Máscaras masculinas de Ọrọ Ęfę – Gelede

As máscaras masculinas e seus portadores, que cantam, são fundamentais na cerimônia de Ęfę , não somente porque suas cantigas contêm e transmitem força, mas também pelo fato de serem visualmente realçadas por ricas máscaras e trajes. Tais máscaras…

(…) transmitem imagens masculinas de poder físico e espiritual, de status e de liderança sagrada. Através delas, dos trajes e dos movimentos, elas também refletem a influência histórica e cultural do Islã. Menos óbvias, mas sempre presentes, são as referências oblíquas às mães onipotentes.

(…) Apesar das variações quanto à forma e iconografia desses mascarados masculinos que cantam, certos temas recorrem em quase todos eles. Um dos temas mais dominantes é a masculinidade, que se expressa numa ação abertamente agressiva, força física e coragem, projetada nas persistentes imagens de caçadores, guerreiros e referências a Ogum: barbas, espingardas, facas, facões, amuletos, folhas de palmeira e tornozeleiras de ferro com chocalhos. A cor vermelha, principalmente na área de Ketu onde se manifesta o Ọrọ Ęfę, conota calor, agressividade masculina e reforça os temas guerreiro/Ogum. Além disto, há referências à liderança sagrada dos reis, chefes e sacerdotes: padrões entrelaçados, leopardos, véus de miçangas, conchas, remédios, guarda-sóis e espanta-moscas. Tais signos de autoridade se unem à amplitude de seu traje, seus movimentos dignificados e as cantigas que se referem a seu status elevado e que proclamam Ọrọ Ęfę o monarca da noite.

Porém, tal como acontece com os monarcas iorubá, Ọrọ Ęfę manda unicamente com o consentimento das mães, cuja onipresença é reconhecida visualmente de inúmeras maneiras. Uma delas é o emprego da cor branca, não apenas por seu dramático efeito visual em um rito noturno, mas também devido a suas conotações simbólicas.(…) o branco relaciona simbolicamente o dançarino às divindades “brancas” (orișa funfun), dissimuladas e contidas em suas posturas. Trata-se basicamente das divindades femininas, de suas sacerdotisas e das mulheres espiritualmente poderosas, “os deuses da sociedade”, das quais Ọrọ Ęfę é o porta-voz. Esses mascarados que cantam equilibram assim a quentura e o vermelho do calor, a ação dos guerreiros e de Ogum com a abordagem paciente, calma e velada das mães. Os cantores invocam o apoio e a orientação delas, ao mesmo tempo em que condenam ou elogiam as ações dos “filhos” das mães.

(…) Uma referência mais direta às poderosas mães ocorre na imagem dos pássaros ou de outras coisas que voam, tais como os aeroplanos, além de outras criaturas noturnas.

(…) A aparição da máscara da mãe e seu porta-voz, Ọrọ Ęfę , simboliza os contrastes entre o poder feminino e masculino. As mães sancionam Ọrọ Ęfę para que ele faça comentários sobre a sociedade; suas palavras produzem um efeito. Este relacionamento entre o poder feminino e o poder masculino tem um paralelismo com mulheres e homens espiritualmente poderosos na sociedade iorubá, conhecidos respectivamente como aję e oșó. Os iorubás afirmam que as mães (aję) concebem um plano e que sua contrapartida masculina (oșó) o executa. Semelhante conceito de poder, isto é, mulheres como iniciadoras ocultas de um plano e homens como agentes, aplica-se não apenas ao espetáculo de Ęfę, mas também a Gęlędę, no qual os homens são os mascarados, mas as mulheres mais velhas constituem a fonte de seu poder.

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