MC Carol denuncia a violência policial e critica a Lava Jato em música; ouça

‘Delação premiada de pobre é tortura’ denuncia MC Carol

Em setembro passado, duas centenas de pessoas do Morro do Preventório queimaram três ônibus em Niterói. Pranteavam o conterrâneo Felipe de Oliveira Pinna, então com 25 anos, baleado por fuzil em uma operação da Polícia Militar na comunidade. Segundo familiares, ele voltava de consulta médica.

YouTube video

PorMARIA CLARA MOREIRA, da Folha de S. Paulo 

Indignação semelhante à dos manifestantes move a música de Carolina de Oliveira Lourenço, a MC Carol. Criada no Preventório, a funkeira conquistou dos bailes na favela às baladinhas universitárias com o feminismo de “Meu Namorado é o Maior Otário” e a denúncia do genocídio dos povos indígenas de “Não Foi Cabral”.

Mantendo a verve crítica, a MC se debruçou sobre uma realidade que vê de perto em sua nova faixa, “Delação Premiada”.

“É um funk proibidão, mas demos uma camuflada, porque eu não quero ser tachada como cantora de proibidão —quando os policiais pegam esses funkeiros, agridem, levam preso, às vezes matam”, afirma Carol em entrevista à Folha.

Sobre uma batida de trap funk, ela dispara versos sobre casos de violência e abuso de poder por parte de policiais —”É negro e favelado/ Então tava de pistola”— e relembra casos que comoveram a opinião pública, como o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, levado a uma Unidade de Polícia Pacificadora em 2013 e nunca mais visto.

“O funk é uma libertação, uma forma do favelado se comunicar e mostrar o que acontece dentro da comunidade para as pessoas que não sabem. Quero contar coisas que acontecem lá todos os dias: um morador inocente que é morto, uma criança que leva uma bala na cabeça. Não são todos os casos que vão parar na televisão”, diz a cantora.

LAVA JATO

O título da faixa é uma reprimenda à diferença de tratamento policial entre infratores da favela e criminosos de colarinho branco, em especial os investigados pela Operação Lava Jato.

“Você vê esses bandidos ricos [investigados da Lava Jato], eles muitas vezes nem são algemados, só colocam a mão para trás para entrar na viatura”, critica. “Para o favelado abrir a boca, é choque e porrada. O rico, se falar a verdade, ganha recompensa. Delação premiada de pobre é tortura.”

A funkeira também faz coro às críticas do afastamento da presidente Dilma Rousseff do cargo.

“O Brasil é um país corrupto desde a chegada de Cabral. Quem entra na Presidência, mesmo que seja honesto, não tem força para mudar nada de verdade. Eu espero que a Dilma volte. É a menos pior [da classe política].”

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...