6 metas de Ano-Novo para homens que querem abandonar o machismo

Olha a oportunidade, parceiro! Nossa cultura dá a você, toda virada de ano, a chance de começar do zero e se tornar um cara menos machista e que ajuda este mundo a ser um tantinho menos horrível! Se tiver difícil completar os itens da sua listinha de intenções para 2018, aqui vão algumas boas ideias.

no Metropoles

1. Se ela cozinhar, lavarás a louça. Se ela lavar, cozinharás

Regra básica da boa educação: quem cozinha não lava a louça. Não tem nada a ver com ser feminazi, essa desculpa ficou datada ali em 1810, mais ou menos. E a regra vale para sua esposa, companheira, mãe, irmã ou avó. E, não, ela não “adora fazer isso”. Ninguém adora lavar a louça. Elas dizem isso porque não querem causar problema, apenas. Se seu amigo diz: “Imagine, não se preocupe em me pagar aquela dívida” – você sabe muito bem que é por educação, não é mesmo?

Se você acha isso desculpa de pouca monta, deixe de achar: mulheres trabalham o dobro de horas em tarefas domésticas, e isso está atrasando o desenvolvimento feminino de mil maneiras. Quem afirma é a ONU. Elas ficam mais estressadas, sofrem mais com doenças emocionais e têm menos disponibilidade para cargos de chefia que demandam horas extras. Explico mais sobre o tema nesta coluna. E tudo porque você não tira a bunda do sofá pra lavar a louça.

2. Se for chefe, não mais verás o ambiente de trabalho como lugar de paquera

Se você tem um cargo alto na hierarquia de sua empresa, não pode dar em cima de NENHUMA mulher com um cargo abaixo do seu. Não, nem se for gentil. Não, nem se for amor. A regra é clara: a iniciativa tem SEMPRE que partir do funcionário (ou funcionária, no caso) mais júnior.

via GIPHY

Sabe por quê? Porque a funcionária abaixo de você pode se sentir constrangida e ter medo de ser punida de alguma maneira, caso diga não. Você não é esse tipo de cara? Nunca prejudicaria alguém que não quer sair com você? Ótimo, mas ela não tem como saber disso com certeza e pode se sentir coagida. Tem um crush na estagiária ou na funcionária junior? Reza, faz macumba, acende vela e torce pra ela tomar a iniciativa. Porque você, querido, não pode fazer nada (a não ser se demitir e ser livre para tomar uma atitude).

3. Se receberes um boquete, pagarás com a mesma moeda

A estatística é triste: um em cada três homens tem nojo de fazer sexo oral. Uma das consequências: metade das brasileiras não têm orgasmos durante a relação. Gente, orgasmo devia ser considerado um direito humano! Arrisco-me a dizer que ninguém consegue viver apenas de dar prazer ao outro. Com o tempo, a mulher se sente um objeto sexual para usufruto do parceiro e o sexo se torna massacrante.

Que tal retribuir o favor mais vezes em 2018? Aliás, que tal pensar no sexo como troca entre duas pessoas que precisam sentir prazer? Sugestão para os homens mais perdidos: parem de ver os filmes pornôs mainstream. Eles são um desserviço. Dêem uma pesquisada em pornô feminista e assistam um ou dois vídeos. Mulher gosta de sexo assim. Tem muito mais clítoris e muito menos pancada no colo do útero. Ou, quem sabe, comece a perguntar para sua parceira sobre as preferências dela? Isso sim seria revolucionário.

