Maracatu se prepara para a folia após recuperar calunga perdida por 30 anos

‘Dona Júlia’ vai desfilar com a Nação Porto Rico, do Recife, durante carnaval.
Bonecas são tidas como divindades que protegem integrantes do maracatu.

As influências africanas que fazem parte da história brasileira permanecem vivas e em constante mutação no carnaval do Recife. O desfile dos maracatus é uma das amostras da revitalização das tradições negras, que tem nas calungas – as bonecas de vestidos trabalhados – o símbolo da proteção. No bairro do Pina, Zona Sul do Recife, os preparativos do Maracatu Porto Rico estão a todo vapor com a volta de Dona Júlia ao carnaval, calunga que ficou desaparecida por 30 anos.

A boneca havia sido levada, no final da década de 1970, para um museu na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e ficou perdida alguns anos depois, segundo os integrantes do maracatu. Tempos depois, foi deixada no terreiro Xambá, em Olinda, mas ninguém sabia a qual nação ela pertencia. Feita na década de 1960, Dona Júlia representa uma homenagem a Dona Santa, rainha do Maracatu Elefante, um dos mais famosos do estado.

Dona Júlia retornou para os seus seguidores no fim de janeiro deste ano, quando passou por um ritual de purificação com banho de água, ervas e defumadores. O vestido usado pela calunga também foi substituído por um tecido branco até que a nova roupa fosse confeccionada. Esse vestido será o traje para Dona Júlia desfilar com o Maracatu Porto Rico no domingo de Carnaval e na Noite dos Tambores Silenciosos, que acontece na terça-feira da folia de Momo, no Pátio do Terço, bairro de São José, área central do Recife

A tradição de reverenciar as calungas tem cerca de 300 anos e foi trazida pelos escravos que entalhavam as bonecas na madeira para simbolizar os antepassados e orixás do candomblé. Elas são tidas como divindades que protegem os integrantes do maracatu.
As divindades podem, inclusive, atingir medidas inesperadas, como é o caso do Homem da Meia-Noite. Como aponta o presidente do Clube de Alegoria e Crítica, Luiz Adolpho, o homem mais famoso do carnaval de Olinda é um calunga. “Ele nasceu no dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, então ele é considerado uma figura mística do candomblé, daí a denominação de calunga”, aponta.

Com vestidos brancos, as calungas ficam em um local reservado no terreiro de candomblé. Enquanto o carnaval não chega, elas passam por uma cerimônia religiosa de purificação. “A gente não sai sem a calunga. Não seria maracatu se não saísse com a calunga”, conta a Yalorixá e Rainha do Maracatu, Elda Viana.

Dona Júlia, Bela, Inês e Elizabete são os nomes das calungas do Maracatu Porto Rico do Recife, um dos mais antigos do estado. As mais antigas são guardadas como relíquias, como a Dona Joventina, que é considerada a Rainha das Calungas.

Com cabelos naturais, coroa e cetro, a boneca centenária é objeto de adoração de incontáveis gerações. “À exata semelhança que os católicos fazem nos seus santos de devoção, as pessoas se ajoelhavam e faziam pedidos a essas, que são ditas na linguagem popular, bonecas ou calungas. Elas eram divindades”, afirma a antropóloga Ciema Melo.

Fonte: G1

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