não teve a mesma sorte Edi Rock no Caldeirão do Huck e mesmo Alessandro Buzo e seu quadro semanal em jornal local do meio dia, veiculado na maior cidade da América Latina, umas das cinco maiores do mundo, São Paulo.

A Cia Capulanas de Arte Negra, cuja proposta é atuar nas periferias da cidade e oferecer arte para quem mora nesses locais, experimentou explosão de público da quebrada pós divulgação no programa do Buzo. Até então, amigos, outros artistas, fãs de diversos pontos da cidade, expectadores de outros estados levavam entre duas e três horas no transporte público para lotar cada uma das apresentações de “Sangoma”.

Depois da passagem pelo telejornal, finalmente, os moradores do bairro São Luís, cenário de muitas lutas e músicas do Racionais MCs, sentiram-se motivados a conferir quem eram aquelas mulheres que havia vários finais de semana iniciavam uma apresentação artística cantando e dançando na laje de uma casa. Naquele sábado, a Cia Capulanas, a despeito do desgaste físico e emocional de um espetáculo denso e intenso, resolveu apresentar-se pela segunda vez, para atender a dezenas de pessoas que, em sua maioria, nunca haviam ido ao teatro.

Em contraposição aos artistas criticados o público cita o escritor paulista Eduardo, autor de “A guerra não declarada na visão de um favelado”, que recusou convite para entrevista no Programa do Jô. GOG, ícone da velha escola, também é lembrado, pois desdenhou do convite da Globo para cantar em eventos da Copa no Brasil e fundamentou a negativa: “não aceito o convite, não negocio com vocês, não me procurem mais, esqueçam o meu nome. Vocês patrocinam o apartheid brasileiro. Bando de racistas!”

Eu, mirando o mundo do Rap de fora, fico imaginando as reações destemperadas, até coléricas de alguns pares, agregados e coligados ao Rap nacional, quando vier a público o primeiro CD individual de Mano Brown com repertório dançante e romântico. Panela de pressão vai perder feio para a chiadeira da geral.

Arte e liberdade são sinônimas, caminham lado a dado, aquela depende desta. Artistas precisam ser livres para criar e para fazer circular seu discurso estético e político (a política da estética escolhida), nos canais que julgarem convenientes, para atingir o público desejado. Que venha o tempo em que sejam responsabilizados por suas escolhas, no caso de serem caminhos ruins, de provocarem danos, de referendarem atitudes e discursos arbitrários, conservadores, reacionários, mas, apenas por isso, que não sejam crucificados pelas patrulhinhas de juízo de valor, dor de cotovelo ou umbigo ferido.

Dia desses, em show da Ellen Oléria no DF, uma quilombola paranaense comentava sobre uma conversa de palco entre o Oceano-Oléria e GOG. Ele teria provocado o público ao proclamar que “a revolução não será televisionada”. Ellen, visionária e anos luz à frente dos clichês, teria dito: “enquanto eu estiver por lá, será televisionada, sim!”

Quando me informam que as Meninas Black Power mandaram muito bem no programa matinal para mulheres da Fátima Bernardes, sinto cheiro do novo. Quando a Presidenta Dilma e a Ministra Luiza Bairros arrebentam no “Esquenta”, o novo sorri outra vez. Quando Ellen canta “Testando”, música de sua autoria, para coroar a premiação da segunda edição do The Voice Brasil, não tenho dúvidas, o novo está arrombando portas. Enquanto nossa gente, como Ellen, a Presidenta, a Ministra, Cia Capulanas, as Meninas Black Power, entre outras, optarem pela ocupação do espaço global, pela globalização das mensagens que querem mandar ao mundo, o novo me arrebatará, mesmo descrente de revoluções.

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