Livro de fotojornalista moçambicano Kok Nam reúne momentos inéditos de Samora Machel

Uma coleção de fotografias inéditas do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, que morreu há 32 anos num acidente de aviação, encontra-se a partir de hoje publicada em livro na África do Sul.

Do DN

Samora Machel (Fundação Mário Soares/Estúdio Kok Nam)

Da autoria de Kok Nam, a obra, intitulada “Samora Machel By Kok Nam”, reúne uma rara coleção de fotografias do primeiro Presidente da República Popular de Moçambique, que o fotojornalista moçambicano de ascendência chinesa deixou após a sua morte.

“Samora Machel teria completado 85 anos em 29 de setembro de 2018. Este livro é uma homenagem apropriada e oportuna ao homem e uma lembrança dos valores que adotou ao liderar a luta pela libertação do seu país, valores que são igualmente aplicáveis na África do Sul de hoje”, recordou a Fundação Nelson Mandela na apresentação do livro, na quinta-feira, em Joanesburgo.

Na sua intervenção, a antiga primeira dama de Moçambique, Graça Machel, afirmou que a homenagem vai além de Samora como pessoa.

“Ao lermos este livro identificamo-nos com as lutas de hoje, deste país [África do Sul] e deste continente. Trata-se de uma obra sobre os ideais que Samora representa”, disse.

“Líderes como Samora foram pioneiros [da liberdade], mas como disse Madiba [Nelson Mandela, ex-Presidente sul-africano], a História encontra-se agora nas vossas mãos para lhe darem continuidade”, adiantou Graça Machel.

Graça Machel destacou depois uma fotografia de Samora Machel e Oliver Tambo, um dos fundadores do Congresso Nacional Africano (ANC), num comício popular em Moçambique, por ocasião de um encontro convocado por Machel para discutir os ataques militares do regime sul-africano do ‘Apartheid’ contra o país vizinho.

Questionado sobre os motivos, aquele responsável do ANC disse que era devido ao “armamento sofisticado” que Moçambique possuía, ao qual, segundo Graça Machel, o chefe de Estado moçambicano respondeu que “a única arma sofisticada que Moçambique dispõe é a de ser uma sociedade antirracista”.

“Leve o tempo que levar, mas a África do Sul será livre e será uma sociedade de todas as raças e somos 35 milhões [população conjunta dos dois países na altura], de moçambicanos e sul-africanos”, afirmou Graça Machel, que lembrou as palavras do antigo líder moçambicano.

Segundo Samora Machel, “o racismo, quer seja de brancos contra negros ou de negros contra brancos, é uma das mais degradantes e humilhantes formas do sistema de exploração do homem pelo homem”, recorda a obra.

Nesta coleção, editada pelo jornalista Alves Gomes, o antigo chefe de Estado moçambicano encontra-se apenas ausente em dois momentos, o primeiro, a abrir o livro, na Praça da Independência, em Maputo, no dia do seu funeral. O segundo é a fechar a obra, quando a objetiva de Kok Nam registou, no dia 19 de outubro de 1986, o local onde o avião presidencial se despenhou no regresso a Maputo após uma reunião em Lusaka, capital da Zâmbia, dos países da “Linha da Frente”. Esta última não integra a edição em Português.

A fotografia mostra os destroços da aeronave, tendo como primeiro plano um polícia sul-africano, com uma cartucheira na mão direita e vestido com uma ‘t-shirt’ branca estampada com a frase “O terrorismo termina aqui”.

Samora Machel morreu num acidente aéreo, em 19 de outubro de 1986, há precisamente 32 anos, em circunstâncias suspeitas, em território sul-africano, num terreno montanhoso em Mbuzini, próximo das fronteiras com Moçambique e a Suazilândia.

Um total de 34 pessoas morreram no acidente. Além do chefe de Estado, membros da sua delegação e da tripulação contam-se entre as vítimas mortais.

O engenheiro de voo e nove passageiros ficaram feridos, segundo o “relatório factual do acidente de aviação de Samora Machel”, assinado em Pretória, África do Sul, em 16 de janeiro de 1987.

As investigações do acidente tiveram a participação de representantes da aviação civil de Moçambique e informação do estado do registo do avião presidencial, um Tupolev, e do estado do fabrico (na então URSS) e foram assistidas por representantes sul-africanos.

Trinta e dois anos após a sua morte, a família do antigo chefe de Estado continua a interrogar-se sobre “quem mandou matar Samora Machel”.

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