4. Não mais julgarás as mulheres por sua conduta sexual

Linda proposta! O caráter de uma mulher, como de todo ser humano, jamais deve ser medido por sua conduta sexual. Muito menos se você fez pressão pra ela transar com você e depois quer colocar o sexo consensual na conta dela, de forma moralista: “Essa dá de primeira, não é pra casar”. E você, que quer transar de primeira também, é?

via GIPHY

Por que as regras deveriam ser diferentes para as condutas de vocês dois? Nunca ouvi uma resposta positiva que não fosse boçal, simplesmente porque não há justificativa inteligente possível para defender dois pesos e duas medidas. Mulheres, como os homens, têm desejos. A evolução nos moldou assim para o bem da espécie. E desejo não é coisa feia ou suja, é humana. Vocês podem até não combinar por partilharem valores diferentes em relação ao sexo, mas o ato é praticado por duas pessoas, ou seja, reflete a moral de ambos e não apenas de uma das partes.

5. Não interromperás mulheres em reuniões de trabalho nem explicará a elas coisas que elas já sabem

A regra básica de boa conduta em um ambiente de trabalho não machista: os homens não interrompem as mulheres enquanto elas expressam suas ideias, nem explicam a elas, com condescendência, coisas que já sabem.

A expressão mais grave desse vício social se dá quando um homem tenta ensinar para uma mulher sobre um assunto que o cara não domina, mas ela, sim. “Deixa eu te explicar como organizar essa planilha”, ele afirma, sem ser solicitado, para a profissional formada em contabilidade. “Deixa eu te ensinar como se entrevista uma pessoa”, diz, para a jornalista. Nesses casos, ele devia ter a posição humilde de calar-se e ouvir, aprender, em vez de tentar ensinar.

via GIPHY

Isso acontece porque, no fundo, ainda apostamos em estereótipos, como “mulheres são frágeis, pouco racionais, superficiais” ou “homens são mais inteligentes, sabem mais, têm mais autoridade”. Mas toda vez que alguém do sexo masculino nos rouba a voz, nos tira o papel de sujeito intelectual, de pessoa detentora de conhecimento com direito de compartilhá-lo. E faz, assim, o trabalho do machismo.

6. Não serás um canalha no Carnaval – nem no pós-Carnaval

Brasileiro pensa em Carnaval já no primeiro dia do ano, então, vamos lá: está aí seu primeiro exercício prático de como não ser um assediador. Ninguém aqui está condenando a diversão e o flerte. Longe de mim esse tipo de moralismo! Mas existem algumas nuances entre paquera e assédio que você precisa aprender como um mestre. Acho este guia excelente pra começar – e, para depois, seguir as regras no pós-Carnaval, na balada, na festinha da firma…

+ sobre o tema

Crianças criam suas próprias bonecas da Rey, personagem de “Star Wars: O Despertar da Força”

Assim como aconteceu com a Viúva Negra e Gamora, super-heroínas de “Os...

Prefeitura do Rio lança programa contra assédio em transportes públicos

A Prefeitura do Rio de Janeiro lançou hoje o...

Na Disney, Adele aparece com o filho vestido de Princesa

Quase irreconhecível, Adele caprichou no disfarce para um dia...

para lembrar

A reprodução das desigualdades de gênero e raça nos contos de fadas

O presente artigo visa trazer alguns elementos para discussão...

O PL 5069/2013 e suas distorções

Neste momento de aguda contradição entre sociedade civil e...
spot_imgspot_img

Vamos a desprincesar! Reflexões sobre o ensino de história à partir da presença de María Remedios del Valle na coleção Antiprincesas

Lançada em 2015 em meio à profusão de movimentos feministas, a coleção de livros infantis Antiprincesas da editora argentina independente Chirimbote se tornou um...

Sonia Guimarães, a primeira mulher negra doutora em Física no Brasil: ‘é tudo ainda muito branco e masculino’

Sonia Guimarães subverte alguns estereótipos de cientistas que vêm à mente. Perfis sisudos e discretos à la Albert Einstein e Nicola Tesla dão espaço...

A Justiça tem nome de mulher?

Dez anos. Uma década. Esse foi o tempo que Ana Paula Oliveira esperou para testemunhar o julgamento sobre o assassinato de seu filho, o jovem Johnatha...
-+=