O condomínio em que o humorista Eddy Júnior foi alvo de xingamentos racistas por parte de uma vizinha na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, recebeu na noite desta quinta-feira (20) de um protesto de movimentos negros.
No protesto, os manifestantes exibiram cartazes contra o racismo e em defesa do humorista, que publicou nas redes sociais os ataques sofridos pela aposentada Elisabeth Morrone.
O ato teve a participação de personalidades como Astrid Fontenelle e o comediante Paulo Vieira.
Advogado nega ‘qualquer tipo de preconceito’
O advogado da aposentada Elisabeth Morrone, que é acusada pelo músico e humorista Eddy Junior, de 28 anos, de racismo, nega “qualquer tipo de preconceito” relacionado ao artista.
Em nota, Fermison Guzman Moreira Heredia, reponsável pela defesa de Elisabeth Morrone, afirma que sua cliente é inocente e isso “restará provado perante o Poder Judiciário”.
O humorista prestou depoimento na noite de quarta-feira (19), na Delegacia de Crimes Raciais (Decradi).
“As desavenças com seu vizinho Eddy Jr. ocorrem há aproximadamente 1 ano e jamais tiveram relação com racismo ou qualquer tipo de preconceito. O Sr. Eddy Jr. costumava fazer frequentes barulhos para perturbar o sossego da Sra. Elisabeth, inclusive foi multado diversas vezes por esse motivo. Faz constantes festas com som alto e há farta documentação a esse respeito. Inclusive, é importante destacar que o episódio do dia 18/10 ocorreu por volta das 3 horas da manhã, sendo que a Sra. Elisabeth, que é idosa e tem um filho especial, estava de roupão (ou seja, foi acordada), e reagiu após constantes e injustas provocações feitas pelo Sr. Eddy, que vestia roupas normais e passeava com seu animal de estimação em plena madrugada. Inclusive, a Sra. Elisabeth se recusou a ingressar no mesmo elevador que o Sr. Eddy em razão de todas as desavenças narradas (apenas por isso) e, diante disso, foi perseguida pelas escadarias do prédio. Por fim, urge ressaltar que o vídeo divulgado para incriminar a Sr. Elisabeth foi completamente editado, inclusive, para dar a impressão de falas racistas que jamais foram proferidas, o que restará comprovado no momento oportuno.”
Eddy Junior deixou o condomínio depois de publicar imagens das agressões verbais sofridas na madrugada de terça-feira (18) por parte de Elisabeth Morrone. As imagens mostram a aposentada o chamando de “macaco, imundo, feio, urubu e neguinho perigoso”.
O humorista narrou à TV Globo que vinha recebendo ameaças da mulher e do filho dela desde abril. No início de setembro, os dois foram até a porta do apartamento dele com duas facas e uma garrafa de vinho para fazer ameaças de morte contra ele.
Por causa da agressão de terça (18), o rapaz foi orientado pela advogada a deixar o condomínio e está vivendo em um hotel.
Ao chegar à Decradi para registrar a queixa contra a agressora nesta quarta (20), a advogada do rapaz, Carolina Novaes, declarou que o cliente dela gravou as agressões sofridas como último recurso para chamar a atenção da autoridades para os ataques de Elisabeth Morrone.
Protesto de moradores
Eddy Junior denunciou na noite de terça (18), pelas redes sociais, que foi vítima do ataque racista. No dia seguinte, um grupo de moradores fez um protesto pedindo a saída da agressora e da família dela do edifício.
Uma câmera de segurança flagrou Elisabeth Morrone com uma garrafa e o filho na porta do humorista fazendo ameaças com uma faca em punho. Eddy saiu de casa, por segurança, e está hospedado em um hotel.
Relatos de outros vizinhos contra a aposentada
Uma das vizinhas de Eddy Jr., Janaína Tozzi, contou à TV Globo que há relatos no prédio de que o filho da agressora, que aparece com a faca ameaçando o humorista de morte, tem feito também ameaças a crianças do edifício.
“Já ouvi falar [aqui no prédio] que o filho dela ameaça as crianças, acua as crianças porque não gosta delas. Ele amedronta as crianças. São relatos de antes de o Eddy vir morar aqui. O Eddy mora sozinho com uma cachorra e a cachorra dele nem late. Eu e os meus filhos incomodamos mais ele do que ele a gente”, disse a empresária.
Por ser vizinha de porta, Janaína disse que testemunhou a maioria das agressões de Elisabeth Morrone contra o humorista e afirmou que se trata de um caso de “puro racismo”.
“Todos os fatos eu presenciei. Só não esse último, porque eu estava hospitalizada, quando ela chamou ele de macaco. Dói na minha pele branca ouvir isso. Vocês não podem se acostumar com isso, gente. Isso não é normal. É racismo puro”, afirmou ela emocionada.
