Livro sobre abolicionista Luiz Gama sai com suástica em capa e Campinas determina recolha em escolas; editora se desculpa por erro

Enviado por / FonteG1, por Fernando Pacífico

Livro foi direcionado para estudantes do ensino fundmental e o caso veio à tona após repercussão na web. Prefeitura diz que recolha começa segunda, e editora prevê substituição do material.

Um livro sobre o abolicionista Luiz Gama distribuído para estudantes do ensino fundamental II de Campinas (SP) saiu com uma impressão de suástica em azul no lado direito da capa e por isso será recolhido das escolas municipais, segundo a prefeitura. O caso veio à tona após uma vereadora da cidade repercutir o caso em rede social e protocolar um requerimento para substituição. A editora responsável admitiu erro, se desculpou e confirmou que fará a troca das edições. Veja abaixo detalhes.

A Secretaria de Educação confirmou ao g1 neste sábado (26) que o processo de recolha nas escolas começa nesta segunda-feira, mas não há informações sobre quantas obras chegaram aos estudantes. A assessoria da parlamentar diz que ela foi alertada por professores que tiveram contato com a obra.

Poeta, jornalistas e advogado, Luiz Gama é considerado um dos principais atividades pela abolição da escravidão no país e foi responsável pela libertação de pelo menos 500 escravos. Ele nasceu em 1.830, filho de uma escrava liberta com um descendente de portugueses, e foi vendido como escravo pelo próprio pai quando tinha 10 anos. Em 2021, ele foi o primeiro brasileiro negro a ser homenageado pela Universidade de São Paulo (USP) com o título Doutor Honoris Causa desde que foi criado.

“A partir desta segunda-feira, 28 de novembro, a Secretaria de Educação começa o processo de recolha do livro nas escolas. Em contato com a editora Mostarda, a Secretaria de Educação pediu a substituição deste título, que integra a coleção Black Power. A editora informou que irá trocar a capa do material didático e devolvê-lo à Secretaria sem custo para o município”, diz nota da assessoria.

O que diz a editora?

A Editora Mostarda admitiu o erro pela impressão, alegou que houve um erro no corte da imagem usada e que o problema foi em parte da produção, uma vez que, segundo a assessoria, a versão em braile não apresentou a suástica. O livro também já foi retirado das vendas. Veja abaixo a íntegra.

Em site oficial, a editora apresenta como missão o objetivo de “buscar constantemente, através da ferramenta livro, difundir e desenvolver o hábito da leitura, propondo a mudança na vida das pessoas, quebrando barreiras e preconceitos”. A coleção Black Power reúne também biografias de Martin Luther King, Rosa Parks, Nelson Mandela, Barack Obama, Carolina Maria de Jesus, Alice Walker, Angela Davis, Conceição Evaristo, Laudelina, Malcom X, e a de Dandara e Zumbi.

“A Editora Mostarda, por meio de seu diretor geral, Pedro Mezette, esclarece e se desculpa desde já pelo erro ocorrido com a imagem de fundo na capa do livro Luiz Gama, de autoria do jornalista e escritor Francisco Lima Neto. Houve um problema no recorte da estampa étnica do fundo que é vetorial. Tanto que os exemplares em braille não apresentaram este problema.

Assim que fomos alertados deste erro, retiramos os exemplares da obra do site e interrompemos imediatamente a comercialização deste título até que nova capa seja feita com o reparo necessário excluindo este símbolo. Estamos fazendo isso o mais rápido possível.

Nosso empenho em oferecer uma educação antirracista jamais permitiria uma atitude proposital deste tipo, seria uma contradição dentro da proposta da Editora Mostarda.

A partir desta segunda-feira, 28 de novembro de 2022, a Secretaria de Educação dará início ao processo de recolha dos livros das escolas para imediata substituição de cada exemplar que já tenha sido distribuído. A editora trocará a capa do material e o devolverá à Secretaria sem custo para o município. Todos os leitores que já adquiriram o livro também poderão solicitar a troca gratuita pelo site da editora.”

O que diz o autor?

Ao g1, Francisco Lima Neto afirmou que o erro na impressão não havia sido percebido desde 2021, quando a obra foi lançada na Bienal do Rio de Janeiro. Além disso, ele frisou que é preto, tem histórico profissional de atuação na causa antirracista e manifestou confiança na editora.

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