Maria Firmina dos Reis sofreu muito preconceito, mas foi a primeira romancista brasileira

Este ano, comemoram-se 190 anos de nascimento da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, apontada como a primeira romancista brasileira.

Por  Nicole Ayres Luz Do Homo Literatus

Durante muito tempo, sua produção foi ignorada em detrimento de escritoras como a potiguar Nísia Floresta (1810-1885), nome importante na luta feminista, e a paulista Teresa Margarida da Silva e Orta (1711-1793), considerada a primeira mulher a escrever ficção no Brasil, fato contestável porque ela viveu a maior parte de sua vida em Portugal. Firmina é pioneira, porém, por ter conseguido publicar seus romances autonomamente, não sem esforço, além de atuar no magistério, tendo sido responsável inclusive pela inauguração de uma escola mista e gratuita no Maranhão, o que causou grande polêmica na época.

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Maria Firmina nasceu em São Luís, em 1825. Mulata, bastarda e pobre, sofreu muito preconceito, contra o qual lutou bravamente, provando seu valor no campo intelectual. Era prima do escritor e educador Sotero dos Reis, de quem recebeu apoio. Ela foi aprovada em concurso público para professora primária, na cidade de Guimarães, e denunciou as injustiças ocorridas no campo da educação, de difícil acesso no século XIX.

Seu romance mais famoso é Úrsula, publicado em 1859. De temática abolicionista, a obra retrata os horrores da escravidão e desenvolve as camadas psicológicas dos personagens negros, de grande importância no enredo, apesar de ter no plano principal o amor impossível entre dois personagens brancos. Em outro romance, Gupeva, de 1870, a autora aborda o indianismo: um chefe indígena se apaixona por uma moça vinda da Europa, sem saber que se trata de sua meia-irmã. São histórias bem novelescas, com um pano de fundo que retrata a sociedade de maneira ferrenha.

Firmina também foi contista, poetisa, charadista e compositora de música. Escreveu artigos críticos para jornais locais, compôs o Hino à Libertação dos Escravos e o conto A Escrava, aderente aos ideais antiescravistas e republicanos. Mãe adotiva de dez crianças, solteira toda a vida, morreu pobre, cega e esquecida em sua casa, em Guimarães, 1917. Felizmente, alguns autores e pesquisadores da atualidade resgataram sua importância, comentando sua vida e obra. Tanta ousadia não poderia ter sido em vão.

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