O que diz o condomínio
O advogado do Condomínio United Home & Work, Diego Basse, afirmou que a agressora será multada em dez vezes o valor do condomínio mensal do prédio. Ele também declarou que na época do episódio da faca, em setembro, Morrone foi multada pelas ameaças ao humorista.
“O Código Civil prevê no artigo 1.337 que o condômino antissocial que cometer atos reiterados de incompatibilidade de convivência social poderá ser multado sumariamente. Nós já estamos aplicando essa multa, e uma assembleia extraordinária será convocada para ratificar essa multa e deliberar sobre outras providências”, afirmou.
“O valor do condomínio é de R$ 700 a R$ 800 por unidade. Então, nós vamos ter uma penalidade ali de aproximadamente R$ 7 mil a R$ 8 mil”, completou.
Diego Basse também afirmou que o condomínio vai sugerir na assembleia uma medida judicial de abstenção de novos atos e agressões por parte de Elisabeth Morrone. Caso as agressões voltem a acontecer, a medida judicial pode evoluir para a expulsão dela do edifício.
Ataque racista
No Instagram, Eddy Junior afirmou ter sido xingado de “macaco, imundo, feio, urubu e neguinho perigoso” ao tentar usar o elevador do prédio com a vizinha e a cachorra dele, na madrugada do mesmo dia.
Nas imagens, a mulher aparece discutindo com o humorista e se nega a subir no mesmo elevador que o jovem.
“Cai fora. Não quero ficar com ele. Não vou [subir com ele]. Não quero”, afirma a mulher, que é apartada por um funcionário do prédio.
Na sequência do vídeo, ela dispara várias ofensas contra o rapaz como “imundo”, “cai fora, macaco”, “cai fora, bandido”, “cagão, bundão”.
As agressões foram postadas nas redes sociais do humorista, onde ele tem mais de 1,2 milhão de seguidores, e mostram a mulher proferindo várias ofensas contra o rapaz.
“Era 2h da manhã, desci com a minha cachorra para ela fazer as necessidades. Na hora que eu ia subir, encontrei com essa vizinha. Foi uma coincidência muito grande. Eu ia entrar no elevador, e ela disse que não ia entrar no mesmo elevador que eu. Eu poderia usar o elevador do lado, mas não sou obrigado a mudar de lugar só porque uma mulher racista não quer que eu use o mesmo elevador que ela”, disse o humorista ao SP2, da TV Globo.
“Antes de eu começar a gravar, ela falou várias coisas. Ela falou várias vezes: ‘Como você tem dinheiro para morar aqui?’, ‘Não sou obrigada a morar no mesmo lugar com esse tipo de gente igual você’.”
Ameaças de morte
O sistema de monitoramento do prédio onde mora o humorista registrou ao menos duas ocasiões em que a aposentada e um filho dela estiveram na porta do apartamento dele com uma faca e uma garrafa.
As imagens, que foram obtidas pelo g1, são dos dias 1º e 7 de setembro, conforme os registros do prédio, localizado na Barra Funda.
O humorista contou que é alvo de reclamações da vizinha por barulho em seu apartamento na madrugada, em horários que, segundo ele, estava dormindo ou até fora de casa. Leia mais abaixo sobre as reclamações.
Em 1º de setembro, por volta das 3h50 da madrugada, o filho da vizinha aparece com uma faca em frente ao apartamento de Eddy. Ele chega a brincar com o objeto, a apontar para a porta e a batê-lo na parede.
O homem vai embora após cerca de 1 minuto. Os funcionários do prédio chegam ao andar por volta das 3h55 e conversam com Eddy, que mostra imagens no celular.
Uma semana depois, novamente durante a madrugada, às 3h03, mãe e filho aparecem nas imagens do quinto andar aparentemente alterados. Os dois permanecem por cerca de 1 minuto, saem e retornam às 3h08. O registro mostra o homem com uma faca presa na bermuda. Eles vão embora em poucos segundos.
Às 3h11, um funcionário do prédio surge, faz anotações e sai. Novamente, por volta das 3h28, a mãe surge com uma garrafa, e o rapaz, com a faca. Os gritos continuam por mais 1 minuto.
Filho interditado
Em um processo já extinto que foi movido pela mulher contra o condomínio e o humorista, ela afirmou que se mudou para o imóvel em junho de 2019 com o filho, que, segundo ela, tem deficiência intelectual leve diagnosticada por um perito.
Uma certidão da Justiça de 2018 confirma a interdição do filho dela por deficiência intelectual leve e a mãe dele como responsável. O caso transitou em julgado em 2014.
“É, sob o ponto de vista médico legal, absolutamente incapaz, no momento, de reger sua vida e administrar seus bens e interesses. No momento, essa somatória o torna absolutamente incapaz”, apontou um documento de 2007 anexado pela mãe na Justiça.