Quem me conhece sabe o quanto acho homenagens póstumas absolutamente necessárias. Mas, às vezes, fico com o gosto amargo que pode ser traduzido com aquele: “Gostaria de ter conhecido e reverenciado mais esta pessoa em vida”.
Ao mesmo tempo, penso: “Você admira alguém?” Tente fazer com que essa pessoa saiba disso agora, se possível, enquanto ainda respira. Já estou pensando com quem preciso ser ainda mais vocal sobre minha admiração.
É algo que tento reproduzir nas minhas escritas, aqui e nas redes, e no meu trabalho. É uma constante corrida contra o tempo e contra as bolhas de informação da internet e da vida. Mas, neste caso, creio ter chegado tarde.
Foi assim que me senti ao saber da morte do designer Virgil Abloh, domingo passado. Numa de suas entrevistas, ele disse: “Não fui feito para uma passarela, mas vou projetar uma passarela que crie uma mudança no sistema…”. E assim fez ao revolucionar o streetwear e a moda.
Se você não conheceu Virgil Abloh, faço questão de ressaltar um pouquinho do que sei e descobri e que já basta para que suscite minha curiosidade e respeito. Nasceu em Chicago, filho de pais com origem em Gana. Foi o primeiro designer negro à frente da direção artística da marca de luxo Louis Vuitton, cargo que assumiu em 2018. Em 2012, criou a própria grife, Off White, conhecida pelos famosos e cobiçados tênis com lacre.
Conheci Abloh navegando pela internet, sedenta por referências e passei a segui-lo. Assim como Olivier Rousteing, da Balmain, dois grandes nomes de profissionais negros jovens à frente de marcas renomadas de moda.Também de maneira tardia, descobri que Abloh e eu tivemos em comum uma passagem pela Universidade de Wisconsin-Madison.
Sua trajetória ficou marcada pela parceria com Kanye West, responsável por catapultá-lo para o mundo, suas diversas collabs com diversas grifes, o fundo que criou para bancar bolsas de estudos de jovens negros. Sua doação para o movimento #BlackLivesMatter e os ataques que recebeu após ter criticado saques feitos durante algumas manifestações.
Soube do ocorrido por meio de uma foto postada no feed de Samantha Almeida e imaginei que fôssemos celebrar mais um de seus grandes feitos. Mas estava errada. Na sequência, li a homenagem feita por Luiza Brasil dizendo que Abloh rompeu os códigos existentes, colocando a cultura de rua e do gueto como pertencentes de espaços de luxo. Depois do choque, vi cenas que me chamaram atenção: Bruno Astuto e Roque, filho da Regina Casé. O pequeno Roque dizia estar triste com a morte do estilista e mostrava camiseta e tênis criados por ele. E Bruno mostrou um vídeo de uma aparição recente, possivelmente uma das últimas publicações de Abloh.
Depois esbarrei com as demais homenagens de Pharrell Williams, Idris Elba, Victoria Beckham. Abloh, de fato, marcou diversas gerações e personalidades de diferentes estilos. Sua partida, aos 41 anos, foi um baque inesperado.
Sabendo o quanto nós, pessoas negras, somos sedentas por exemplos para nos espelharmos, sinto que, quando um de nós, que alcançou notoriedade com seus discursos, obras e presenças, morre, deixa um vácuo gigante. Não só pela saudade que as aparições físicas deixarão. Com ela, vai todo um peso de representatividade.
Foi assim com Chadwick Boseman, o eterno pantera negra. Foi assim com Abloh. Ao mesmo tempo, fica um grande legado. E é ele que passaremos adiante.
Virgil Abloh sua criatividade, pioneirismo e legado não serão esquecidos. Descanse em poder.