Mackenzie suspende estudante de Direito que publicou vídeo dizendo que ‘negraiada vai morrer’

Apoiador de Bolsonaro também foi demitido de escritório de advocacia em que trabalhava. Em protesto na manhã desta terça, alunos pediram a expulsão dele.

Por Marina Pinhoni, do G1

Estudantes do Mackenzie protestam em São Paulo contra racismo nesta terça-feira (30) em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal/Coletivo Negro Afromack

A Universidade Presbiteriana Mackenzie suspendeu nesta terça-feira (3) o estudante do curso de direito da instituição em São Paulo que aparece em vídeo afirmando que a “negraiada vai morrer”. Ele também foi demitido do escritório de advocacia que trabalhava como estagiário (leia mais abaixo).

O vídeo, que viralizou nas redes sociais, mostra o eleitor do presidente Jair Bolsonaro (PSL) indo votar no domingo em Londrina, no Paraná. Ele afirma: “indo votar a ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo. Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho”.

Após a repercussão do caso, a faculdade afirmou que “tais opiniões e atitudes são veementemente repudiadas”. Veja a íntegra da nota divulgada no início da tarde:

“A Universidade Presbiteriana Mackenzie tomou conhecimento de vídeos produzidos por um discente, fora do ambiente da Universidade, e divulgados nas redes sociais, onde ele faz discurso incitando a violência, com ameaças, e manifestação racista.

Tais opiniões e atitudes são veementemente repudiadas por nossa Instituição que, de imediato, instaurou processo disciplinar, aplicando preventivamente a suspensão do discente das atividades acadêmicas. Iniciou, paralelamente, sindicância para apuração e aplicação das sanções cabíveis, conforme dispõe o Código de Decoro Acadêmico da Universidade.”

Por meio de nota, o Ministério Público de São Paulo informou que a Promotoria de Direitos Humanos “requisitou a instauração de inquérito policial e também representou junto à comissão de ética da OAB, para apuração da conduta do estudante”.

Protesto contra o racismo
Durante a manhã desta terça, dezenas de estudantes do Mackenzie protestaram contra o conteúdo do vídeo e pediram a expulsão do estudante, além de medidas de segurança por parte da universidade.

Segundo uma integrante do Coletivo Negro Afromack, que não quis se identificar por questões de segurança, os alunos estão muito preocupados com as declarações porque o rapaz aparece em outro vídeo com uma arma na mão.

“A gente está correndo risco de vida. A gente não pode ir para a faculdade com medo de morrer. A gente pede que ele seja expulso, porque mesmo suspenso ele poderia entrar na faculdade. Não dá para conviver com uma pessoa que fez isso. E ele não pode ser um advogado”, afirmou a estudante ao G1.

“Os próprios colegas do Direito que souberam do vídeo tomaram providências de acionar as instituições. Como tinha uma conotação racial, nós do coletivo tomamos frente do que estava acontecendo. Somos minoria da minoria dentro do Mackenzie e o que a gente pede é que os outros alunos que repudiam o ato se juntem com a gente para que isso não ocorra mais”, disse. Outro ato foi convocado para 19h desta terça.

Demissão
Ao saber do episódio, o escritório de advocacia em que o rapaz trabalhava desde julho como estagiário anunciou sua demissão.

Em sua página oficial no Facebook, a empresa publicou uma nota de repúdio na noite desta segunda-feira (29). Veja abaixo:

NOTA DE REPÚDIO

O DDSA tomou conhecimento, na tarde de hoje, de vídeo que circula nas redes sociais com declarações efetuadas por acadêmico de Direito que fazia estágio no escritório e imediatamente o desligou de seus quadros.

O escritório repudia veementemente qualquer manifestação que viole direitos e garantias estabelecidos pela Constituição Federal.

+ sobre o tema

Cacheada não, crespa

Se tem uma coisa que vem me tirando do...

Projeto reconhece injúria racial como racismo e o torna imprescritível 

O Projeto de Lei 141/21 reconhece injúria racial como...

Governo dos EUA estimula vigilância coletiva; racismo cresce

O Departamento de Segurança Interna dos EUA acaba de...

para lembrar

Família de João Pedro protesta contra decisão que absolveu policiais

Os parentes do adolescente João Pedro, morto por policiais...

Raquel Rolnik – O novo mapa dos homicídios no Brasil

Estatísticas indicam: violência recuou sensivelmente em SP e RJ,...

Serena aprova atitude de Daniel Alves em prol do combate ao racismo

  Norte-americana elogiou comportamento do jogador do Barcelona,...
spot_imgspot_img

Depois da democracia racial cai também o mito do racismo reverso

A decisão do Tribunal de Justiça de que o racismo reverso não existe é um marco na luta contra a discriminação racial no Brasil....

Trabalho indecente

A quantidade de gente que se encontra em condições análogas à escravidão ou submetida a trabalho forçado no Brasil é (além de um escândalo) evidência de...

Chacina na Bahia faz 10 anos como símbolo de fracasso do PT em segurança

A chacina do Cabula, que matou 12 jovens negros com 88 disparos em Salvador, completou dez anos na semana passada sendo um símbolo do...
-+=