‘Me sinto um lixo, invisibilizada’, diz estudante que denuncia fraude em cotas na Ufba

Irregularidade teria ocorrido no processo seletivo dos estudantes do BI para o curso de Medicina

“Eu me sinto um lixo, invisibilizada, negligenciada.” As palavras são da estudante que denunciou, nessa terça-feira (4), uma suposta fraude no sistema de cotas no acesso de alunos egressos do Bacharelado Interdisciplinar (BI) ao curso de Medicina, do campus de Vitória da Conquista, da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

A estudante, que não quis ser identificada, alega, em denúncia protocolada na ouvidoria da universidade, que a fraude ocorreu na categoria de cotas A, que é destinada a candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas, que, independentemente da renda, tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas.

No texto, ao qual o CORREIO teve acesso, ela diz que as alunas aprovadas nas duas vagas reservadas para a cota não teriam direito ao benefício. A alegação é que as estudantes selecionadas não preenchem os requisitos para serem incluídas na reserva de vagas, pois seriam “fenotipica e socialmente brancas”, como diz o texto.

A denunciante explica que, segundo regulamento da Ufba, para concorrer aos chamados cursos de progressão linear (CPL), após concluir o bacharelado, o aluno deve se manter no mesmo tipo de vaga utilizada para ingressar na instituição de ensino.

“Já sendo questionável o fato desta Universidade ter permitido a matrícula das alunas, ocupando vagas as quais não lhe são de direito, uma vez que não possuem o requisito mínimo e óbvio de ser pessoa negra ou indígena, torna-se inaceitável agora que tais injustiças permaneçam acontecendo com a conivência desta Instituição”, diz a denúncia.

Lesada
Uma das seis pessoas que escolheu o curso de Medicina em Vitória da Conquista como primeira opção para o processo seletivo, a estudante resolveu denunciar logo que tomou conhecimento do resultado.

Me sinto lesada, eu sei que são duas pessoas que não sabem e nem conseguem perceber a gravidade que é fazer o que elas fazem. Eu queria que alguém perguntasse a elas o que é ser preta pobre e periférica, para ver se elas sabem. E elas não são as únicas, tem vários como elas, que dormem tranquilos, achando que isso é certo. Eles esfregam na nossa cara que eles têm tudo que querem, porque pra eles querer é poder, e mesmo quando a gente pode a gente não consegue”, diz a jovem de 25 anos, que ingressou no BI em 2017.

Aprovada para sua segunda opção de curso, o curso de Odontologia, a estudante diz que não pretende cursar e que vai seguir buscando a vaga. “Não tenho a menor pretensão de fazer, nem cursei matéria de Odontologia, não foi pra isso que eu estudei. Esse não é um sonho só meu. É o sonho dos meus ancestrais, teve gente que morreu, uma faculdade bicentenária, quem construiu aquele prédio? Não é só por mim é por todo mundo que é igual a mim e que tem historicamente as vagas roubadas”, declara ela.

A estudante conta, ainda, que não sabe qual sua colocação na disputa pelas duas vagas a que concorreu, mas que o sonho de ser médica motivuou que fizesse a denúncia. “O relatório não deixa claro nossa posição entre os alunos que concorrem a uma determinada cota, diz apenas a classificação geral. Mas se há reservas de vaga é para garantir que pessoas negras ocupem esses espaço, e alguns de nós ocupam essas vagas para fazer pelos que vão sucedê-los, para que mulheres pretas possam ser tocadas no SUS, para que a consulta dure mais do que cinco minutos, para que alguém preto, quando visto em um hospital, não seja confundido”, protesta.

A Ufba informou que se pronunciará nesta quarta-feira (5). O CORREIO procurou as duas alunas alvos da denúncia e apenas uma delas retornou ao contato, mas disse que prefere não se pronunciar.

* Com orientação da editora Mariana Rios

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