A 18ª Marcha da Consciência Negra reuniu milhares de pessoas nas ruas de São Paulo para denunciar o racismo e o genocídio do povo negro. Também foi celebrada a ancestralidade e as diversas formas de resistências por meio da religiosidade e da cultura negra.
Os manifestantes também pediram pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), denunciaram contra o racismo no sistema judiciário e pediram justiça por Cláudia Silva Ferreira, assassinada em operação da Polícia Militar do Rio de Janeiro no Morro da Congonha, em 2014, e Luana Barbosa dos Reis, que foi assassinada pela Polícia Militar na cidade de Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo, em 2016.
Por volta das 17h50, os participantes saíram em caminhada com destino às escadarias do Theatro Municipal, no centro da cidade. Em 7 de julho de 1978, ali nascia o Movimento Negro Unificado (MNU), ação histórica que lutou contra o racismo na sociedade brasileira.
Durante o trajeto, a manifestação parou em frente a unidade do Carrefour para protestar contra a empresa um ano após a morte de João Alberto, que foi assassinado brutalmente aos 40 anos de idade em uma das lojas do supermercado em Porto Alegre.
O Grupo Carrefour pagará R$ 115 milhões de indenização para sanar os danos causados pelo racismo. Essa se tornou a maior indenização civil pública da América Latina, sendo que o dinheiro também será destinado a ações nas áreas de educação, empreendedorismo e em projetos socioculturais que promovam a equidade
Os 50 anos do Dia da Consciência Negra e sua importância
Neste ano, o Dia da Consciência Negra completou 50 anos. Diante de tantas reivindicações, também é preciso lembrar que a data do 20 de novembro, representa um marco na história recente do movimento negro brasileiro.
Em 1971, o ativista e poeta Oliveira Silveira, em parceria com seus companheiros e companheiras do Grupo Palmares, impulsionam a data de aniversário da morte do líder Zumbi dos Palmares, como símbolo da luta afro-brasileira.
“Falar dessa importância, é falar do quanto a nossa organização é fundamental. A nossa vida não é negociável e não existe diálogo com quem quer nos matar”, diz Elaine Mineiro, vereadora eleita na Mandata Quilombo Periférico (PSOL-SP).
Nas últimas cinco décadas, o 20 de novembro também aponta as desigualdades ainda presentes em nossa sociedade e como elas afetam diretamente pretos e pardos: “Estamos aqui para denunciar que ainda não conseguimos romper com o racismo estrutural que existe no país. Aonde nosso povo foi jogado a margem da sociedade e aonde o índice de violência e toda essa tragédia com a população negra é fruto do processo da escravidão a qual o país passou”, afirma a liderança quilombola Denildo Rodrigues de Moraes, conhecido popularmente como Biko.
A população negra permanece sendo uma das mais vulneráveis a violência no país. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública deste ano, o índice de mortalidade entre pessoas brancas e amarelas é de 11 pessoas em um grupo de 100 mil, enquanto entre pessoas negras o índice sobe para 29 pessoas em um grupo de 100 mil.
O estudo ainda aponta que a população negra concentra uma série de outros graves indicadores, como os piores índices de evasão escolar, inserção formal no mercado de trabalho e as mulheres negras possuem o índice de salário mais baixo no mercado de trabalho.
“A experiência da colonização e da escravização do povo negro trouxe consequências graves e que organizam a sociedade brasileira. O dia em que o Brasil construir a garantia dos direitos fundamentais da população negra e quilombola, o direito da ampla maioria da sociedade brasileira vai estar garantindo”, conclui Adriana Moreira, professora e membro da Uneafro Brasil, entidade que integra a Aliança Nacional das Organizações do Movimento Negro.
Isabela Alves
Formada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduanda no Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo