A polícia matou um negro

Em uma manifestação contra a morte de um cidadão negro nos EUA, após abordagem policial, um sujeito negro com conhecimento técnico, e dispondo do armamento correto, disparou do alto de um prédio contra policiais brancos, matando cinco deles e ferindo vários outros. Alegou que foi em retaliação. Refugiado em uma garagem, o atirador resistiu por horas, ignorando os apelos dos negociadores da polícia para se entregar. Acabou morto por uma bomba colocada por um robô. As reclamações contra o uso deste procedimento de nada adiantou. O chefe da polícia local assumiu que deu sua autorização, chamando para si toda a responsabilidade. Importante frisar que este chefe de polícia é negro, e que seu filho foi também morto em confronto com policiais no passado.

Por Aurílio Nascimento, do Extra 

Sabemos que a questão racial nos EUA, principalmente em relação às abordagens de negros por policiais brancos, é explosiva. Vez por outra, um grave incidente com morte, é o resultado.

No desdobramento, o presidente da nação, um negro, juntamente com um ex-presidente branco, George Bush, comparecem a uma homenagem aos policiais mortos. O primeiro do Partido Democrata, o outro, republicano. O equilíbrio nos discursos é pautado pelo respeito aos policiais vitimados.

Se tal fato tivesse ocorrido abaixo do Equador, no maior país da América do Sul, como se desenvolveriam os acontecimentos?

O chefe da polícia seria destituído; todos os policiais que participaram da operação para neutralizar o atirador estariam presos. O robô que levou a bomba seria destruído em praça pública. A senadora Benedita da Silva faria um acirrado discurso no Senado, exigiria punição para os policiais. Uma famosa ONG internacional iria rever seu relatório: em vez de oito mil mortes pela polícia, seria oito mil e um. Os deputados Marcelo Freixo, Jean Wilis e Jandira Feghali fariam uma visita à família do atirador morto.

O governador do estado iria declarar que a família vai receber uma indenização pela morte de seu ente querido. A viúva iria ganhar uma pensão vitalícia. O filho do atirador iria arriscar uma carreira na televisão. ONGs exigiriam que todos os amigos bem como os familiares do atirador fossem colocados em um programa de proteção, tudo pago pelo governo. Várias passeatas seriam realizadas em Copacabana, pedindo justiça. A polícia enterraria seus cinco mortos, como, aliás, o faz todos os dias. As famílias dos policiais mortos seriam ignoradas pelo PT, pelo PSOL, já que seus parlamentares estão ocupados nas passeatas em Copacabana. As viúvas e os filhos dos policiais assassinados que se virassem. Os ológos especialistas em segurança diriam novamente que morrer assassinado faz parte da rotina policial. Repetindo a frase de um ológo alienígena. Lula reafirmaria o “nós e eles”, reforçando a ruptura social.

Notaram a imensa diferença? E qual seria a explicação? Simples! Lá na grande potência, cumpre-se a lei, embora isto possa resultar em morte. Preconceito é um problema cultural, e sob este ângulo deve ser corrigido. Discursando no velório dos policiais, o presidente Barack Obama afirmou: “a esmagadora maioria dos policiais faz um trabalho incrivelmente difícil e perigoso” O ex-presidente Bush por sua vez, afirmou: “às vezes as forças que dividem são mais fortes que as forças que unem”.

É esta diferença de atitudes que explica em parte a rotina de guerra na qual vivemos.

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